Itajara, um fenômeno nas pistas e na mídia 18/05/2020 - 12h29min
No final da década de 80, na raia do hipódromo da Gávea, apareceu um cavalo de corrida extraordinário. Dono de poderio locomotor incomum, Itajara, que na língua tupi guarani significa, "o senhor da pedra", escreveu uma das belas páginas do turfe nacional. Hoje, mais de 30 anos depois, as façanhas desse ilustre corredor da familia Paula Machado ainda povoam a memória daqueles que tiveram o privilegio de vê–lo correr. A tradicional farda ouro, com costuras azuis e boné ouro, do haras São José Expedictus, ainda reluz intensamente na mente dos turfistas daquela época.
Itajara estreou com vitória de rara facilidade em uma pista de areia encharcada no percurso de 1100 metros. Havia grande expectativa do público, pois os seus treinos matinais foram destacados pelos famosos cronometristas daquele tempo, Oscar Griffthif, no Jornal O Globo e Gil Muniz Viana, no Última Hora. Itajara deu um vareio. O saudoso locutor e jornalista, Marco Aurélio Ribeiro, eufórico, entrou na redação do Jornal do Brasil e gritou para mim: "Paulo Gama, eu vi um supercraque estrear hoje! O nome dele é Itajara!".
Marco Aurélio estava certo. Depois da estreia, Itajara enfileirou sete vitórias consecutivas. O craque encantou o público turfista, enfeitiçou os fãs do esporte e arrastou multidões ao prado carioca. Itajara divulgou o turfe na mídia, como jamais tinha acontecido antes. Os seus sucessos eram exibidos aos domingos, na Tv Globo, no programa Fantástico, na voz do saudoso Ernani Pires Ferreira. Depois das três primeiras vitórias, todas em páreos de turma, Itajara levantou quatro provas de grupo 1, os GPs Estado do Rio de Janeiro, Taça de Ouro, Cruzeiro do Sul (Derby) e o Jockey Club Brasileiro. Foi então tríplice coroado, diante de um público extasiado, que superlotou o hipódromo da Gávea, eufóricos com a sua incrível capacidade de correr.
Itajara era treinado por Francisco Saraiva e foi conduzido por José Ferreira dos Reis, o "Reizinho", em todas as suas sete vitórias. Ele mais parecia uma força da natureza. Acelerava em velocidade espetacular e os seus adversários davam a nítida impressão de estar paralisados na raia. O público era seduzido, os fãs também. A multidão aplaudia de pé as suas apoteóticas exibições. Vítima de grave contusão no tendão, Itajara não pode correr o GP Brasil. De forma prematura ele se despediu invicto das pistas e foi levado a reprodução. Um craque inesquecível, eleito o melhor puro sangue brasileiro de todos os tempos, em enquete realizada pelo Jornal O Globo.
Enfim, uma lenda do turfe.
por Paulo Gama |