Como comprar um futuro campeão (*)
Como se escolhe um potro para comprar? Basta só ter filiação das melhores? Muitas dessas perguntas eu tenho ouvido de gente que pretende escolher seus animais. Vamos tentar ajudá–los, por etapas.
Primeiro, é preciso ter sorte. Quem olha e escolhe um animal perfeito nunca sabe realmente o que há dentro dele. Cada animal é uma única máquina, com seu motor. E ninguém sabe que motor está dentro de um potro, a não ser depois dos exercícios e das primeiras apresentações.
Quantas vezes, animais lindos, grandes e perfeitos não correm nada? Aliás, dificilmente um cavalo muito grande é bom corredor. Alguns são até velozes, mas deslocar toda aquela massa de 500 quilos faz com que ele canse primeiro. Aí está uma dica: não escolher cavalos muito grandes. Além do mais, seus joelhos não resistem a mais de uma ou duas temporadas.
Para mim, o peso ideal deve ser procurado entre 420 quilos e 470 quilos. Contrariando essa teoria, o cavalo do século, criado pelo Frederico Tesio, mal passava dos 400 quilos.
Meu velho e saudoso amigo Atahualpa Soares escreveu para minha antiga revista alguns artigos sob o pseudônimo de Bacaldine, numa coletânea de revistas e livros com publicações de grandes autores. E os artigos me ajudaram bastante na escolha de potros. A maior parte do que sei e escrevo agora aprendi com o velho Atahualpa Soares.
O potro está na sua frente e você vai começar olhando para seus olhos, a conformação dos mesmos, a expressão que demonstre inteligência. Prefira animais com olhos bem afastados um do outro. Potros com os olhos muito próximos não costumam dar certo. Repare em suas ventas, preferindo os animais de narinas mais abertas. Respiram melhor.
Baixemos os olhos para seguir no exame: devem ter tendões bem destacados, articulações secas e não as cheias de carnes, porque é daí que vão aparecer os problemas futuros. Os membros devem ter um conjunto normal e harmonioso. Alguns detalhes podem ser esquecidos se o potro tiver tudo isso: uma cabeça que não é bonita, a linha do tronco algo curvada, a garupa levemente caída. Nada disso vai interferir na produção. Lembre–se, também, que não há potro perfeito. Quem quiser encontrar um defeito, pequeno que seja, encontra.
Além do mais, é preciso ter um pouco de intuição, coisa que não se explica e que, na maioria das vezes, dá certo. Intuição vale muito. Humildade, também.
Diz o Dr. Atahualpa que a altura máxima de um potro com 2 anos completos é de 1,55m. Também acho que, mais do que isso, é exagero.
Vamos agora olhar a quartela do animal. Nunca compre um animal “quarteludo”. Eu mesmo já errei quando tirei de venda, aos 16 meses, o cavalo Herel, por causa de sua quartelada. O criador deu–o de presente ao “Pipo”, que vendeu caro para um novo criador. E o Herel já venceu duas carreiras. E poderia até ter vencido mais. Normalmente, porém, cavalo muito quarteludo não ganha corrida. Essa conformação exerce uma tensão indevida sobre alguns tendões e ligamentos. Mais tarde, os animais vão mancar da junta, do boleto ou do joelho. Herel foi uma exceção.
Continuando a falar da quartela, quando um cavalo galopa, cada perna sustenta, alternadamente, todo o seu peso, e se a quartela for demasiadamente reta a junta não se flexiona o suficiente para absorver a violência do impacto. O choque do galope, portanto, é transmitido para a parte superior da perna, especialmente o joelho.
(*) Texto publicado originalmente na Revista JCB, na década de 1980, por Heitor de Lima e Silva, o Bolonha
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