Desde os primórdios do turfe, algumas fardas são identificadas como sinônimo de glórias e de conquistas. Algumas, tamanha a representatividade, passam a contar até com torcedores e admiradores. Cada país, num processo natural, contemplou seus grandes, em cada época. Algumas dessas coudelarias também se tornaram elementos de identificação com a própria pátria – fosse pela hegemonia caseira, ou pelo sucesso na representação de seu país em compromissos profissionais.
Acontece que, num certo momento, a globalização também passou a envolver as pistas e nos haras de todo o mundo. Hoje, as grandes potências, entre studs e proprietários do turfe internacional, não limitam o campo de sua atuação a um determinado país, e contam com bases e negócios por todos os cantos. E é assim, com um campo de abrangência imenso, suportado por investimentos notoriamente vultosos, que a farda azul da Godolphin atinge números cada vez mais impressionantes, e que não fugiram à regra em 2012.
Desde que o britânico Cutwater venceu, em dezembro de 1992 – no extinto Hipódromo de Nad Al Sheba –, a primeira corrida para a Godolphin, a operação do Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum só fez aumentar, em tamanho e complexidade. O desenvolvimento da Darley para o setor de criação, a longa manutenção de nomes como Frankie Dettori e Saeed bin Suroor em sua equipe profissional, além das inúmeras guinadas ao longo dos anos, transformaram a Godolphin na mais poderosa instituição do turfe mundial, ao apagar das luzes no século XX, e também no início do atual.
No ano de 2009, animais pertencentes à Godolphin venceram 202 corridas, recorde para o histórico da coudelaria. Contudo, a Godolphin não tardaria a emplacar números ainda mais espetaculares, numa mesma temporada. Em 2012, que pode ser considerado, até aqui, o ano mais produtivo da farda azul, até o último dia 13 de dezembro seus defensores já haviam vencido 214 páreos, ou seja, um total de 19% das inscrições feitas por seus treinadores, desde janeiro. Dessas 214 vitórias, 59 foram obtidas em provas de calendário clássico, o que dá média de cinco vitórias em páreos de “black type” por mês. Tal informação ganha uma sonoridade ainda maior quando se chega à constatação de que, em meio a essas 59 vitórias clássicas, 16 aconteceram em corridas de Grupo I, com a significativa média de 1,5 vitória de graduação máxima por mês.
Esses dados imponentes, referentes ao ano de 2012, foram traduzidos em momentos dos mais marcantes para a Godolphin. Provas de altíssimo gabarito, como a Dubai World Cup (Gr. I) e a Ascot Gold Cup (Gr. I) – vencidas, respectivamente, por Monterosso e Colour Vision – este ano contaram com “dobradinhas” de defensores da Godolphin. Outra conquista bastante significativa foi a de Encke, no St. Leger Stakes (Gr. I), evitando a vitória de Camelot e aumentando a espera dos britânicos por um tríplice coroado. E os êxitos de Dawn Approach no Dewhurst Stakes (Gr. I) e de Certify no Fillies’ Mile (Gr. I), além de colocarem a Godolphin em evidência em 2012, serviram como cartões de visitas da coudelaria, cujo recado transmitido é o mesmo: ela começa 2013, simplesmente com o melhor potro, e a melhor potranca da Europa em suas cocheiras.
Resultados como esses não se constroem apenas com a ajuda de altas cifras. É lógico que o altíssimo fluxo de capital contribui consideravelmente para o sucesso da empreitada. Mas sem a devida organização e, principalmente, um marcante senso de profissionalismo norteando todas as suas ações, a Godolphin jamais teria alcançado o patamar que ocupa atualmente. Os resultados estão aí para todo mundo ver e fazem da Godolphin um capítulo à parte na história das corridas de cavalo. O tempo vai passar e novas gerações se alternarão na promoção da atividade, mas nada disso influenciará na dimensão dos feitos desse “gigante” nascido nos Emirados Árabes Unidos, e admirado em escala mundial.
Gigante que se escreve com “G”, de Godolphin.
por Victor Corrêa