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Provas de Grupo, por Ivamar 16/01/2007 - 20h29min
Alcazar finalmente vence prova de grupo
Domingo, no Hipódromo da Gávea, dando prosseguimento à temporada clássica, foi realizado o GP José Buarque de Macedo (GIII), para potros de 3 anos, em 1.600 metros, grama. Recebeu 23 inscrições, mas apenas 18 foram apresentados. Carreira que serviu de teste dos mais importantes para a prova inicial da Tríplice Coroa de produtos.
Depois de correr várias provas clássicas, perdendo–as, às vezes, por pequena diferença, ALCAZAR conseguiu o batismo clássico. Acompanhou a carreira no meio do lote, na entrada reta estava mais ou menos em sétimo, foi lançado por fora por Dalto Duarte e atropelou irresistivelmente, ganhando por mais de quatro corpos. Um triunfo convincente, ainda que os rivais não tivessem grandes credenciais. Em segundo, ULY DI CAROLINE (Torrential), um corpo à frente do terceiro, QUEBEC JOUR (Trempolino). Completaram o marcador FALA MANSA (Notation) e QUE PATRIOTA (Ayrton S), com Caio de Naranjos em sexto, próximo destes.
Alcazar, criação e propriedade do Haras Dar–El–Salam, é treinado por Venâncio Nahid, também responsável pelo segundo colocado. Tempo bom para as condições da pista, que estava pesada: 1Â’35”05. Foi a segunda vitória, primeira clássica, em oito apresentações, apenas duas comuns. Pronto para enfrentar a maratona da Tríplice Coroa, deverá fazer boa figuração, caso resista ao desgaste.
O ganhador tem pedigree quase todo nacional. Seus pais são os paulistas Thignon Lafré, esplêndido corredor, líder da geração, e Bubinette, filha e neta dos nacionais Clackson e Itajara, respectivamente. A esta esplêndida linha materna, da criação Paula Machado, pertencem, entre outros, Poutioner, Siphon, Spring Star e Verinha, ganhadores de grupo.
Indianette, em bonita atropelada
Também no Hipódromo da Gávea, mas no sábado, foi corrido o GP Roger Guedon (GIII), em 1.600 metros, grama, para potrancas de 3 anos, teste para a primeira prova da Tríplice Coroa de potrancas.
Levou a melhor, com dificuldade, a favorita INDIANETTE. Deixou à cabeça INEGRITA (Public Purse) que, muito ligeira, apesar de largar por fora foi a responsável pelo train, a princípio entre as primeiras, para assumir a dianteira pouco antes da entrada da reta e só ser alcançada no final. A pouco mais de um corpo, disputando o terceiro lugar, RE THONG (Dancer Man) e QUADRIGLIA (Jules), com pequena vantagem para àquela. Também perto, em quinto, CASH FOR HER (Arambaré). Super Eletric correu pouco e Felicidade–Bela fracassou totalmente. Em se tratando de páreo muito cheio, não é impossível que no próximo encontro o resultado seja diferente.
Indianette, criação do Haras São José e Expedictus e propriedade da Coudelaria Jéssica, foi dirigida por Marcello Cardoso e é treinada por Dulcino Guignoni. Tempo na pista pesada: 1Â’36”46. Foi a terceira vitória, primeira clássica, em cinco atuações.
Indianette tem cruzamento semelhante às campeãs Coray e Queen Desejada: Know Heights em égua por Itajara. Vitalina, sua mãe, ganhou diversas provas de grupo na Gávea, e é irmã materna de outra argentina, Bucarest (Ski Champ), também ganhadora de grupo. Brilhou, também aqui, como ocorreria domingo, a criação Paula Machado.
Novo êxito de Dama da Arte
Sábado, no Hipódromo Paulistano, foi disputado o Clássico Presidente João Tobias de Aguiar (L), para éguas de 3 anos e mais idade. Uma carreira tecnicamente fraca.
A favorita DAMA DA ARTE (Mensageiro Alado e Queen Arte, por Exclusive One), que vinha de vitória contra os machos no clássico de velocidade constante da semana do GP Paraná, voltou a dar boa exibição. Ganhou, de ponta a ponta, por aproximadamente cinco corpos. Na dupla, bem à frente das demais, LEGGERA (Vettori). Completaram o marcador DONNA DI NAPOLI (First American), QUEENLIKE (Blade Prospector), que largou mal, e PONTA CERTA (Punk).
Dama da Arte, criação do Haras Simpatia e propriedade de Gelso Luiz Cima, teve Antônio Queiroz como piloto e é treinada no Paraná por Ricardo Bueno Colombo. Na areia, que se encontrava molhada, os 1.200 metros foram percorridos em 1Â’11”833. Tempo fraco.
Avaliação das provas clássicas
Pode–se dizer que o GP José Buarque de Macedo não justificou inteiramente sua classificação, pois entre os 23 inscritos apenas um era ganhador de Grupo III, e um, de Listed Race. Como o páreo é reservado a 3 anos, muitos ainda no começo de campanha, é preciso considerar os que têm apenas colocação clássica, no caso, seis.
Já o GP Roger Guedon foi melhor, justificando sua classificação. Em 20 inscrições, três ganhadoras clássicas, sendo uma de duas provas de grupo (II e III), outra de uma prova do Grupo III, e uma de Listed Race. Igualmente contou com seis candidatas com colocações clássicas. É importante observar que são GPs onde a vitória pode acontecer para um potro ou potranca que só aqui está se revelando.
Em São Paulo, no Clássico Presidente João Tobias de Aguiar (L), a avaliação se faz difícil. Entre as cinco inscritas, uma ganhadora de Listed Race, no Paraná, e quatro de campanhas inexpressivas. Pode–se dizer que não merecia a classificação.
O respeito às opiniões
De repente, uma discussão absolutamente positiva para o turfe. Talvez até mesmo fora do ambiente turfístico. Qual o melhor cavalo brasileiro de todos os tempos?
Apresentada uma relação de oito craques, todos merecedores de constar da lista dos melhores, viu–se logo que ela não é a de todos os tempos, pois não estão incluídos Helíaco, bicampeão do GP Brasil, em 47 e 48, e Adil, tricampeão do GP São Paulo, em 55, 56 e 57. Veteranos e lúcidos carreiristas ficaram espantados pela omissão de vários craques extraordinários aparecidos nos últimos 60 anos (antes disso, fica difícil opinar). Daí, muitas manifestações divergentes.
De fato, causou espécie a ausência de alguns nomes que fizeram a História do turfe brasileiro. Talvez a intenção dos idealizadores da enquete tenha sido causar sadia polêmica, o que conseguiram, ou destacar os feitos internacionais (vitórias em provas do Grupo I) de Sandpit, Siphon, Pico Central e Riboletta nos Estados Unidos.
A questão de levantamentos e elaborações de estudos referentes a diferentes épocas torna o trabalho muito difícil e a conclusão, incorreta. Por exemplo: quem vivenciou os anos 50 e 60 teima em defender a tese de que os puros–sangues aparecidos naquela época (sem os benefícios dos avanços da veterinária) eram melhores do que os de agora (opinião que merece respeito) e se tivessem tido a oportunidade de ir para a Europa (Adil, Farwell, Narvik, Escorial, Dulce, Joiosa, Emerson) ou para os Estados Unidos (Bucarest, Gaudeamus, Quartier Latin, Luccarno) poderiam ser tão bem–sucedidos quanto o foram os quatro representantes citados na polêmica relação. E por que só oito?
Poderia citar muitos outros, como Quiproquó, tríplice coroado, vencedor de vários GPs importantíssimos, inclusive o GP São Paulo; Timão, ganhador de cinco das seis provas das Tríplices Coroas de São Paulo e do Rio; Narvik, vencedor dos GPs Brasil, em tempo recorde, Cruzeiro do Sul, e muitos outros; Emerson, invicto em cinco apresentações, com um título que talvez nenhum cavalo no mundo tenha: ganhador de três Derbies, o do Rio, o de São Paulo e o da América do Sul; Duplex, vencedor de quatro provas internacionais de Grupo I em três países, Peru, Uruguai e Argentina, incluindo o Latino–Americano de Jockeys Clubs; Emerald Hill, invicta no Brasil, em nove atuações, tríplice coroada entre as fêmeas, e vencedora, ainda, da Taça de Ouro, no Rio, quando derrotou os melhores machos da turma, mostrando ser o melhor produto da geração; Immensity, líder entre potros e potrancas de uma fortíssima geração, e ganhadora do GP Carlos Pellegrini; Troyanos, insofismável vencedor dos GPs Brasil, São Paulo e Derby Paulista; Virginie, invicta no Brasil, tríplice coroada entre as fêmeas da sua geração, e ganhadora de Grupos I e II nos Estados Unidos; Hard Buck, com êxito em prova de Grupo I nos Estados Unidos, e segundo colocado no King George VI e Queen Elizabeth Stakes, maior carreira inglesa para produtos de 4 anos e mais idade; Leroidesanimaux, vencedor de seis provas de grupo nos Estados Unidos, sendo três de Grupo I etc. Poder–se–ia afirmar que cada um desses campeões foram injustiçados.
Por outro lado, todos têm direito a escolher seus preferidos. Farwell e Itajara, invictos (Farwell, no Brasil), quase uma unanimidade entre os turfistas, na minha opinião pertenceram a gerações fracas. O veloz craque da criação Almeida Prado & Assumpção (teria sido melhor que Adil?) não tinha rivais, nenhum com categoria para lhe dar caça nos primeiros metros. Sempre conseguiu bracear à vontade na ponta (até encontrar o argentino Atlas). Supondo–se que tivesse nascido um ano antes, conseguiria correr na frente de Gaudeamus? Acredito que não. Teriam sido duelos eletrizantes. De todas as suas vitórias, apenas duas me impressionaram: a de um clássico paulista em 2.000 metros (se não me falha a memória, o GP Linneo de Paula Machado), quando precisou ser exigido a fundo para derrotar o excelente Lohengrin, e o GP Brasil de 60 (derrotando os líderes de gerações anteriores, Narvik e Escorial, embora estes já decadentes). Histórias do turfe contam que, neste dia, Escorial estava visivelmente manco, e Farwell, na Argentina, doente quando perdeu a invencibilidade para Escorial no GP 25 de Mayo.
Itajara, por seu turno, seduziu os turfistas com suas exibições. Os adversários aos quais impôs seu jugo, entretanto, também eram fracos. For Merit e Casmurro ainda venceram prova de grupo. Tiago, nem isso. A impressão geral, porém, era de que se enfrentasse os mais velhos ou os argentinos, os derrotaria. Tudo, porém, ficou na impressão. Uma vez perguntei ao grande jóquei Oswaldo Ulloa qual, na sua opinião, tinha sido melhor, Helíaco ou Itajara, e ele não titubeou e respondeu, Helíaco.
Essa diversidade de julgamentos faz o encanto do turfe. E um debate do tipo que se instalou entre os turfistas, esta semana, traz à baila o maravilhoso esporte que nunca deveria ter caído no ostracismo em que se encontra.
Próximas atrações
Rio de Janeiro
Domingo, no Hipódromo da Gávea, será realizado o GP Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (GIII), em 2.000 metros, areia.
Sábado, acontecerão as Provas Especiais Cidade de Teresópolis e Odyr do Coutto, em 1.000 metros, grama, a primeira para potrancas e a outra para potros de 2 anos.
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