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De olho no CNC – Desclassificações recentes 09/07/2021 - 09h09min
Infelizmente há muito esta coluna não é escrita. Isso se dá basicamente por dois motivos: o primeiro deles é a falta de tempo deste escriba e o segundo é a diminuição flagrante da quantidade de páreos que tenho acompanhado.
Contudo, tivemos três julgamentos que geraram bastante polêmica., Em seguida, uma entrevista de um membro do Jockey Club Brasileiro e, imediatamente após, outro um páreo com reclamação. Diante disso resolvi escrever esta coluna que, apesar de um pouco extensa, tenta trazer alguma luz ao assunto.
Como tive a oportunidade de ver os quatro páreos em questão, alguns ao vivo e outros nos replays das carreiras que hoje ficam gravados no youtube (algo muito positivo, pois na gravação do dia inteiro é possível ver e rever quantas vezes necessário não só o páreo em sua velocidade normal como a reta frontal, paralisando e diminuindo a velocidade nos momentos importantes), achei interessante fazer a análise dos quatro casos (três polêmicos e o do dia 06/07/2021).
Primeiramente cabe ressaltar a postura extremamente interessante do representante do JCB de preocupar–se em dar uma satisfação aos turfistas em geral procurando sempre o caminho da transparência, algo que deveria ter sido sempre perseguido pelo JCB, inclusive com a informação de que haverá publicação do resultado da votação e os motivos de cada uma das reclamações. Isto, aliás, é o praticado em todo o mundo civilizado há muitos anos e eu venho pedindo isso à comissão de corridas do JCB há muito tempo, solicitação essa formalizada em reunião no dia 4 de Julho de 2012 (portanto há mais de nove anos) com então Presidente da Comissão de Corridas, quando apresentei os relatórios produzidos por alguns dos hipódromos mais importantes do mundo naquela época como Cingapura, Hong Kong e etc... (posteriormente enviados por e–mail ao Presidente e outros representantes). De forma geral, a intenção é extremamente positiva embora a entrevista pudesse ter sido muito mais esclarecedora do que somente reafirmar o que está escrito no CNC.
Dito isto, a ideia deste texto é analisar objetivamente os quatro páreos e, portanto, vamos a cada caso:
1º Caso – 22/06/2021 – Lord of Westbury x Il Campione
Na minha visão a reclamação do jóquei A. Gulart foi infundada uma vez que não houve nenhum movimento do animal Il Campione causando prejuízo ao animal Lord of Westbury. O que houve foi um posicionamento correto por parte do grande jóquei L. Henrique e uma tentativa frustrada (acredito que muito também pelo porte do animal Il Campione) por parte do jóquei A Gulart de forçar a criação de um espaço que não existia. Inclusive, caso o animal reclamante tivesse ganho poderia até mesmo ser desclassificado dependendo do desenrolar do páreo caso a tentativa mencionada tivesse tido sucesso.
Acredito que nos quadros abaixo fique claro que o animal Il Campione foi posicionado em sua linha na entrada da reta, o animal que ponteava (faixa de Il Campione) não mudou sua linha e o animal Lord Of Westbury é quem tenta mudar de linha forçando uma passagem o que fica claro inclusive no quadro 4 quando o jóquei puxa a rédea para fora (círculo em vermelho), abalroa o animal de fora (Il Campione) inclusive deixando–o torto com a anca para fora (quadro 5), movimento típico de um animal que foi abalroado de dentro para fora.
2º Caso – 27/06/2021 – Olympic Kremlin x Jackson Pollock
Neste caso estamos diante de uma reclamação bastante difícil de ser julgada. Aqui, o prejuízo é claro e na minha visão é cristalino que o causador foi o animal ganhador (nem mesmo o faixa, como foi bastante ventilado) que, na busca por espaço em situação parecida com o caso anterior, empurra os animais ao seu lado para fora deixando o terceiro colocado, Olympic Kremlin, em uma situação aonde teve que ser um pouco sofreado apesar de também ter empurrado o animal de fora, o que fica claro no quinto quadro abaixo.
Aqui, no entanto, a questão mais difícil de ser definida é a real possibilidade de alteração no resultado do páreo, que, apesar de subjetiva, fica bastante prejudicada em minha visão. Muito difícil imaginar um resultado diferente neste páreo devido à intensidade do prejuízo e ao momento do páreo. Diante disso, na minha visão, a decisão final da Comissão de Corridas foi correta.
3º Caso – 04/07/2021 – Tender–Quest x Kamotim
Aqui temos novamente um caso bastante difícil de ser julgado visto que há um claro desvio de linha mas não há um claro prejuízo e o resultado final foi bastante apertado. Dito isto, para não ficar em cima do muro, em minha visão a Comissão de Corridas do JCB errou ao desclassificar o animal Kamotim.
Pois, apesar do pequeno desvio de linha do animal Kamotim nos últimos metros do páreo, não consegui observar prejuízo à atropelada de Tender–Quest (destacada em vermelho no primeiro quadro) que veio lá de fora buscar a referência do adversário por dentro e teve o tempo todo caminho livre para desenvolver sua atropelada.
4º Caso – 06/07/2021 – Lord of Westbury x Ingo Hoffman
Mais uma vez o bom Lord of Westbury é colocado em foco após seu jóquei reclamar de prejuízos causados pelo ganhador Ingo Hoffman. Novamente acredito que o resultado do páreo deveria ser mantido, como foi, pela Comissão de Corridas. Neste caso a questão é simples e o prejuízo definitivamente não alterou o resultado o páreo.
Na verdade, no momento do prejuízo, como pode ser visto no último quadro, os animais estão embaixo do refletor de chegada, aonde o animal ganhador possuía uma vantagem de pelo menos ¾ de corpo sobre o segundo colocado, vantagem que vinha sendo mantida durante todos os últimos aproximadamente 200 metros.
Comentários finais
Apesar de eu ser um defensor ferrenho da lisura nas pistas e do rigor não só na punição aos jóqueis, mas também nas desclassificações por delitos de raia, nos quatro casos polêmicos recentes eu votaria pela manutenção do resultado das pistas.
Adicionalmente, informo que apesar de enxergar alguns pontos de melhoria na comissão de corridas atual (sempre há pontos de melhoria em qualquer lugar!) como a implantação dos já citados relatórios, a criação de cursos esclarecedores a jóqueis e treinadores, um maior rigor nas punições por diversidade de performance (aliás, no páreo anterior à entrevista do representante do JCB houve uma de almanaque), também um maior rigor na punição por imperícia e falta de empenho (no domingo houve outra imperícia de Almanaque), entre outros pontos, acredito que os julgamentos tem sido bem realizados.
Sempre há a possibilidade de termos opiniões distintas uma vez que há um quesito subjetivo estabelecido no código que é a questão da alteração no resultado do páreo. Apesar de alguns serem contra, eu sou completamente a favor da manutenção desta condicionante para a perpetuação da justiça no julgamento das carreiras objetivando sempre que o melhor naquele dia vença.
Para concluir, acredito que dos quatro casos comentados, dois eram de simples interpretação, um deles um pouco mais difícil, porém também com alguma clareza de resultado e o último, o caso de Tender–Quest x Kamotim de dificílima avaliação, aonde penso que a comissão de corridas errou mas não será difícil encontrar opinião contrária.
por Arthur Stern
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