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Ainda aguardamos um vigoroso Alinhamento Paterno, por Demetrio Ferreira de Oliveira 31/08/2017 - 16h52min
Constituindo–se uma lista dos nossos melhores corredores e qualquer seja ela, lá estarão Farwell, Escorial, Narvik, Adil, Duplex, Much Better, Sandpit, Troyanos, Gaudeamus, Zenabre ..., não encontrados na linha masculina alta dos que hoje figuram nos programas de corridas. Foram falhos no que é mais desejável em um reprodutor, dar continuidade ao seu pai, mantendo vivo lineamento (disposição masculina linear), que vem de longe há mais de dois séculos. Essa falha é que estaremos tentando colocar, com exemplos significativos.
Por suas extraordinárias forças de transmissão, os pilares de formação do cavalo de corrida, Eclipse, Matchem e Herod (segunda metade de 1700) foram–se eternizando através de filhos, netos, bisnetos..., resultando extensos e sólidos alinhamentos paternos ativos até hoje, como o de Galileo:
Eclipse (1764) – Pot 8 Os – Waxy – Whalebone – Sir Hercules – Irish Birdcatcher – The Baron – Stockwell – Doncaster – Bend Or – Bona Vista – Cyllene – Polymelus – Phalaris – Pharos – Nearco – Nearctic – Northen Dancer – Sadler’s Wells – Galileo (1998)
Já naqueles tempos muitos eram descontinuados, perdas significativas aconteceram. Hoje o sangue de Eclipse ainda pode ser encontrado bem robusto, o de Matchem nem tanto e o de Herod está perto do extermínio.
Ainda forte, Eclipse espalha–se principalmente por Phalaris (Polymelus, GB, 1913) encontrado na ascendência dos modernos grandes raçadores Northern Dancer e Mr. Prospector; Matchen está manifestado, digamos com alguma força unicamente por Intent (War Relic, USA, 1948), em cujo lineamento se encontra Put it Back, pai do nosso craque Bal a Bali; Herod parece quase cortado.
Ao início do século passado, a criação nacional até então dando os primeiros passos, o nosso reprodutor não conseguia atravessar mais de 1 geração através de seus filhos.
Linneo de Paula Machado, o iniciador da criação nacional, trouxe Novelty (Kingston, USA, 1908), reprodutor de regia linhagem que produziu Santarem, o primeiro super cavalo verde e amarelo. Um prometedor lineamento se formava, mas ficou na segunda geração. Nem Ever Ready, nem Funny Boy deram a continuidade esperada.
Novelty – Santarém – Ever Ready
Funny Boy
Em nova iniciativa, os Paula Machado enriqueceriam o Haras São Jose (SP) com Trinidad (Phalaris, ENG, 1928), pai de Albatroz, bicampeão do GP Brasil, de Neru líder de sua geração e vencedor de várias provas, hoje grupadas, e do Tríplice Coroado Criolan 1942.
Trinidad – Albatroz
Neru
Criolan
Tanto Albatroz, como Neru e Criolan foram grandes corredores, não correspondendo contudo na reprodução, por não mostrarem o mais desejado, gerar filhos continuadores da linhagem.
Para vir a ser apresentado no S. Francisco Xavier e Derby Club foi importado o runner europeu Printer (Lorenzo, GB, 1922), Inbred 3x4 em St. Simon, julgado imbatível por antigos carreiristas frequentadores daqueles palcos de corridas. No haras deixou relevante descendência e a iniciada por Sargento guarda dois vencedores do GP Brasil, Sargento em 1935 e Fenomemal em 1972, brilho não encontrado em qualquer outra. Deve ainda ser lembrado que Fenomenal foi o primeiro gaúcho a ganhar nossa prova máxima.
Printer – Sargento – Torpedo – Fenomenal
Transcorrido um punhado de anos desde a época de Novelty, Trinidad e Printer, a criação nacional não tinha ainda sido brindada com exemplares que se mostrassem até a 3ª geração, fixando raízes paternas. Novas importações se sucederam.
Formasterus (Asterus, FR, 1931) também trazido pelos Paula Machado, riquíssimo na formação de craques, Heliaco por exemplo, e na geração de linhas maternas, teve em Quixu peça iniciadora de importante lineamento, interrompido pelo muito bom Chubasco. Cedo desaparecido, com poucos filhos, Chubasco interrompeu o lineamento do bisavô Formasterus.
Formasterus – Quixu –Don Bolinha – Chubasco
Das linhas puxadas por Coaraze (Tourbillon, FR, 1942) derby winner francês, uma das maiores importações feitas pelo Brasil, concretizada pelo Jockey Club de São Paulo, excessão à do craque Emerson, exportado e continuado por Solicitor em território francês, a de Viziane foi muito frustrante, considerando sua campanha (ganhador do Brasil e do São Paulo) e seu fascinante pedigree, com pai e avô materno vencedores do Derby Francês. Perdeu–se régio sangue, descontinuado por Del Garbo.
Coaraze – Emerson – Solicitor
Viziane – Hyper Genio – Del Garbo
Hypocrite – Depressa – For Merit
Surpreendentemente, a linha iniciada pelo milheiro Hypocrite, continuada pelo velocista Depressa, colocou a representação Coaraze promissora através de For Merit, vice–líder de sua geração, a do expoente Itajara, super craque invicto, última grande criação Paula Machado.
O raçudo ao extremo Amphis (Pharis, FR, 1949), criação Marcel Boussac, importado pelo genial Julio Capua para servir em seu campo no Estado do Rio, deixou Hyperio, cujo irascível temperamento muito o prejudicou em sua campanha. Hyperio formou especial lineamento, interrompido não longe, tanto por Daião, vencedor do Brasil 1973, como por Old Master, Quádruplo Coroado 1984. Em termos seletivos, perdida a mais qualificada linha paterna formada em nosso chão.
Amphis – Hyperio – Sabinus – Daião
Old Master
Trazido pelo ilustre criador Antonio Joaquim Peixoto de Castro Junior, o italiano Alberigo (Traghetto, ITA, 1950), sendo Traghetto filho de Cavalieri D’ Arpino, uma das maravilhas de Tesio, deixou o muito bom Egoismo, ganhador do Derby Paulista, pai de inúmeros vencedores clássicos, dentre eles os craques Grão Ducado, Grão de Bico e Aporé, o brilhante ganhador do Brasil de 1979 e ainda de Zirbo, Boleador, Avelar, Belo Bernardo e Arrojo. Contudo, nenhum atendeu à exigência maior que se faz ao reprodutores.
Alberigo – Egoismo – Grão Ducado
Grão de Bico
Aporé
Zirbo
Da descendência de Waldmeister (Wild Risk, GB, 1961) nos lembramos de Macar, fundista, bom corredor, pai de Caduto, que mesmo não contando com a credibilidade dada ao pastor estrangeiro, formou a linha mais prolongada da nossa criação.
Waldmeister – Macar – Caduto – Jolly Quick – Joe Who
Apollon
Carteziano – Lavaggio
Sunset – Ego trip
Joe Who foi excepcional milheiro, vencedor da milha internacional de 1997 em demonstração soberba, inesquecível, também com campanha convincente nos EUA, lá vencendo prova de grupo. Ficou contra si o corte de lineamento bem adaptado. Teria sido usado com a confiança devida? Provavelmente, não.
Apollon, muito bom cavalo, decepcionou no haras, enquanto Lavaggio e Ego Trip interromperam o nobre sangue de St. Simon –... – Wild Risk – Walmeister. A esse filho de Wild Risk conferimos o título de O Melhor Avô Materno da Criação Brasileira (percentualmente), Troféu Mossoró desta modalidade, superando os que, de imediato, estejam sendo lembrados.
Acima já foi feita referência ao Posto de Fomento de São Paulo quando vimos as linhas de Coaraze. O JCSP em mais uma posição assumida nos trouxe, que maravilha, o reprodutor Pharas, que já contava com alguma idade, mas que foi capaz de produzir com a égua Remington o castanho Zenabre, nascido em 1961, que dava seguimento a Pharos – Pharis – Pharas – Zenabre.
Magnífico corredor, Zenabre replicou o Brasil 1965 e 1966, na época corrido em 3000 metros. Na reprodução produziu bem, vários corredores clássicos como Uivador, Venabre, Frizly, Darial, Don Quixote, Malser, Artung, sem que nenhum atendesse à exigência maior que se faz de um reprodutor.
Outrossim, nos lembramos de Executioner (The Axe, USA, 1968) da estirpe de Blandford, pelo ramo de Blenheim, sub ramo The Axe. Foi outro que prestou inestimado serviço no Posto de Fomento, mas como tantos outros, não passou aos filhos a força de transmissão. Grimaldi, o melhor deles, ganhou o Brasil 1986 e o São Paulo 1987, além dos derbies Rio e São Paulo, desafortunadamente, deu por encerrada a respectiva linha.
Nugget Point (Nureyev, IRE, 1982) com produção diversificada, velocistas, milheiros e fundistas, gramáticos e arenáticos, marcou a criação do Haras Equilia. Foi pai de cinco vencedores de Grupo 1 entre eles Lord Aché e Link of Glory, que não deram a continuação do nobre lineamento paterno, o de Nureyev, estupendo raçador europeu.
Diante de tantas interrupções, pergunta–se por que nos EUA e no continente europeu isso não ocorre em tão alto nível? Lineamentos de Mr Prospector e de Northern Dancer seguem vivíssimos chegando até os dias de hoje. Esta indagação já foi feita anteriormente, mas não tivemos o gosto de uma resposta.
Em o Cavalo de Corrida Brasileiro, (1989), do ilustre médico veterinário Jose Roberto Taranto, estão inseridas páginas de Leo Pires Pinto, douto hipólogo que assessorava A. J. Peixoto de Castro Junior, expondo com toque lamentoso o acontecimento. Formam–se lineamentos, mas sem a força indispensável. Lastima–se a falta de competência fixadora do reprodutor brasileiro.
Segundo a respeitável opinião do geneticista Leo Pires Pinto, o problema estaria na adaptação do indivíduo ao meio ambiente e, como consequência as linhas mais prolongadas são aquelas que demonstraram melhor adaptabilidade.
Essa dificuldade de adaptação defendida por Leo Pires Pinto não seria efeito do clima subtropical dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro? Não seria então válido esperar outro resultado agora que estamos em Bagé e próximos a Curitiba sob clima temperado?
Em tempos mais recentes, embora a entrada de valiosos sangues, Earldon, Fort Napoleon, Henri Le Balafre, Present the Colors, Telescópico, Vacilante, Van Houten, Locris, Baynoun, Felicio, etc, que foram fundamentais para os anos dourados da nossa criação e que se comportaram como magníficos raçadores de linhas maternas, contudo não alteraram o panorama.
Da insigne relação acima, faz–se isolado Felicio (Shantung, FR, 1965) da nobilíssima família Prince Rose. Felicio passou a continuidade para Itajara, a qual pode ser o último alinhamento paterno Prince Rose atuante no mundo, vez que de Princequillo, de nosso conhecimento, nada mais existe.
Felicio – Itajara – Siphon
Romarin – Bandido Secreto
Por iniciativa do saudoso presidente Jose Carlos Fragoso Pires e feita com a assessoria de Jose Roberto Taranto, para aqui foi trazido Roi Normand (Exclusive Native, USA, 1983) um sangue pouco chamado por nossos criadores, mesmo sendo de Native Dancer. Roi Normand viria se constituir um grande sucesso, como pai e como avô materno.
Roi Normand – Redattore – Kapo Di Tutti
Ay Caramba
Vale frisar que Ay Caramba, Roi Normand em égua Ghadeer, é pai de My Cherie Amour, brilhante ganhador do Brasil 2016.
Mais proximamente, recebemos Royal Academy, Giant’s Couseway, Vettori, Exclusive Quality, Public Purse, Shirocco, Manduro, Crimson Tide, Agnes Gold, Christine’s Outlaw, Northern Afleet, Wild Event,… que passaram a ser os novos agentes do desejo nacional, atuantes ou estiveram atuando em clima mais adequado.
Ao exame de campanhas e estatísticas, selecionamos os reprodutores servindo no Brasil que podem continuar os lineamentos de seus ascendentes:
Acteon Man – First American – Signal Tap
Adriano – Forestry – Siphon
Aerosol – Gloria de Campeão – Time for Fun
Agnes Gold – Invictus – TH Approval
Al Arab – Jeune Turc – Timeo
Ay Caramba – Kodiac Kowboy – Universal Law
Christine’s Outlaw – Impression – Vettori
Cisne Branco – Nedawi – Watchmon
Craft CT – Out of Control – Wild Event
Crimson Tide – Public Purse – Yagli
Desejado Thunder – Put it Back
Didimo – Pioneering
Drosselmeyer – Que Fenômeno
Dubai Dust – Redattore
É do Sul – Salto
Elmustanzer – Setembro Chove
Sendo mais seletivo, a nosso juízo, as maiores esperanças estariam depositadas nos seguintes que servem ou que há pouco serviam.
Acteon Man – Kodiac Kowboy
Agnes Gold – Nedawi
Crimson Tide – Pioneering
Drosselmeyer – Put it Back
First American – Redattore
Forestry – Wild Event
Mais seletivo ainda, admitimos que o irlandês Crimson Tide poderia ser aquele da qualidade reclamada. Daria continuidade à soberba linha Northern Dancer – Sadler’s Wells.
Ressalte–se, oportunamente, tratar–se de um cavalo de boa performance na Europa, ganhador de grupo, distâncias de 1400 aos 2400 e retirado das pistas aos 7 anos, inteiramente são. Crimson Tide é resultado de uma combinação de altíssimo nível de sucesso no plano mundial, a de Sadler’s Wells em mãe Darshaan.
Dos lineamentos começados, sem a menor dúvida, a resposta é dada por Roi Normand, através de Redattore e Ay Caramba. Se do primeiro podemos continuar otimistas, julgamos que de Ay Caramba, se devidamente explorado poderíamos ter raízes fincadas. Cobrindo pouco, Ay Caramba já nos deu My Cherie Amour. Com muito tempo por vir, Ay Caramba nos acena possível o desejo reclamado pela criação nacional.
Estávamos dando o ponto final, concluir esse nosso encontro, quando demos conta da conveniência de falar de Acteon Man e Agnes Gold. O primeiro é ponta do melhor adaptado lineamento de Danzig no Brasil, Danzig – Chief’s Crown – Be My Chief – Acteon Man, e só isso é bastante. Agnes Gold, da linha Hail To Reason – Halo – Sunday Silence, tem mostrado enorme talento para gerar fêmeas podendo, entretanto e de repente dar à criação brasileira um continuador de brilhante lineamento paterno.
Demetrio Ferreira de Oliveira
Agosto, 2017
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