Colunista:
Fino Trato – A Criação Nacional – Plantel de Reprodutores 15/08/2017 - 12h43min
FINO TRATO
A CRIAÇÃO NACIONAL
PLANTEL DE REPRODUTORES
PARTE A
I – INTRODUÇÃO
Há alguns dias, foi postado no RAIA LEVE, um Artigo que costumo escrever a cada Temporada de Monta, tendo por objetivo primordial passar para o Leitor a situação da Atividade Turfística no Brasil, mostrando parâmetros que vão indicando o arrefecimento da Atividade relacionada com a Criação do Puro Sangue Inglês (PSI), expresso a cada Temporada de Monta!
Observa–se pelo parâmetro que melhor expressa uma avaliação mais precisa do nível em que se encontra nossa Criação, ou seja, o número da Matrizes servidas a cada Temporada, que permanece em queda, devido a alguns aspectos primordiais, como a Liquidação de importantes Haras, assim como, a expressiva redução do Plantel de Matrizes de Haras que, até recentemente, contribuíram para que esta Atividade ainda não chegasse ao “Fundo do Poço”.
Evidentemente, o Mercado do PSI, tanto na Demanda, quanto na Oferta, vêm acusando o golpe, tendo a situação agravada pela deplorável situação do Jockey Club de São Paulo, que ficou sem pagar os Prêmios obtidos por Proprietários, por cerca de 2 anos!
Como uma reação natural do Mercado do PSI, a maior intensidade na desvalorização do PSI ficou sintonizada na figura das Matrizes, cujos preços permaneceram em queda livre, o que, de certa forma, ainda pode ser observada ainda hoje!
Para agravar ainda mais esta situação, taxações exorbitantes impostas para a importação do PSI e sobre os Prêmios auferidos pelos Proprietários, o elevado custo para o Transporte do PSI do Exterior para o Brasil, a crise da Economia do país que se agravou expressivamente, além do descaso absoluto do Órgão Federal a quem cabe acompanhar e fomentar a Atividade Turfística no Brasil, continuam exercendo forte pressão para que o Turfe no Brasil e, em particular, a Criação Brasileira do PSI, enfrente a maior crise de sua história!
Países de vanguarda na condução das Atividades Turfísticas, como a Irlanda, a França e os Estados Unidos, tiveram em passado recente, problemas que praticamente ameaçaram encerrar suas respectivas Atividades Turfísticas, mas que foram contornadas com a ajuda de seus Governos, que entenderam se tratar de autêntica Atividade Econômica e, como tal, foram incentivadas, o que as levaram a ocupar posição de relevo na escala das Atividades Econômicas de seus respectivos países!
Enquanto isso, no Brasil, estou com um Projeto que seria o terceiro da história do Turfe, que traria um expressivo benefício para os estudos por ocasião da Análise de Cruzamentos, tecnicamente aprovado pela Associação Brasileira de Criadores e Proprietários do Cavalo de Corrida – ABCPCC, que se encontra aguardando, há quase 3 anos, a aprovação de uma Regulamentação por parte do Órgão Federal de Fomento à Criação Equina no Brasil, que permitiria o patrocínio necessário para sua realização e, sequer se manifesta sobre o assunto!
Temos que confiar na recuperação da Atividade por seus próprios meios e a “luz no fim do túnel”, parece começar, timidamente, a sinalizar com o início desta recuperação, com o gradativo retorno do pagamento dos Prêmios aos Proprietários pelo Jockey Club de São Paulo!
O foco primordial deste Artigo, entretanto, ao contrário do que seria lícito se imaginar, reporta–se ao Plantel de Reprodutores no âmbito da Criação Brasileira do PSI!
II – PLANTEL DE REPRODUTORES
Conforme sempre assinalei e enfatizei, para se ter uma noção mais precisa da intensidade da Atividade Turfística, no caso específico da Criação do PSI, o parâmetro de fundamental importância reporta–se ao número de Matrizes servidas a cada Temporada de Monta, ou mais precisamente, ao número de Produtos nascidos!
Efetivamente, o número de Reprodutores que intervêm a cada Temporada de Monta, nominados pelos respectivos Studs Books de cada país, podem não refletir, na realidade, a intensidade da Criação do PSI em determinados países!
Muitas vezes, como por exemplo no caso da Criação brasileira do PSI, a redução do número de Reprodutores numa certa Temporada de Monta em relação à Temporadas de Monta imediatamente anteriores, pode perfeitamente ser interpretada de forma positiva!
Como pode ser observado em Artigo recentemente postado no RAIA LEVE sobre a Criação Nacional na Temporada de Monta de 2016, a situação dos Reprodutores na Criação Brasileira do PSI, está refletido no Índice de Concentração (IC = 15), pelo menos teoricamente, pois o ideal seria que este IC se aproximasse de 30, ou seja, pelo menos o dobro do IC realmente constatado para a Temporada em foco!
Em última análise, este Índice, além de expressar o nível de oportunidade para a continuidade dos respectivos Alinhamentos Masculinos Paternos de um Reprodutor que interviu na Temporada, se levarmos em conta a progressiva queda do número de Matrizes (2184) servidas na Temporada, a progressiva redução do número de Reprodutores (150) nominados para essa Temporada de 2016, pode ser interpretado como uma melhor qualificação média do Plantel de Reprodutores da Criação brasileira do PSI!
Lamentavelmente, a realidade não é bem assim!
Para uma melhor visualização da situação da Criação Brasileira do PSI, recorremos a alguns dados (já consolidados) divulgados pelo Pesquisador, José Carlos Fragoso Pires Jr., mostrando que o número de Matrizes alcançou seu ápice na Temporada de Monta de 1988, quando acusava 8956 Matrizes, enquanto na Temporada de Monta de 2016, registrava apenas 2188 Matrizes, assinalando uma queda da ordem de 76%, num período de 29 anos!
No que se reporta ao Plantel de Reprodutores, observa–se que na Temporada de Monta de 1989 com a presença de 928 Reprodutores e na Temporada de Monta de 2016 foram registrados apenas 151 Reprodutores evidenciando uma queda de 84%, dados estes complementados pela queda de 63% do número de Produtos registrados na Temporada de Monta de 1988 em relação à Temporada de 2016!
O mais impressionante, entretanto, reporta–se ao número de Criadores registrados no Stud Book Brasileiro que, na Temporada de Monta de 1991, alcançava o ápice de 1493, enquanto, na Temporada de Monta de 2016, estavam registrados apenas 276 Criadores, queda de 81%!
Ocorre que a situação do Plantel de Reprodutores, está caminhando a passos largos para o “Fundo do Poço”, sobrevivendo às custas de Heróicos Criadores que ainda procuram, de uma forma ou de outra, manter viva a chama da Paixão pela Criação do Puro Sangue Inglês, apesar de todos os obstáculos que lhes são impostos!
Para ilustrar a situação envolvendo o Plantel de Reprodutores, vamos assinalar alguns dados que poderão balizar a difícil situação em que se encontra o Plantel de nossos Reprodutores, face à urgente necessidade para resgatar, sobretudo em QUANTIDADE, mas também em QUALIDADE, o nível da Criação Nacional do PSI!
Como vimos no Artigo sobre a Temporada de Monta de 2016, o Grupo de Elite apurado a partir do IC = 15, chegou a apenas 45 Reprodutores, enquanto na Temporada de Monta de 2015, havia chegado a 51 Reprodutores, portanto uma queda de 12%!
O problema maior, entretanto, é que, destes 45 Reprodutores, 12 deles (27%), se apresentam na faixa de idade entre os 19 e 26 anos, Idade avançada, que deverão ser, a curto e médio prazo, substituídos por novos Reprodutores, preferencialmente, mantendo, pelo menos, o mesmo nível de Qualidade dos Reprodutores que serão substituídos!
Levando–se em consideração a totalidade (151) de Reprodutores nominados para essa Temporada de Monta de 2016, verificamos que 64 (43%) serviram de 5 para menos Matrizes, devendo–se ressaltar que, destes, 18 Reprodutores (12%), serviram apenas 1 Matriz, mostrando que nossa Criação do PSI, ainda se reveste de um ponderável nível de Amadorismo, tendo em vista, que a chance de darem continuidade às suas respectivas Linhagens / “Bloodlines” é mínima, praticamente nula!
Nos últimos três anos, houve uma divulgação de âmbito internacional, de que o Brasil apresentava focos de MORMO, o que dificultou a importação pelo sistema de “shuttle”, que durante vários anos municiou a Criação Brasileira do PSI com Reprodutores de boa Qualidade!
Nestes últimos três anos, a possibilidade de se importar algum Reprodutor do Exterior, só pode ser realizada pela importação definitiva e tendo em vista que nossa Economia apresenta uma crise sem precedentes, fica praticamente impossível a aquisição definitiva de Reprodutores com alguma qualificação, que possa, efetivamente, contribuir para elevar o padrão de Qualidade de nossa Criação do PSI!
III – O REPRODUTOR BRASILEIRO
Há várias Temporadas de Monta venho alertando o Criador brasileiro do PSI para a conveniência do aproveitamento do PSI nascido no Brasil como Reprodutor, o que, historicamente não vinha ocorrendo, pelo menos, na intensidade mínima necessária para que as devidas oportunidades lhes fossem oferecidas!
Na medida que os obstáculos acima citados foram encorpando, não restou outra alternativa aos Criadores, senão a de aproveitar o PSI brasileiro, incorporando um número mais expressivo deles ao Plantel de Reprodutores do PSI no Brasil!
O aproveitamento do PSI brasileiro na função de Reprodutor, em última análise, foi praticamente compulsório, diante dos obstáculos que se apresentaram aos Criadores Brasileiros para a importação do PSI estrangeiro!
Os resultados que vêm sendo alcançados pelos Reprodutores nascidos no Brasil estão ocorrendo acima das mais otimistas expectativas!
Como pode ser constatado no recente Artigo que elaborei para o RAIA LEVE, no âmbito do Grupo de Elite (45), os Reprodutores nascidos no Brasil, em número de 21 (47%), pela primeira vez, desde que comecei a escrever tais Artigos sobre a situação da Criação Nacional, assumiram a liderança, por nacionalidade, entre os Reprodutores que integram este Grupo, exatamente os que, pelo menos teoricamente, apresentam maior probabilidade de dar continuidade às suas respectivas Linhagens / “Bloodlines”!
IV – TRAJETÓRIA DO REPRODUTOR BRASILEIRO
O Reprodutor nascido no Brasil, até poucos anos atrás, foi severamente desprezado pelo Criador Brasileiro do PSI, por duas razões básicas, seja por ser considerado de Qualidade inferior, mas sobretudo, por não terem Apelo Comercial, quando comparados ao Reprodutor importado do Exterior, ainda que, em muitos casos, reunissem melhores condições Genéticas, Físicas e de Campanha nas Pistas!
Os poucos que eram investidos na função de Reprodutor, com raríssimas exceções, não recebiam oportunidades adequadas, em Quantidade e Qualidade, para que pudessem revelar seu real potencial como Reprodutores!
Nesse meio tempo, com o elevado preço de Reprodutores que haviam realizado Campanhas expressivas em seus países de origem, o Criador brasileiro se concentrou na aquisição de Reprodutores de origem norte americana, muitos dos quais, de qualidade, no mínimo duvidosa, que em nada contribuíram para melhorar a média da qualidade da Criação nacional do PSI!
A saída encontrada, devido à dificuldade para a aquisição definitiva de um Reprodutor de melhor Qualidade, foi a adoção da importação pelo sistema de “shuttle” que, inegavelmente, contribuiu para o gradativo resgate da Qualidade do PSI brasileiro, sobretudo, no que se reporta à posterior atuação desses Reprodutores, através de suas FILHAS, atuando como Avôs Maternos!
Com o recente agravamento da crise na Economia do Brasil, além da divulgação, em âmbito internacional, de que o Brasil apresentava focos do Mormo, o Criador brasileiro do PSI, praticamente, ficou de Mãos e Pés atados e a saída encontrada, com amplo sucesso, foi a de adotar o PSI diferenciado por sua Campanha nas pistas, por seu Fenótipo equilibrado, por seu elevado nível de Vigor Híbrido e amparado por um Pedigree de ótimo padrão genético!
A solução encontrada pelo Criador brasileiro, já vem apresentando resultados acima das expectativas, como demonstram em pista os Produtos de alguns desses Reprodutores, apresentando Campanhas de alto nível, vencendo as principais Provas do Calendário nobre, tanto de Cidade Jardim, quanto do Hipódromo da Gávea!
Como o exemplo é a melhor maneira para a comprovação dos bons resultados obtidos por seus Produtos, sabendo antecipadamente que alguns dos Reprodutores de êxito deixarão de ser citados por puro esquecimento, cito alguns desses Reprodutores nascidos no Brasil, com Campanhas de ponta, que apresentaram Produtos de alto padrão de competição, como EMERSON, ZENABRE, ITAJARA, CLACKSON, THIGNON LAFRÉ, REDATTORE, ROMARIM, SIPHON, entre alguns outros, dos quais dois deles, apesar da idade avançada, permanecem em atividade (REDATTORE e SIPHON), evidenciando que a natural adaptação às características do Meio Ambiente em que nasceram e se desenvolveram, são de fundamental importância para o adequado exercício de suas Atividades!
EMERSON
ITAJARA
CLACKSON
Mais recentemente, com o agravamento das dificuldades para a aquisição de Reprodutores no Exterior, a Criação Brasileira passou a incrementar o uso do PSI nascido no Brasil na função de Reprodutor, alguns deles exercendo adequadamente esta fundamental Atividade, contribuindo gradativamente para, não só manter, mas também elevar a Qualidade do Puro Sangue Inglês Brasileiro!
Em um primeiro momento, a adoção do PSI brasileiro investido na função de Reprodutor foi, ainda, um pouco tímida, mas pudemos destacar alguns deles como TOP HAT, QUICK ROAD, MOLENGÃO, MENSAGEIRO ALADO, AY CARAMBA, ACTEON MAN, entre outros, cujos Produtos venceram as principais Provas do Calendário Nobre da Gávea e de Cidade Jardim, apesar de que nem todos, conseguiram manter o nível da Qualidade de sua Produção num patamar mais elevado!
MENSAGEIRO ALADO
Alguns dos Reprodutores brasileiros da atualidade, encontram–se no início de suas Campanhas reprodutivas, já sinalizando com indícios de promissor potencial para a continuidade de uma Campanha exitosa e, neste Grupo, podemos identificar DESEJADO THUNDER, GLÓRIA DE CAMPEÃO, É DO SUL, QUE FENÔMENO, TIME FOR FUN, apenas para citar alguns que, de certa forma, têm tido uma aceitável nível de oportunidades, para que possam se consolidar como Reprodutores, e ingressar no Grupo de Elite, nas próximas Temporadas de Monta da Criação nacional do PSI!
A princípio, pude identificar alguns Reprodutores brasileiros que recentemente concluíram suas Campanhas de Pista e iniciaram suas Atividades criatórias mas, praticamente, com muito poucas oportunidades e sem que se possa avaliar, com alguma precisão, o comportamento de seus raros Produtos nas Pistas de Corrida, pois a maioria quase absoluta deles, ainda não chegou a estrear!
Neste Grupo podemos identificar KARÁ DE BIRIGUI, HENDRIX e ANOTHER XHOW que, pelos predicados apresentados em suas Campanhas em Pista, pela generosidade de suas Configurações Genéticas e pelo equilíbrio de seus Fenótipos, merecem ser adequadamente testados como Reprodutores!
Outro pequeno Grupo de PSI brasileiro que merece ser citado, é composto por apenas quatro PSI, dois dos quais, poderão estar iniciando suas Atividades como Reprodutor, e o terceiro, ainda em Campanha nas Pistas de Corrida, ainda não se sabe seguirá para a Reprodução, pelo menos ainda nesta Temporada de Monta de 2017!
Estes quatro Reprodutores, respectivamente, WENZEL BLADE, LEWIS, CONCILIUM e PAINT NAIF, são detentores de excelentes Campanhas nas pistas de Corrida que, por si só, justificaria plenamente o teste deles como Reprodutores, evidentemente, desde que lhes sejam oferecidas adequadas oportunidades, tanto em Quantidade, quanto em Qualidade!
Finalmente, chego ao Grupo de Reprodutores brasileiros da atualidade, que já podem ser considerados como vitoriosos, no exercício de suas Atividades reprodutivas, apesar de as terem iniciado recentemente, como é o caso de SETEMBRO CHOVE, OUT OF CONTROL e FLUKE, este último, lamentavelmente, desaparecido prematuramente, certamente uma pesada perda para a Criação nacional do PSI!
Autor: Orlando Lima
Email: omlimapsi@gmail.com
Acesso pelo RAIA LEVE: www.raialeve.com.br – Colunistas – Orlando Lima
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