Colunista:
O HIPÓLOGO 04/10/2012 - 09h28min
O HIPÓLOGO
I – INTRODUÇÃO
A maioria expressiva dos Turfistas não tem conhecimento deste Elemento, um dos raros Atores que frequentam os bastidores do palco do Turfe, geralmente desconhecido por muitos e reconhecido por poucos. O HIPÓLOGO.
Sob o ponto de vista conceitual, Hipólogo significa conhecedor / “expert” em Cavalos, mas usualmente é aplicado ao “expert” no Puro Sangue Inglês (PSI).
Não é reconhecido como Profissional, pois na realidade sua Atividade precípua não é plenamente reconhecida pela grande maioria dos Criadores que, em última análise, se investem na Atividade do Hipólogo, sem o necessário e indispensável conhecimento, ou seguem a orientação de amigos que se julgam profundos conhecedores deste fascinante animal, o Puro Sangue Inglês (PSI), sem que, em sua maioria, realmente não passem de simples curiosos, diante da complexidade que envolve esta Atividade.
O Hipólogo sempre será um Autodidata, que se dedica ao Estudo e Pesquisa do PSI por pura Paixão e por iniciativa própria, dedicando boa parte de sua vida ao conhecimento dos “mistérios” e imprevisibilidade que cercam a Criação do PSI.
Trata–se de uma Atividade extremamente ingrata, pois o autêntico e verdadeiro Hipólogo tem um compromisso ético de que os eventuais acertos, de fato, devam ser atribuídos e creditados ao Criador que, na realidade, teve o mérito de selecionar adequadamente seus Consultores.
Assim como no Futebol, em que cada Torcedor se julga um Treinador em potencial, no Turfe o autêntico Hipólogo tem que enfrentar a concorrência de curiosos que costumam dar palpites sobre Cruzamentos sem qualquer embasamento técnico / científico, sem que tenham plena consciência da real responsabilidade envolvida no Estudo e Análise de um Cruzamento criteriosamente elaborado.
Em seu famoso e notável livro “Bloodstock Breeding”, considerado como uma autêntica Bíblia sobre a Criação do PSI, Sir Charles Leicester ressalta que: “Basic genetics: bloodstock breeding not an exact science” (Genética básica: a criação do Puro Sangue não é uma ciência exata).
Nesta linha de afirmação, eu acrescento que, além de inexata, é Imprevisível mas, também é TENDENCIOSA.
Em decorrência desta última característica, justifica–se o sacrifício de um punhado de indivíduos, movidos por pura Paixão pelo PSI, em dedicar boa parte de suas vidas ao Estudo e Pesquisa dos “mistérios” que cercam a Criação do PSI, usualmente conhecidos como HIPÓLOGOS.
II – A PRÁTICA
Um aspecto de primordial importância que deve ser alertado e ressaltado, particularmente para o Criador do PSI, é que, na prática, em decorrência da Genética não ser uma Ciência Exata, por mais qualificado que seja, o Hipólogo não pode, nem deve garantir que o resultado de um Cruzamento, ainda que criteriosamente elaborado, certamente alcançará o êxito com a frequência desejada.
Por outro lado, o que pode e deve ser considerado em decorrência de um Plano de Cruzamentos criteriosa e habilmente elaborado, é o expressivo aumento da Probabilidade de que venha resultar em êxito.
Há que ser considerado que, muitas vezes, o Hipólogo não recebe do Criador para o qual elabora os Cruzamentos, as condições disponíveis ideais, ou pelo menos adequadas, para que possa exercer seus atributos na plenitude de seus conhecimentos.
No Brasil, devido às suas dimensões continentais, há três Polos principais para a Criação do PSI, onde estão sediados os principais Plantéis de Matrizes e os mais importantes Reprodutores, ou seja, Bagé / Aceguá no Rio Grande do Sul, São José dos Pinhais / Tijucas do Sul no Paraná e determinadas localidades em São Paulo, Polos estes expressivamente distantes entre si, tornando altamente arriscadas as viagens de Matrizes entre estes Polos, sobretudo quando se encontram prenhes.
Possivelmente, esta é a condição restritiva mais expressiva para o intercâmbio entre os principais Polos da Criação do PSI no Brasil que, com certa frequência, impede ou pelo menos dificulta a elaboração de Cruzamentos melhor ajustados à decisão do Hipólogo na elaboração de um Plano de Cruzamentos (Carta de Monta).
Em última análise, o Hipólogo bem qualificado contribuirá decisivamente para que o fator Sorte, sempre presente na equação da “construção” de um PSI, seja minimizado ou reduzido, enfatizando os aspectos técnicos dessa equação e, consequentemente, reduzindo a influência da Casualidade na concepção de um PSI de qualidade acima da média, refletida em sua performance as pistas de corrida.
III – CONFIANÇA
Para que o Hipólogo possa exercer sua atividade na plenitude de seus conhecimentos e aumentar consideravelmente a probabilidade de êxito com a frequência adequada, quando a Serviço de um Criador, este deve ter plena CONFIANÇA no seu Trabalho.
Neste sentido, o Criador deve propiciar ao Hipólogo a oportunidade de elaborar, especificamente, a Carta de Monta (Plano de Cruzamentos) por, pelo menos, algumas Temporadas, para que possa ajustar o Plantel de Matrizes do Haras seguindo suas convicções técnicas, fator primordial para que os resultados desejados sejam alcançados com a frequência desejada.
Esta é a razão primordial dos Haras que produzem, a cada Temporada, animais de reconhecida qualidade, refletido em resultados auspiciosos nas pistas de corrida.
Tanto no âmbito internacional, quanto no Brasil, há Criadores que atuam como autênticos Hipólogos, em razão de conhecimentos adquiridos ao longo do tempo e, neste caso, destaca–se a figura do italiano Federico Tesio, o Mago, tido como o mais importante Criador do PSI a partir do século 20.
Por outro lado, famosos Criadores como Aga Khan, Lord Derby, Marcel Boussac, entre vários outros, para que chegassem ao elevado nível de qualidade de seus respectivos empreendimentos criatórios, contaram com a expressiva participação de Hipólogos como Cel. Vuiller, George Lambton, Walter Alston, Réné Romanet, Sir Rhys Llewellin, entre outros.
Como citei anteriormente, o Hipólogo vive nos bastidores da Criação do PSI e, a nível internacional, tornaram–se mais conhecidos graças ao livro de Peter Willett, “Makers of the Modern Thoroughbred” (Os Fabricantes do Moderno Puro Sangue), lamentavelmente, um livro da antiga Editora J.A.Allen, muito difícil de ser encontrado à venda, mas ainda assim, basicamente, direcionando o sucesso obtido, primordialmente, aos Criadores e, num segundo plano, aos Hipólogos que serviram a alguns desses exitosos e fundamentais Criadores, em âmbito internacional.
No Brasil, sabe–se da competência de alguns Criadores, profundos conhecedores do PSI, assim como da importância da participação de Hipólogos que prestaram seus Serviços para fundamentais Haras que pontuaram a história da Criação do PSI no Brasil.
Prefiro não citar nomes pois, ainda que involuntariamente, provavelmente estaria cometendo injustiça por omissão, mas não poderia deixar de citar, como homenagem, reconhecimento e gratidão, o meu estimado Mestre, Atualpa Soares, autêntico responsável pelos meus conhecimentos básicos sobre o PSI, nos primórdios de meu interesse e atenção para com o Puro Sangue Inglês (PSI).
O que fica comprovado em relação à importância da participação do Hipólogo na Criação do PSI é a vinculação de cada um deles com determinado Haras, cujo Criador proporcionou os Elementos e as Condições indispensáveis para que pudesse desenvolver seu Trabalho por várias Temporadas de Monta.
Um dos problemas que o Hipólogo tem que enfrentar, é a marcante tendência por parte dos Criadores, de pressionar o Hipólogo a usar nomes com respaldo comercial e de “marketing” que, muitas vezes, não se ajustam à Matrizes para as quais está sendo elaborado o Plano de Cruzamentos, no que se refere à participação do Reprodutor que está sendo selecionado.
Não é outra a razão pela qual assistimos, a partir da década de 80, uma drástica queda no número de Linhagens e “Bloodlines”, refletida nos Reprodutores disponíveis na Criação internacional e nacional do PSI.
Esta tendência, gradual mas intensa, é a razão principal pela qual as Campanhas nas pistas dos melhores “racehorses” e “racemares” são abreviadas, para que sigam para a Reprodução, muitos dos quais já portadores de alguma lesão comprometedora.
IV – PLANEJAMENTO GENÉTICO
Após mais de 40 anos de Estudos, Análises e Pesquisas sobre o PSI, a partir de 2008 procurei dar uma conotação profissional à Atividade inerente ao Hipólogo, disponibilizando aos Criadores do PSI o que convencionei chamar de Planejamento Genético.
A princípio, o Serviço que prestava resumia–se ao Estudo e Análise de Cruzamentos, envolvendo, exclusivamente, os aspectos Genéticos (Genótipo) e Físicos (Fenótipo) de Matrizes e Reprodutores.
Com o decorrer de alguns Trabalhos elaborados, verifiquei que, para aumentar a probabilidade de êxito para os Resultados desses Trabalhos, deveria agregar ao Planejamento Genético, aspectos primordiais envolvendo, além do Estudo dos Cruzamentos, a Criação e o Desenvolvimento dos Produtos nos Haras em que nasceram e, sobretudo, concebendo um Projeto envolvendo Atividades de CONDICIONAMENTO e DOMA, praticados após sua saída do Haras, sendo entregue ao Treinador com um Relatório–Resumo das principais características potenciais do Produto, visando alertar o Treinador, para facilitar seu Trabalho, sobretudo no período de Treinamento inicial que antecederá sua estreia nas pistas de corrida.
Reconheço que Planejamento Genético seja uma expressão que não reflete exatamente toda a extensão dos Serviços incorporados, mas julgo que seja uma expressão devidamente conhecida para que venha a ser alterada.
Realizei o Planejamento Genético, sobretudo no que se refere ao Plano de Cruzamentos e Análise de Pedigrees, para cerca de 30 Criadores e Proprietários de Matrizes e Reprodutores, mas apenas 3 (10%) deram continuidade à sequência de Planejamentos Genéticos desde 2008, obtendo resultados, no mínimo satisfatórios, nas pistas de corrida.
Nestes 4 anos de Trabalhos realizados, portanto, a maioria dos Criadores realizou o Planejamento Genético para apenas uma única Temporada de Monta, evidenciando e explicando, na prática, a enorme dificuldade para concretizar a profissionalização dessa Atividade, constituindo–se numa autêntica “barreira cultural” para boa parte dos Criadores no Brasil.
Apesar de reconhecer que se tratando do PSI não existe “Verdade Absoluta”, muito menos o “Dono da Verdade”, seguindo minhas convicções respaldadas em mais de 40 anos de Pesquisas, continuo presenciando a um autêntico festival do DESPERDÍCIO de tempo e dinheiro, refletido num expressivo número de animais com capacidade locomotora limitada, em sua grande maioria portadores de visível fragilidade físico–orgânica, com curtas Campanhas nas pistas, ou pelo menos com Campanhas seriamente comprometidas, resultantes de concepção genética e física equivocadas, provavelmente decorrentes da ausência ou de um Planejamento Genético equivocado.
V – A EQUAÇÃO do PSI
Sou Economista e entre as Matérias que fizeram parte do Curso, uma delas despertou minha atenção e interesse, fazendo com que eu aprofundasse meus Estudos além dos limites consignados no Currículo Acadêmico da Faculdade de Economia: FILOSOFIA.
A Filosofia foi um instrumento de primordial importância para a Metodologia que adotei no desenvolvimento de meus Estudos, Análises e Pesquisas sobre o PSI, baseada na sequência das Etapas de Leitura, Avaliação, Percepção, Intuição e Conclusão sobre os aspectos que considerei e ainda considero (continuo pesquisando) mais importantes relacionados com a Criação deste fascinante e desafiante animal.
Assim sendo, os atributos resultantes de todos esses anos dedicados ao conhecimento do PSI, foram incorporados à elaboração do Planejamento Genético que venho realizando e intensificando nestes últimos 4 anos.
Esta peculiaridade incorporada às minhas Pesquisas permitiram chegar a uma Conclusão que resume e converge para as Variáveis que integram a Equação para a formulação de um Produto (PSI) com a pretensão de que seja dotado de um alto padrão de qualidade:
PSI = Seleção da Matriz + Adequação do Reprodutor (Plano de Cruzamento) + Gestação Adequada + Desenvolvimento do Produto no Haras + Condicionamento e Doma do Produto + SORTE
Grifei a variável SORTE, porque este é o Fator que, apesar da elaboração de um Planejamento Genético adequado, respeitando–se o correto cumprimento das demais variáveis da Equação, poderá interferir na graduação do nível de qualidade do Produto.
Esta é a razão pela qual, por mais criteriosa e adequada que seja a elaboração de um Planejamento Genético, não se pode garantir 100% de êxito para que seja obtido um elevado nível de qualidade do Produto projetado pelo Planejamento Genético.
A Sorte tem uma correlação direta com a CASUALIDADE e, assim sendo, o Produto resultante da ausência do Planejamento Genético, no que se refere à variável relativa ao Plano de Cruzamento, terá seu nível de Qualidade totalmente dependente da Casualidade.
O Produto resultante de um Planejamento Genético criteriosamente elaborado, com todas as variáveis da Equação adequadamente realizadas, terá a probabilidade de êxito expressivamente aumentada, reduzindo a influência da variável Sorte (Casualidade), no nível de Qualidade do Produto projetado.
A explicação simples e objetiva da conclusão que cheguei sobre este aspecto de capital importância para o PSI tem a haver com o arranjo dos Genes, herdados da Matriz e do Reprodutor selecionados, nos pares de Locus que irão constituir o Cromossomo, unidade genética responsável pela Estrutura Físico–Orgãnica do Produto projetado.
Segundo o meu entendimento esse Arranjo Genético nos Locus, responsável pela qualidade da formação cromossomática, é a razão primordial pela qual, com expressiva frequência, nos vemos diante de Irmãos Próprios, em que um deles se apresenta como um autêntico Craque e o outro como um 5 anos perdedor!
Evidentemente, o Hipólogo não tem como interferir no momento em que esse Arranjo Genético ocorre, mas certamente ele pode interferir positivamente, disponibilizando os Genes mais adequados, por ocasião da elaboração do Plano de Cruzamentos, aumentando expressivamente a probabilidade de Arranjos Genéticos mais adequados e, desta forma, reduzindo expressivamente o peso do Fator Sorte, e portanto da Casualidade, na graduação do nível de Qualidade do Produto projetado por um criterioso Planejamento Genético.
VI – CONCLUSÃO
Entre os principais aspectos a serem destacados envolvendo a participação do Hipólogo no Planejamento Genético de um Puro Sangue inglês (PSI), devemos enfatizar os seguintes:
1º – Fundamental CONFIANÇA do Criador no Trabalho do Hipólogo;
2º – O Criador possibilitar ao Hipólogo a oportunidade de proceder à Formação e / ou Ajuste do Plantel de Matrizes de seu Haras, através da elaboração do Planejamento Genético por diversas Temporadas de Monta (pelo menos 5 Temporadas);
3º – O Criador não pressionar o Hipólogo, por ocasião da elaboração da Carta de Monta (Plano de Cruzamentos), impondo o uso de Reprodutores comercialmente amparados e patrocinados, sem o indispensável respaldo de adequados critérios técnicos;
4º – O Hipólogo deve elaborar o Planejamento Genético, considerando todos os seus Segmentos Conceituais, refletidos nas variáveis da Equação do PSI, contando com a anuência e apoio do Criador;
5º – O Criador proporcionar ao Hipólogo, as CONDIÇÕES fundamentais e ideais para a realização de seu Trabalho;
6º – O Hipólogo, por deferência ética, deve se comportar de forma que, de Fato, o êxito eventualmente alcançado seja creditado ao Criador.
Orlando Lima – omlimapsi@gmail.com
Blog: www.goldblendconsultoria.blogspot.com
Acesso pelo RAIA LEVE: Links / Brasil / Consultoria Goldblend
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