Colunista:
De Turfe um pouco..., por Mário Rozano 15/08/2011 - 13h37min
CONGREVE O PRIMEIRO CHEFE DE RAÇA SUL–AMERICANO
Em março deste ano, a Associação Brasileira de Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida, disponibilizou em todo o País o excelente primeiro exemplar da Revista Horse Puro Sangue Inglês – Turf e Fomento. A publicação, com periodicidade inicial quadrimestral, vem suprir a lacuna deixada pelas importantes revistas, Puro Sangue Inglês e Turf e Fomento, igualmente de edição da ABCCPC, que circularam com destaque nas décadas de 70 a 90.
A nova publicação nos dias de hoje, além de fundamental para a divulgação da atividade abordando todos os seus segmentos, nos remete ao início da década de 60, não obstante o esdrúxulo Decreto 50.578, de 12 de maio de 1961, pelo qual o então presidente Jânio Quadros, que provocou uma crise sem precedentes, colocando em risco o turfe nacional, o turfe não deixou de viver um grande momento. No Rio Grande do Sul, o imponente Hipódromo do Cristal – recentemente inaugurado e considerado a obra da arquitetura moderna mais importante do Estado, consolidava sua condição de terceiro centro turfístico do País e os principais criadores gaúchos começam a descobrir os campos localizados na região da fronteira com os países do Prata como a Kentucky brasileira, sendo logo seguidos por seus coetâneos do país e até do exterior.
A revista Turf No Sul, editada em 1962, por iniciativa do Jockey Club do Rio Grande do Sul, trazia em suas páginas matérias sobre o turfe nacional e internacional, principalmente sobre elevage. Seu redator–chefe; Carlos Reverbel, um intelectual, escritor, jornalista, pecuarista e sobre tudo apaixonado turfista – proprietário do inesquecível Haras Vacacaí, era um obstinado pela excelência da informação sobre o tema e que muito contribuiu para desenvolvimento da criação gaúcha e nacional.
Na edição de nº 2 de 1962, com texto assinado pelo redator, a matéria CONGREVE, Primeiro Chefe de Raça Sul–Americano é digna de registro e deve ser motivo de reflexão para os interessados na criação do PSI e, para os amantes do esporte das rédeas. Como uma das funções da História é mostrar o que o presente contém do passado, se torna necessária sua divulgação:
“Como se não bastassem outros argumentos, Congreve veio demonstrar que o puro–sangue inglês não só pode conservar as suas qualidades, fora do meio de onde é originário, como ainda contribuir para aprimorá–las. Nenhum cavalo superou o papel desempenhado pelo grande filho de Copyright e Per Noi no turfe e no elevage argentino, o qual depois de ter sido um gigante nas pistas, se transformou no notável pai e avô, sendo um extraordinário chefe de raça, o primeiro que se formou na América do Sul.
Daí o particular interesse de que se reveste a sua atuação, sob o quádruplo aspecto de “performer”, pai, avô e já agora chefe de raça, para todos quanto quantos, neste parte do hemisfério, cultivam o PSI e acreditam nos seus altos destinos, não medindo esforços para que isto se concretize, no quadro geral dos demais ramos da pecuária, de que a criação do cavalo de corrida faz parte integrante, podendo se transformar numa atividade de real significação econômica e social e de verdadeira utilidade pública.
Os amigos argentinos não cessam de reconhecer e proclamar a influência de Congreve na criação sul–americana, com sobradas razões, devendo acrescentar–se que essa influência já está se manifestando em escala mais ampla, graças ao papel que descendentes do glorioso chefe de raça passam a desempenhar, de algum tempo a esta parte, nos Estados Unidos, sobretudo depois que lá se encontram Nigromante (seu melhor neto paterno) e Yatasto (seu melhor neto materno)”.
A seguir a matéria sobre Congreve publicada na época, pela Associação Cooperativa de Cavalos Puro Sangre de Corrida da Argentina:
“À medida que transcorrem os anos, a influência de Congreve como pai, avô e chefe de raça nos faz compreender que a sua passagem pela reprodução tem tido uma influência que está fora de comparação com a dos mais afamados sementais do mundo. Ele mesmo, como país de grandes ganhadores, e logo seus filhos e filhas, produzindo vencedores nas mais importantes competições do país e de outros centros da América, permitem compará–lo ùnicamente com o famoso chefe de raça Saint Simon, que dominou o elevage britânico e, por consequência, o de todas as partes do mundo, durante muitas décadas. Outro grande reprodutor, em diversos países, teve certamente um desempenho sensacional como produtores de animais clássicos, como são os casos de Stockwel e Hemit, na Inglaterra, de Ajax e Bruleur, na França, etc. Mas, nenhum salvo o citado Stockwel se há digno como Congreve, tanto por seus filhos como por suas filhas.
Congreve, nascido no Haras El pelado em 1924, pertenceu à primeira geração de Copyright e realizou uma campanha de primeira ordem nas pistas. Ganhou inúmeros clássicos, entre eles, no país o Carlos Pellegrini, a Polla de Potrillos, o General Pueyrredón entre outros e o GP Municipal, em Maroñas. Levado ao Haras Ojos de Agua, em 1931, seus primeiros filhos nasceram em 1932. Morto em fins de 1944, deu seus últimos produtos neste mesmo ano. Treze gerações deixou o neto de Tracery.
Em treze produções, nasceram 282 filhos de Congreve (138 potrilhos e 144 potrancas). Desse total, 13 morreram antes de completar um ano e outros 23 morreram sem ter corrido. Dos 246 filhos que chegaram ao entreinamento, correram 210, resultando ganhadores 177 deles e outros 15 lograram colocações em place.
Foram 48 os vencedores clássicos, entre eles, Ix, La Mission, Embrujo. Churrinche, Bom Vin, Avestruz, Quemaitá, Heil, Blackie, Dalilah, Judea, Zurrún na Argentina, e no exterior, Kayak, Uranio, Murano etc.
Congreve apareceu como reprodutor, nas estatísticas argentinas, em 1935, figurando em segundo lugar. Depois, até 1950, quando correu seu último filho em Buenos Aires, apareceu sete vezes em primeiro colocado. Seus filhos neste período venceram 597 corridas.
Os melhores filhos de Congreve, como reprodutores, foram; Embrujo, Avestruz, Churrinche, Milón, Strand, Haut Brion, Médicis, Ix, Clarin, entre outros no país, e no exterior, Uranio, Mazzarino, Brick, El Homero, etc. Durante 17 anos, entre 1941 e 1957, Congreve figurou 11 vezes em primeiro lugar nas estatísticas argentinas como avô paterno, sendo que seus netos paternos ganharam 4.396 corridas, número atualmente muito mais elevado, pois o referido levantamento vai somente até o ano de 1957.
Entre os melhores netos maternos de Congreve, contam–se os seguintes: Yatasto, Acadêmico, Empeñosa, Doria, Parral, Bem Omar, Cancagua, Bambino, Bambuca, Jubilosa, Geniun, Alumbre, Môme, Qui Vive, Margot, Rey Claro, Quetral, etc. Durante o período que vai de 1941 a 1957, Congreve figura 7 vezes em primeiro lugar nas estatísticas argentinas de avôs maternos. Seus netos maternos venceram 903 corridas.
Atualmente prestam serviços nos diversos haras do país 1032 reprodutores que são filhos, netos e bisnetos de Congreve. O seu descendente mais destacado, nos últimos anos, nas estatísticas de reprodutores foi Nigromante, presentemente servindo nos Estados Unidos, juntamente com Yatasto. Também tem figurado, destacadamente nas estatísticas, Churrinche, Acadêmico, Fascinador e Penny Post, o primeiro filho e os outros netos do extraordinário chefe de raça.
Um cálculo simples estabelece que, presentemente, um milhar de descendentes de Congreve e mais 100 sementais com a mesma origem, estes cobrindo éguas alheias a essa corrente de sangue, produzem um total que anda por volta de 1.600 animais por ano, com ascendência com do filho de Copyright, o que significa 20% da produção anual do PSI na Argentina.
Por fim deve se destacar um fato significativo, ou seja, a compra, por criadores norte–americanos dos dois netos mais destacados de Congreve: Nigromante, neto paterno, e Yatasto, pelo ramo materno, concretizam o que pode ser chamado à consagração do grande chefe de raça e, por conseguinte da criação argentino em escala mundial”.
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