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Turfe – OSAF, Brasil, e o turfe do continente em 2011, por Sergio Barcellos 16/05/2011 - 11h27min
No dia 11 de março de 2011, véspera do GP Latino Americano corrido no hipódromo de San Isidro, nas cercanias de Buenos Aires, realizou–se a Assembléia da Organização Sul Americana de Fomento (OSAF), entidade regional que congrega o turfe do continente e o representa junto aos vários organismos ligados à Federação Internacional das Autoridades Hípicas (FIAH), com sede em Paris, França.
Compareceram à Assembléia os representantes das principais sociedades promotoras de corridas filiadas à OSAF, entre as quais a Associação Brasileira dos Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida (ABCPCC); o Jockey Club de São Paulo; o Hipódromo Nacional de Maroñas (Uruguai); Club Hípico de Santiago e Hipódromo de Chile; Hipódromo Argentino de Palermo e Jockey Club Argentino; Jockey Club del Perú; Hipódromo de La Plata (Argentina); Hipódromo de La Punta (Argentina); Associação dos Criadores Argentinos del Sangre Pura de Carreras; Hipódromo de Las Americas (Panamá); Hípica Rio Platense (Uruguai), além dos dirigentes dos vários Stud Books nacionais, e de outras entidades de classe da indústria sul–americana do cavalo de corridas.
Coordenada pelo presidente do Conselho Técnico Executivo do órgão e membro permanente da Federação Internacional, Sr. Horacio Walter Bauer, o conjunto das reuniões técnicas preliminares contou, ainda, com a participação dos Srs. Ciaran Kennely, irlandês, “Handicapper” da Federação Internacional, e Roland Delvoz, PhD, francês, do corpo técnico anti–doping da FIAH.
A sessão de encerramento dos trabalhos, realizada nos salões do 3º andar do Hipódromo de San Isidro, foi conduzida pelo Sr. Bruno Quintana, presidente da OSAF e do Jockey Club Argentino.
Dos dois dias de sessões e debates, resultaram algumas decisões importantes. Parece razoável discorrer sobre as mesmas, de modo a fornecer um panorama geral da atualidade do turfe sul–americano. Como se segue.
Ratings dos animais e o ranking das provas dos calendários clássicos sul–americanos
Como se sabe, a partir do ano de 2010, a Federação Internacional estabeleceu normas mais rígidas de regulação e controle dos “ratings” dos animais em todo o mundo, normas essas que atendem à nova base metodológica fixada pelo WTRC (Comitê de Rankings Mundiais do Puro Sangue de Corrida), entidade que define quais as provas dos calendários clássicos de cada país que devem ser promovidas de status, rebaixadas, ou simplesmente retiradas dos citados calendários.
Assim sendo – e como o ranking das mencionadas provas é conseqüência da evolução, positiva ou negativa, dos “ratings”, apropriados mensalmente, dos animais que as disputam –, vai longe o tempo em que as programações clássicas nacionais contavam apenas com a justificativa da tradição para serem mantidas em seus formatos originais.
Por outras palavras, doravante, para se conservar intocada a quantidade de provas de Grupo com que contam os vários hipódromos dos países da região, será necessário que a avaliação qualitativa dos animais que as disputam esteja em perfeita consonância com a graduação das aludidas provas. Caso contrário, correções e ajustes terão inevitavelmente que ser realizados.
Assim, para evitar qualquer problema no futuro imediato, no que respeita à forma dos calendários clássicos sul–americanos vis a vis as autoridades internacionais (leia–se WTRC e IRPAC), a OSAF criou, em 2010, seu Comitê Sul–Americano de Ratings, do qual o Brasil participa através do Comitê de Ratings da ABCPCC.
Nos próximos 2 (dois) anos, a lógica dos calendários clássicos da América do Sul será avaliada desse modo, fato que vincula diretamente a manutenção do atual formato de nossas programações clássicas à eficácia do funcionamento, não só do Comitê Sul–Americano de Ratings, como também no caso específico do Brasil, do Comitê de Ratings da ABCPCC. As decisões mencionadas acima foram tomadas nas reuniões da WTRC, primeiramente em Paris (por ocasião da reunião anual da Federação Internacional), e depois em Hong Kong, quando bateu–se o martelo, e fixaram–se as regras de conduta a respeito.
Infelizmente, não conseguimos, em 2010, indicar representante a nenhum dos dois conclaves, ou seja, nem à reunião anual da FIAH (onde, aliás, o Jockey Club Brasileiro possui dois assentos), muito menos à reunião da WTRC, em Hong Kong. Ainda assim, as autoridades da OSAF continuam confiando que não está longe o dia em que será possível integrar plenamente a América do Sul (e o Brasil) ao sistema mundial dos rankings das provas de Grupo.
Por oportuno, é possível informar que a próxima reunião do Comitê Sul–Americano de Ratings da OSAF, com a presença de todos os “handicappers” do continente, será realizada – sob os auspícios e iniciativa da diretoria da ABCPCC –, na cidade do Rio de Janeiro, em agosto, durante a semana que antecede a realização do GP Brasil 2011. As providências nesse sentido já estão sendo tomadas por aquela Associação.
Medicação
Na Assembléia da OSAF, em Santiago do Chile, também por ocasião da realização do GP Latino Americano, decidiu–se, por unanimidade de votos, que, a partir de 1° de janeiro de 2013, nenhuma prova do calendário clássico do continente poderia ser corrida com o uso da furosemida.
É importante notar que o Brasil, por iniciativa da ABCPCC, antecipou–se a essa proibição, recomendando às sociedades promotoras de corridas que vedassem o uso da furosemida em todas as provas “black type” de nossa programação clássica, já a partir de 1° de janeiro de 2011.
A decisão brasileira foi alvo de felicitações por parte da presidência do Conselho Técnico Executivo da entidade. Igualmente, mereceu elogios formais a palestra (considerada excepcional) dos responsáveis pelo Laboratório de Controle Anti–Doping do Jockey Club de São Paulo, proferida na véspera, durante o II Encontro Sul–Americano de Laboratórios, realizado em paralelo à Assembléia da OSAF.
Textualmente, consta da Ata da Assembléia, uma referência, não só ao trabalho do laboratório paulista, como à decisão do Brasil:
“A impecável implementação da medida levada adiante [pelo Brasil]...onde os cavalos não têm problemas para correr [sem medicação] e, ao contrário, o estão fazendo cada vez melhor...contribui para incorporar nacionalmente esse critério, que [ademais] se adéqua ao que a Federação Internacional espera de toda a América do Sul.”
Certificado de exportação
Após a reunião do Comitê Internacional de Stud Books, realizada em Newmarket, Inglaterra, onde a OSAF se fez representar pelo Dr. Ignacio Pavlovsky (pai), decidiu–se pela implementação de um novo Certificado de Exportação para todos os animais da América do Sul, onde conste o pedigree completo do cavalo, nome do criador, marcas características do produto, além de outras informações importantes.
Sob este aspecto, lembra o Dr. Pavlovsky que é essencial fazer constar no certificado, doravante, a identificação do “microchip” de cada animal, visando prevenir hipóteses de troca de identidade entre exemplares, que já ocasionou, no passado, demandas judiciais de milhões de dólares contra o Stud Book envolvido. Assim, a partir de 2011, deu–se início à “microchipagem” de todos os potros antes do desmame, além de se levantar os chamados “marcadores de DNA” dos mesmos.
No Brasil, ademais da troca do antigo laboratório que realizava os exames de DNA pelo da Universidade de São Paulo, a ABCPCC – Stud Book Brasileiro passou a trabalhar com 15 marcadores de DNA, ao invés dos 8 ou 9 anteriores, e as gerações 2009 e 2010 já se encontram “microchipadas”, bem assim, os animais exportados pelo país são implantados em sua totalidade, independente da idade, campanha, ou destino.
OSAF e Federação Internacional
Foi dado saber na Assembléia, que a OSAF esteve presente nos últimos encontros de todos os Comitês da Federação Internacional das Autoridades Hípicas, sem exceção, representada na ocasião pelos Srs. Antonio Bullrich (Hipódromo Argentino de Palermo), Ignacio Pavlovsky (vice–presidente do Conselho Técnico Executivo da OSAF), Horacio Bauer, e o próprio presidente da organização e do Jockey Club Argentino, Sr. Bruno Quintana.
Foram estas, em resumo, as principais questões debatidas no âmbito da organização regional, a par das conclusões das várias reuniões técnicas, que se estenderam entre os dias 9 e 10 de março, nas dependências do Jockey Club Argentino.
Observações finais
. É notório serem cada vez maiores e mais insistentes as solicitações da Federação Internacional, no sentido de tornar mais dinâmica a graduação das provas de Grupo em todo o mundo, evitando–se que as programações clássicas locais se cristalizem em torno de dogmas e esquemas estabelecidos, alguns deles, há décadas.
A lógica de tais solicitações, não se baseia simplesmente no fato de se desejar mudar por mudar a graduação (leia–se, os rankings) dessas provas, e sim, na admissão de que o decurso do tempo, ao fazer desaparecer a importância relativa de algumas delas nos cenários nacional e internacional, criou as condições para que outras pudessem ser promovidas de status.
Assim, o turfe do mundo moderno caminha no sentido de induzir a permanente revisão das programações clássicas, nelas introduzindo os conceitos de maior dinâmica na elaboração das graduações da programação clássica anual.
. Entretanto, a forma de promover e justificar os acessos e decessos das citadas provas, toma por base a qualidade intrínseca dos animais que delas participam, em especial a qualidade dos primeiros 4 colocados em cada uma delas, ano após ano.
Essa qualidade é medida pelos “ratings” – expressos em libras–peso – desses animais. Daí, a importância que hoje se atribui aos “pré–ratings” (antes da realização das provas) e “pós–ratings” (depois delas), todos eles consignados livremente pelos vários “handicappers” no site internacional destinado para tal. Em outras palavras, hoje há uma avaliação global e permanente de cada cavalo dito “clássico” do turfe internacional.
E é essa avaliação que vai confirmar, ou não, o ranking da prova, como sendo de Grupo I, II, III ou “Listed Race.” Bem ou mal, é assim que funciona o turfe internacional de nossos dias.
. No caso da América do Sul, temos 2 (dois) anos para sedimentar o trabalho de construção e avaliação dos “ratings” dos animais do continente. Findo este prazo, será impossível evitar um debate mais sério a respeito da manutenção, como provas de Grupo I, de alguns dos atuais confrontos do turfe do continente.
Isto não quer dizer que os turfes nacionais estejam compulsoriamente obrigados a rever a graduação de seus calendários clássicos.
Mas quer dizer, sim, que a graduação de determinadas provas pode deixar de constar da classificação internacional, com as conseqüências daí resultantes em matéria do mercado mundial de compra e venda de produtos. Ou seja, é possível admitir que alguns turfes sejam progressivamente empurrados para o paroquialismo e condenados à irrelevância por falta de adaptação aos novos conceitos de “ratings” e, via de conseqüência, dos rankings de suas principais provas.
Aliás, foi somente para prevenir–se dessa hipótese que a OSAF instituiu o Comitê de Ratings do continente, do qual faz parte o Brasil, através da ABCPCC.
. Finalmente, no que respeita ao uso de medicação em provas da programação “black type”, parece razoável admitir que o país deu um passo na direção certa, ao proibir a furosemida já a partir de janeiro deste ano. Neste particular, nos colocamos, sem dúvida, alguns anos à frente do turfe do continente.
Faltaria apenas entender que a participação de nossos representantes nas reuniões das associações internacionais, principalmente as da Federação Internacional, além de necessária, ajudaria, em muito, na defesa dos superiores interesses da criação e do turfe brasileiro como um todo.
Não indicar ninguém, e, conseqüentemente, deixar que terceiros falem em nosso nome e defendam nossos interesses, parece ser uma perspectiva bastante otimista, para dizer o mínimo.
Rio de Janeiro, 13 de maio de 2011
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