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Floreando, por Milton Lodi 14/10/2010 - 11h57min
O Latino Americano – 2010
Uma tarde luminosa e adorável, um panorama privilegiado pela natureza, um lindo hipódromo bem maquiado e com a calculada presença de cerca de 50 a 60 mil espectadores, 25 páreos cheios, um grande entusiasmo em ambiente festivo. Tudo muito bom, com a tradicional boa acolhida dos chilenos. A grande atração era a esperada vitória da campeã chilena Belle Watling, brilhante 4 anos, considerada uma corredora de exceção, um dos melhores produtos da criação chilena em todos os tempos.
Correram 14 animais, sendo que os previstos uruguaios não puderam viajar por motivo de local gripe eqüina (será que lá como no Brasil as vacinações são obrigatórias?), da Argentina foi apenas um, montado pelo especialíssimo Pablo Falero, um norte–americano representando o Peru, quatro brasileiros e oito do Chile. Dos quatro brasileiros, dois de Cidade Jardim, de bom padrão mas não de grupo I, que montados por dois bons jóqueis de São Paulo, e dois do JCB, o ganhador do G.P. São Paulo: Sal Grosso, montado pelo excelente Luiz Duarte, e por Timeo: ótimo nome da primeira turma brasileira, pilotado pelo também muito bom e experiente Marcelo Cardoso. Os dois treinadores eram Venâncio Nahid e Dulcino Guignoni, dois expoentes do turfe carioca.
O Jockey Club de São Paulo lavrou brilhante êxito turfístico, aproveitando–se de não promover corridas naquela sexta–feira, transmitiu ao vivo pela televisão todo o programa daquela tarde, direto, sem interrupções, na verdade um show. O Jockey Club Brasileiro retransmitiu apenas o páreo, dentro de sua programação das corridas das sextas–feiras.
Os horários dos páreos foram rigorosamente cumpridos, e a televisão Chilena acompanhando a campeã local quase que ininterruptamente. Égua forte, tipo bem chileno, muito boa qualidade.
Até aí, tudo muito bom, mas na hora do páreo começaram as impropriedades. Enquanto os competidores eram conduzidos para entrarem no partidor, atrás deles perto e dentro da pista, um grande numero de curiosos, gente completamente estranha, inclusive uma mulher com uma criança no colo. A corrida em si foi muito bonita, até a entrada da reta, quando o representante peruano já estava fora do páreo por não ter feito a curva. A boa égua chilena corria em 5º ou 6º lugar, tendo Sal Grosso logo atrás e Timeo os seguindo. Virada a reta, naturalmente os bons jóqueis procuraram o centro da pista, não tentaram passagens através o natural trafego intenso por dentro. A égua rapidamente arrancou para assumir a ponta, no que foi imediatamente seguida por Sal Grosso e Timeo. Sal Grosso avançou fortemente pela esquerda da égua (o sentido no Club Hípico de Santiago é ao contrário), que começou a abrir para cima dele. A égua foi três balisas, três linhas para fora, levando Sal Grosso no movimento, e embora os dois não houvessem se chocado, pois Sal Grosso instintivamente se afasta da égua, fugia do contato, era visível o manuseio das rédeas por H.I. Barrios em desviar propositalmente. Enquanto isso, Timeo, que vinha logo atrás, teve que ser desviado para a direita, para dentro. A égua defendia–se bravamente, manteve meia cabeça de vantagem sobre um Sal Grosso impedido de avançar normalmente. O propositado desvio da égua sobre o cavalo deu oportunidade aos que vinham mais por dentro, tendo um chileno com o caminho desembaraçado que lhe proporcionou chegar com diferenças entre os três primeiros de meia cabeça e cabeça. O que se viu então foi um delírio coletivo, a raia foi invadida por populares até sem camisas, aos gritos em incontido entusiasmo, enquanto o locutor clamava por "uma coroa para a rainha". O que aconteceu foi inesperado e chocante, antes de ser repesado o jóquei foi abraçado pela multidão, agarrado, tomaram–lhe o chicote, a transmitida repesagem mostrou uma balança trepidante e inadequada sacudida pela multidão, na pista uma invasão despropositada com bandeira e clima de "arrastão", tudo isso sem o páreo estar confirmado pela justa reclamação de Sal Grosso. Eu tenho a impressão que se houvesse a justíssima desclassificação, ia haver sangue, um quebra–quebra.
Até a entrada dos animais na reta final do Latino–Americano, tudo muito bom. Dali em diante, é melhor não comentar.
Se a ótima égua chilena for levada a correr em San Isidro quando do Pellegrini, ou a Cidade Jardim para o G. P. São Paulo, se houver repetição do ocorrido no lindo Club Hípico de Santiago, vai ser sumariamente desclassificada.

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