Colunista:
A CRIAÇÃO NACIONAL – TEMPORADA DE MONTA 2009 / 2010 21/04/2010 - 11h54min
A CRIAÇÃO NACIONAL – TEMPORADA DE MONTA 2009 / 2010
I – INTRODUÇÃO
Em entrevista concedida na véspera da Dubai World Cup, o Treinador Mick de Koch, de renome e reconhecimento internacional, ressalta um aspecto fundamental sobre a Criação sul americana, citando particularmente a Criação da Argentina, sobre a excessiva influência da Criação norte americana, determinando um alto índice de incidência de hemorragia que caracteriza esta Criação, refletida em expressiva parte de seus Produtos.
Como conseqüência, assinala que, para esta Temporada de 2010, tanto a África do Sul, quanto a Godolphin, não fariam aquisições de Produtos da Criação sul americana, particularmente da Criação argentina.
Há alguns anos, venho alertando os Criadores brasileiros para a excessiva americanização de nossa Criação, sobretudo, pela forte concentração no uso de Reprodutores descendentes de apenas duas “Bloodlines”, de Mr. PROSPECTOR e de NORTHERN DANCER, caminhando rapidamente para a intensificação da Consangüinidade, cujos efeitos nefastos, entre outros, apontam para elevar a ocorrência da hemorragia de Produtos criados sob a orientação do excessivo uso de Reprodutores descendentes dessas duas “Bloodlines”.
Como sempre, devo ressaltar que não sou contrário ao uso de Reprodutores norte americanos, mas certamente ao excessivo, indiscriminado e concentrado uso de descendentes dessas duas “Bloodlines”, sobretudo, quando em detrimento do uso de descendentes de outras “Bloodlines” que contribuíram, decisivamente, para a evolução experimentada pelo PSI, principalmente no transcurso do século 20.
Devemos observar, ainda, sobretudo no que envolve descendentes de NORTHERN DANCER, que seus filhos SADLER’S WELLS e NIJINSKY, apresentam características próprias e distintas das mais usuais encontradas na grande maioria dos descendentes daquele notável Reprodutor, o que contribui positivamente para facilitar o Planejamento Genético de seus descendentes.
O fundamental é o equilíbrio no uso dos descendentes de NORTHERN DANCER e de Mr. PROSPECTOR, com descendentes de outras “Bloodlines”, inclusive com outras típicas da Criação norte americana, como, por exemplo, da Linhagem de HIMYAR, através das “Bloodlines” de DOMINO (ACK ACK / BROAD BRUSH) e de ROUGH’N TUMBLE (HOLY BULL), além de procurar a essencial Complementariedade Genética, em “Bloodlines” com características européias.
Não custa lembrar mais uma vez, que o modelo de nosso Turfe é o europeu, cuja Criação atual vem sendo pautada, com excelente resultado, pelo “blending” (mistura) dos melhores “strains” europeus e norte americanos.
Apenas para ilustrar com exemplos, neste domingo, LEWIS, vencedor do Derby Cruzeiro do Sul (2400m, pista de grama, 3ª Prova da Tríplice Coroa Carioca, típica do Calendário Clássico europeu) no expressivo tempo de 2’26’’, resultou do “encaixe genético” entre THIGNON LAFRÉ (Pai) descendente da Linhagem de HURRY ON, “Bloodline” de SASSAFRAS, por sua “high line”, com a norte americana, TODA PROSA, filha de ROANOKE (Avô Materno), norte americano descendente da Linhagem de St. SIMON, “Bloodline” de RIBOT, típica da criação européia, mas que serviu na Criação norte americana, por sua “middle line”.
No mesmo domingo, foi disputado o GP Zélia Gonzaga Peixoto de Castro (2400 m, pista de grama, 3ª Prova da Tríplice Coroa das Potrancas, típica do Calendário Clássico europeu), foi vencida por DEAR NATI, resultante do “encaixe genético” entre CRIMSON TIDE (Pai) filho de SADLER’S WELLS (Alinhamento tipicamente europeu de NORTHERN DANCER), por sua “high line”, com MISS DODGE, filha de DODGE (Avô Materno), filho de Mr. PROSPECTOR, “Bloodline” típica da Criação norte americana, por sua “middle line”, refletindo o salutar “blending”, dos melhores “strains” europeu e norte americano, que vem sendo adotado, com êxito, pela Criação européia.
Recentemente, o RAIA LEVE exibiu a listagem dos Reprodutores nominados pelo Stud Book Brasileiro, que participaram da Temporada de Monta de 2009, refletindo e ratificando o intensivo e indiscriminado uso de Reprodutores típicos da Criação norte americana, tendência que vem sendo observada, sobretudo, a partir da década de 90, em flagrante contraposição às características européias de nosso modelo de Turfe.
Para melhor ilustrar esta tendência de nossa Criação do PSI, vamos comparar com a posição dos Reprodutores adotados na Temporada de Monta de 2008.
II – TEMPORADA de MONTA de 2009
Antes de tudo, torna–se de fundamental importância ressaltar o dado que mais me preocupa, pois evidencia a redução da produção de nossa Criação, refletida no decréscimo da ordem de 5,2 % do Plantel de Matrizes de nossa Criação, que assinalava 3 985 Matrizes na Temporada de Monta de 2008, e apenas 3 776 Matrizes na Temporada de Monta de 2009.
No que se refere aos Reprodutores, houve uma redução da ordem de 12,6 % no Plantel de Reprodutores que na Temporada de Monta de 2008 era de 277 Reprodutores e na de 2009 registrou 242 Reprodutores, o que, ao contrário da redução no Plantel de Matrizes, não chega a preocupar, pois expressa uma maior concentração no uso de determinados Reprodutores, usualmente, melhor qualificados.
Para termos um melhor padrão de referência e qualificação desta Temporada de Monta, como venho adotando nas Temporadas anteriores, estabeleci o Índice de Concentração – IC (relação do total de Matrizes servidas, pelo total de Reprodutores que as serviram nas respectivas Temporadas de Monta), que assinalou IC = 14 na Temporada de Monta de 2008 e IC = 15 em 2009, refletindo, em média, um maior número de Matrizes servidas por Reprodutor na Temporada de Monta de 2009 em relação a 2008.
Para termos uma posição de melhor qualificação da situação da Criação Nacional, vamos comparar a posição, apenas, com Reprodutores que serviram 15 ou mais Matrizes na Temporada de Monta de 2009 (IC = 15), enquanto na de 2008 (IC = 14), foram considerados os Reprodutores que serviram 14 ou mais Matrizes.
Partindo–se desta referência de IC = 15, encontramos um total de 61 Reprodutores, com a seguinte distribuição, segundo o país de origem:
A – Do Brasil = 19 Reprodutores B – Dos Estados Unidos (USA) = 28 Reprodutores C – Da Irlanda (IRE) = 7 Reprodutores D – Da Argentina (ARG) = 3 Reprodutores E – Da Inglaterra (GB) = 3 Reprodutores F – Do Japão (JPN) = 1 Reprodutor
TOTAL = 61 Reprodutores (11 Reprodutores em “shuttle”) Estes 61 Reprodutores serviram um total de 2 931 Matrizes.
III – DISTRIBUIÇÃO dos REPRODUTORES por LINHAGEM / BLOODLINE
LINHAGEM / BLOODLINE T. M. 2008 T. M. 2009 A – NATIVE DANCER 1 229 1 339 A.1 – RAISE A NATIVE 161 105 A.2 – Mr. PROSPECTOR 1068 1 234
B – PHALARIS 1 520 1 256 B.1 – NASRULLAH 306 75 B.2 – ICECAPADE 133 18 B.3 – ROYAL CHARGER 49 147 B.4 – BUCKPASSER 128 129 B.5 – NEARCO 16 – B.6 – NORTHERN DANCER 888 887
C – St. SIMON 86 34 C.1 – SICAMBRE 55 34 C.2 – RIBOT 31 –
D – MAN O’ WAR – 105 D.1 – IN REALITY – 105
E – TOURBILLON – 72 E.1 – AHONOORA – 72
F – HIMYAR 57 28 F.1 – DOMINO 57 28
G – TEDDY 153 70 G.1 – DAMASCUS 153 70
H – BLANDFORD 53 27 H.1 – MAHMOUD 53 27
I – HURRY ON 15 – I.1 – SASSAFRAS 15 –
J – HYPERION 14 – J.1 – TUDOR MINSTREL 14 –
TOTAL de MATRIZES SERVIDAS 3 127 2 931
IV – RESUMO DAS OBSERVAÇÕES
• Neste grupo de elite da Criação brasileira, verificamos que na Temporada de Monta de 2009, houve um avanço no Índice de Concentração em relação à Temporada de 2008, ou seja, IC = 15 (2009) contra IC = 14 (2008), refletindo uma maior concentração de Matrizes servidas por Reprodutor com maior patrocínio na Temporada.
• Observa–se uma redução de 6,3 % (de 3 127 Matrizes em 2008, para 2 931 Matrizes em 2009) no número de Matrizes servidas neste grupo de elite de nossa Criação do PSI, fator de grande preocupação, pois reflete uma expressiva queda de produção.
• Observa–se uma queda de 24,3 % no número de Reprodutores mais patrocinados na Temporada de 2009, o que reflete, apenas, uma maior concentração de Matrizes servidas, pelo menos teoricamente, por Reprodutores melhor qualificados.
• Assinalamos, no que se refere aos números totais entre as Temporadas de Monta de 2008 e 2009, uma queda de 5,2 % (de 3 985 Matrizes em 2008, para 3 776 Matrizes em 2009) no total de Matrizes servidas nessas Temporadas, referência indiscutível de uma queda da produção do PSI nacional, além da queda de 12,6 % (de 277 Reprodutores em 2008, para 242 Reprodutores em 2009) no número de Reprodutores que participaram das duas Temporadas, o que pode refletir uma melhor qualificação dessa produção.
• No que se refere às Linhagens / Bloodlines dos Reprodutores que participaram das duas Temporadas de Monta, devemos registrar:
1. O expressivo aumento de 15,5 % (de 1 068 Reprodutores em 2008, para 1 234 Reprodutores em 2009), de Reprodutores descendentes da “Bloodline” de Mr. PROSPECTOR;
2. Não houve diferença no número de Matrizes servidas (de 888 Matrizes em 2008, para 887 Matrizes em 2009) entre os Reprodutores descendentes da “Bloodline” de NORTHERN DANCER;
3. Não foram registrados, neste Grupo de Reprodutores mais patrocinados, na Temporada de Monta de 2009, descendentes das “Bloodlines” de NEARCO, de RIBOT, de SASSAFRAS e de TUDOR MINSTREL, que foram representados na Temporada de Monta de 2008;
4. Foi registrada a presença, neste Grupo de Reprodutores mais patrocinados, na Temporada de Monta de 2009, de descendentes das “Bloodlines” de IN REALITY e de AHONOORA, que não haviam marcado presença na Temporada de 2008;
5. No que se refere às Linhagens, deve–se ressaltar o aumento, na Temporada de Monta de 2009, do número de Reprodutores descendentes da Linhagem de NATIVE DANCER (9 %), e de MAN O’ WAR e TOURBILLON, sem representantes na Temporada de 2008, e uma expressiva queda no número de Reprodutores descendentes das Linhagens de PHALARIS, de St. SIMON, de HIMYAR, de TEDDY, e de BLANDFORD, além da ausência de representantes das Linhagens de HURRY ON e de HYPERION, na Temporada de 2009.
• Fica evidenciada, de uma Temporada para a outra, que a Criação brasileira continua concentrando seu Planejamento Genético em Reprodutores descendentes da “Bloodline” de Mr. PROSPECTOR, refletindo a acentuada participação de “strains” típicos da Criação norte americana em nossa Criação, e o mais grave, evidenciando a tendência para a extinção de “strains” típicos da Criação européia, ou seja, o predomínio do Planejamento Genético de caráter estritamente Comercial, sobre o Planejamento Genético de caráter eminentemente técnico.
• EQUILÍBRIO é a palavra chave para que a Criação brasileira, na qualidade média de sua produção, possa promover um efetivo “up grade”, que venha a possibilitar, assim como, GLÓRIA DE CAMPEÃO nos proporcionou nas pistas de Dubai, expressivas vitórias nas Provas mais importantes da Europa, consolidando a integração e reconhecimento de nossa Criação pelo Mercado mundial do PSI.
FIM
Orlando Lima – omlimapsi@gmail.com
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