Colunista:
PLANEJAMENTO GENÉTICO – JOSEPH ALVIE ESTES : JOE ESTES – 4ª PARTE 26/11/2009 - 09h45min
PLANEJAMENTO GENÉTICO
ASPECTOS BÁSICOS – 4ª PARTE
VI.6 – JOSEPH ALVIE ESTES : JOE ESTES
Joe Estes (1903 – 1970), nasceu em Kentucky e, a partir de 1930, foi o Editor do The Blood– Horse, a principal publicação sobre o Thoroughbred (PSI) nos Estados Unidos da América do Norte.
Seu livro póstumo, publicado em 1999, pela The Russell Meerdink Co. Ltd, “The Joe Estes Formula For Breeding Stakes Winners”, abrange cinco temas que considerava primordiais:
1 – Como aumentar a probabilidade para produzir um “stakes winner” (vencedor clássico); 2 – O que é o AEI (“Average Earning Index) ?; 3 – Como usar o AEI como processo seletivo de um “Bloodstock”; 4 – Teorias e Mitos sobre a Criação do PSI; 5 – O valor limitado do pedigree.
Na realidade, Joe Estes não tinha uma Teoria propriamente dita, mas um conjunto de conceitos direcionados para a produção de “stakes winners” (vencedores clássicos).
A Metodologia que adotou para aplicação prática desses conjuntos de conceitos está refletida no AEI – “Average Earnings Index” (Índice Médio de Prêmios).
Estes fazia três indagações básicas cujas respostas deviam comandar as ações para uma boa Criação do PSI:
1ª – Como posso criar os melhores “racehorses”?
2ª – Como posso avaliar que “Bloodstock” deverá ser o mais bem sucedido para a Criação e para as Corridas?
3ª – Que Matrizes devo descartar e quais devo manter no meu Plantel de Matrizes?
Deve–se ressaltar de imediato, que Estes tinha como base para suas convicções, exclusivamente, o Turfe norte americano, não tecendo qualquer tipo de comentário e avaliação sobre o Turfe europeu.
Para responder às suas próprias indagações firmou uma série de conceitos que, em seu conjunto, poderiam constituir sua Teoria.
Sua consideração primordial era de que para se obter um “racehorse” ou “racemare” com a qualidade necessária para vencer Provas Clássicas (“Stakes”) nos USA, era fundamental promover o cruzamento do melhor Reprodutor com a melhor Matriz.
O conceito de melhor para Estes era do Reprodutor que tivesse ótimas performances nas pistas de corrida, como “racehorse” e da Matriz que, da mesma forma, tivesse apresentado ótimas performances nas pistas de corrida, como “racemare”.
O Produto (“offspring”) resultante desse cruzamento (“cross”), segundo Joe Estes, reunirá as condições mais favoráveis e, conseqüentemente, a maior probabilidade para se tornar um “stakes winner” (vencedor clássico).
Além disso, afirmava que os melhores resultados eram alcançados quando o Produto resultasse do “cross” de Pais (Reprodutor e Matriz) com a mesma idade, ou com idades próximas.
Para Estes, a avaliação para o “cross” bem sucedido, se resumia na qualidade dos Pais (Reprodutor e Matriz), não levando em consideração a qualidade da ancestralidade de um Produto, evidentemente, além de seus Pais.
Em decorrência, Estes considerava a análise do pedigree, como um fator de absoluta inutilidade, tendo em vista que, para ele, apenas a qualidade dos Pais era o que importava.
Estes era um ferrenho defensor das Estatísticas e, em última análise, suas convicções convergiam para o objetivo de se alcançar a maior probabilidade (“odds”) para a produção de um “stakes winner”.
Com base nas Estatísticas publicadas em sua época, ainda razoavelmente deficientes, respaldou suas convicções refletidas nos conceitos que defendia, sobretudo, para configurar o “Bloodstock” melhor qualificado para gerar “stakes winners” e, conseqüentemente, a fundamental importância da seleção das Matrizes que deveriam permanecer no Plantel e quais as que deveriam ser descartadas (“culling”).
Para tanto, Joe Estes estabeleceu o AEI – “Average Earnings Index”, ou seja, uma fórmula aritmética, resultante de observação Estatística.
Sua finalidade original foi a de estabelecer um parâmetro para avaliar a “Racing Class” (Categoria, Classe, Habilidade para as corridas), pelo qual, em sua essência, Estes computou os prêmios auferidos por todos os “racehorses” e “racemares”, dividindo o total de prêmios distribuídos numa Temporada pelo total de animais que obtiveram premiação nessa Temporada, resultando no prêmio médio (“Average Earnings”) distribuído em cada Temporada, nos USA.
Desta forma, se o prêmio médio fosse de U$ 2 500, na Temporada focalizada, o “racehorse” ou “racemare” que tivesse alcançado U$ 2 500 de premiação, teria um AEI = 1.0, ou seja, o seu “Racing Class” seria exatamente igual à média da Temporada
Para o PSI que tivesse alcançado a premiação de U$ 5 000, seu AEI = 2.0, ou em outras palavras, sua “Racing Class” seria duas vezes maior que a média da Temporada.
Para Estes, um PSI para alcançar o “status” de “stakes class”, ou seja, de nível clássico , deveria apresentar um AEI igual ou maior que 4.0.
Progressivamente, um AEI superior a 4, indicaria o PSI que teria obtido êxito em Provas (“Stakes”) de maior graduação.
Joe Estes, através de arranjos com esta relação básica do AEI, estendeu este parâmetro para avaliar a qualificação do “Breed Stock” (Bloodstock) refletido nos Plantéis de Matrizes e de Reprodutores.
No caso específico dos Reprodutores, considerava que um bom “Stallion” deveria apresentar um AEI = 2.0 ou maior, sendo que os mais destacados “Stallions” deveriam situar seu AEI igual ou superior a 4.0 ou 5.0.
Joe Estes instituiu o AEI em 1948 e, a partir desta data, tornou–se uma referência positiva para a indústria do “Thoroughbred” nos USA, sobretudo, promovendo comparações qualitativas entre a progenia de um Reprodutor, a cada Geração.
Suas aplicações foram se ampliando até para avaliar a qualidade, a partir do AEI dos Filhos de uma Matriz com um determinado Reprodutor.
Com a chegada dos computadores na década de 70 / 80, a The Blood–Horse expandiu as aplicações do AEI e, em 1982 instituiu o “Comparable Index” (CI) que indica o “Average Earnings Index” (AEI) para todos os Produtos de uma Matriz com determinado “Stallion” (Reprodutor).
O CI foi aplicado para avaliar o desempenho de Avôs Maternos, apresentando o AEI acumulado para todos os Produtos gerados pelo “cross” de Reprodutores com Filhas de um determinado Reprodutor e, enquanto o AEI de um Avô Materno avalia a “Racing Class” dos Produtos das Filhas de um determinado Reprodutor, o CI mostra o AEI de todos os outros Produtos gerados a partir de diferentes Avôs Maternos.
Para exemplificar, focalizaremos um excepcional Avô Materno, BUCKPASSER, que apresenta o AEI = 2,89 e o CI = 1,83, significando que os Produtos de suas Filhas apresentam um AEI maior que a progenia de outras Matrizes com os mesmos Reprodutores.
O AEI e o CI aplicados aos Reprodutores avaliam a “Racing Class” da afinidade de um Reprodutor com Matrizes, filhas de um determinado Reprodutor, o que é conhecido como “nick”.
Tomando como exemplo o “nick” entre STORM CAT com Filhas de ALYDAR, chegamos ao AEI = 9,22 e o CI = 4,71, certificando uma autêntica afinidade entre estes dois Reprodutores, em suas respectivas funções.
Também tomando como referência STORM CAT, para um universo de 446 Produtos apurados entre 1992 e 1998, encontramos que 97 (21%) não chegaram a correr e, dos que correram, 31% apresentaram AEI menor que 1,00 (abaixo da média); 18% apresentaram AEI entre 1,00 e 1,99; 17% apresentaram AEI entre 2,00 e 3,99; e 13% apresentaram AEI = 4,00 ou maior.
Observação: Dados coletados do livro RACEHORSE BREEDING THEORIES de Frank Mitchel e outros autores, editado pela The Russel Meerdinck Co. em 2004.
Joe Estes foi um severo crítico das Teorias de Bruce Lowe, embora reconhecendo a importância das “Female Lines” (Linhas Maternas) no resultado de um “cross” (cruzamento), assim como, criticou as Teorias das Dosagens nas versões de Vuiller e de Varola, classificando–as como exercícios matemáticos sem maior valor para a Criação do PSI.
Sua filosofia primordial para criar um bom “racehorse”, resumindo sua série de conceitos, foi a do cruzamento do bom com o bom, do ótimo com o ótimo, observados o encaixe físico (Fenótipo), a adequada tecnologia criatória, para que, no campo da Probabilidade estatística, os bons resultados ocorram com uma freqüência acima da média.
Torna–se evidente, por simples constatação, que nem todos os conceitos de Estes são válidos, alguns efetivamente errôneos (desprezo pela análise do pedigree) e, em última análise, desprezando boa parte das análises preconizadas pelo Planejamento Genético.
De qualquer forma, como todas as outras Teorias / Metodologias bem fundamentadas, teve um grande mérito e influência, para a época em que foi formulada, ainda que tenha sido aplicada muito mais como Metodologia do que como Teoria, servindo principalmente para avaliar resultados do que como um efetivo instrumento para a elaborar um criterioso Planejamento Genético.
VI.7 – FEDERICO TESIO
A partir do século 20, no âmbito da Criação mundial do PSI, há uma unanimidade quando se indaga quem foi o melhor Criador do PSI, e a resposta sempre recai no Senador italiano, Federico Tesio.
Corroborando para essa afirmação unânime, a maioria quase absoluta de experts em Turfe, aponta NEARCO como o melhor e mais influente Reprodutor e RIBOT como o melhor “racehorse” do século 20, ambos criados por Federico Tesio.
O fato é que Tesio, o Mago da Criação do PSI, jamais passou seus conhecimentos para outra pessoa, nem para os mais próximos como sua esposa, Donna Lydia, ou seu sócio Mario Incisa della Rochetta.
Na realidade, Tesio, ao que tudo indica, não tinha uma Teoria / Metodologia formuladas, mas sim um conjunto de conceitos direcionados para os aspectos da Genética (Genótipo) e da Conformação Física (Fenótipo), observando, detalhadamente, a essência da complementariedade genética e física.
A meu ver, o diferencial de Tesio estava no fato de que, além de seus apurados conhecimentos genéticos, contava com o profundo conhecimento das qualidades do cavalo, como indivíduo, assim como, sua estreita interação com as condições naturais nas quais nasceu e se desenvolveu, ou seja, sua total integração com o Meio Ambiente que o cercava nas diversas etapas de sua evolução físico–orgânica.
O fato definitivo e que só foi concretizado por Tesio, para que viesse a se consagrar como o melhor Criador do PSI, em todos os tempos, sobretudo, a partir do século 20, foi a expressiva amplitude do contato que mantinha com o PSI, com quem convivia integralmente, sendo CRIADOR, PROPRIETÁRIO e TREINADOR dos animais que concebia, criava e treinava, o que lhe facultava o pleno e absoluto conhecimento dos pontos fortes e fracos de seus animais.
Sua preocupação com a interatividade do animal com o Meio Ambiente era de tal ordem que, no Hipódromo onde mantinha seus animais, cada boxe tinha um pequeno piquete, para que o animal continuasse a manter um estreito contato com a natureza e não se sentisse confinado dentro de um Box / Cocheira, como se estivesse confinado numa prisão, privado, na maior parte do tempo, do importante contato com a natureza.
Após estabelecer sociedade com Mario Incisa della Rochetta, Tesio passou a criar seus animais em dois Meio Ambientes distintos, proporcionados pela localização de seu Haras Dormello–Olgiata, junto ao Lago Maggiore, e do Haras de Incisa della Rochetta, situado nas proximidades de Roma, providência que considero de fundamental importância para a criação de um sólido e consistente PSI.
Por ser o Criador e o Treinador de seus animais, Tesio conseguiu unificar e harmonizar os princípios e conhecimentos teóricos com sua aplicação prática, o que é muito difícil de ser observado no âmbito da Criação e Treinamento de um PSI.
Tesio tinha certas limitações econômico–financeiras, o que lhe facultou a peculiaridade de criar os melhores PSI com os custos mais reduzidos, criando com um reduzido Plantel de Matrizes (12 Matrizes, em média), e não mantendo um Reprodutor sequer em seu Haras, para não ficar condicionado a apenas um Reprodutor para as suas Matrizes, que se caracterizavam por uma certa diversidade de Linhagens, através de seus respectivos Alinhamentos Paternos.
Pela facilidade de transporte na Europa, Tesio tinha ampla liberdade de selecionar, criteriosamente, o Reprodutor mais adequado para cada uma de suas Matrizes, tanto em seus aspectos genéticos (Genótipo), quanto nos aspectos físicos (Fenótipo), sem esquecer os aspectos envolvendo o Temperamento dos animais selecionados.
No período da Guerra Mundial, foi obrigado a interromper sua política de uso de Reprodutores de outros Haras, sendo obrigado a usar Reprodutores criados por ele próprio, como NICCOLO DELL’ARCA, BELLINI e TORBIDO, que proporcionaram ótimos resultados refletidos em TENERANI (Pai de RIBOT), TREVISANA e ANTONIO CANALE.
Como Proprietário, sua maior virtude foi a de perceber a ocasião mais propícia para vender seus melhores Produtos, conseguindo preços altamente compensadores, sobretudo, no que se relacionava aos potros, tendo em vista que aproveitava, como futuras Matrizes, as potrancas que, em seu julgamento, reuniam as condições mais favoráveis como excelentes prospectos para futuras Matrizes.
No que se reporta às fêmeas, Tesio tinha uma posição muito nítida, quando dizia: “Há fêmeas para as pistas e há fêmeas para o Haras”, numa alusão de que, nem todas as fêmeas que se distinguiram por grandes performances nas pistas de corrida, serão as melhores Matrizes, o que considero como uma das afirmações mais consistentes, sobretudo, no Turfe da atualidade.
Como Treinador, Tesio sabia identificar com precisão quais os potros que se destacavam, a cada Geração, imprimindo um regime de treinamento dos mais rigorosos, mas consciente do limite que poderia exigir de cada um deles, ao mesmo tempo em que respeitava as características, que conhecia profundamente, de cada animal que treinava, afinal tinha sido ele que o concebera e criara.
Sua devoção para com seus cavalos era sacerdotal e diária, atento a todos os detalhes, por mais ínfimos que fossem, como Criador e como Treinador.
Tesio não deixou de contar com a imprescindível ajuda da Sorte, sobretudo no episódio do cruzamento da Matriz que tinha em alto conceito, NOGARA, pois chegara à conclusão que o Reprodutor ideal para ela, sobretudo pelo “encaixe” de Fenótipos, seria FAIRWAY, um tipo mais longilíneo e esbelto que se ajustava à perfeição ao tipo mais compacto de NOGARA.
O “manager” de Lord Derby, onde estava sediado FAIRWAY, não gostava de Tesio e conseguiu impedir que o cruzamento entre os dois se consumasse.
Tesio, que já havia enviado NOGARA para a Inglaterra, soube que o irmão próprio de FAIRWAY, PHAROS, estava servindo na França e enviou NOGARA para ele, com grande receio porque PHAROS tinha um Fenótipo pautado pelo tipo compacto, bem diferente de seu irmão próprio, o que causava uma certa apreensão em Tesio.
O resultado deste cruzamento, simplesmente, foi o fenomenal NEARCO.
Por problemas com transportes, na época, Tesio, já com nítidos problemas de Saúde, foi obrigado, novamente, a transgredir uma de suas convicções mais fortes, ou seja, a de não reter Reprodutores em seu Haras e, desta forma viu–se obrigado a usar TENERANI, um bom “racehorse”, mas que não reunia as condições mais adequadas para se tornar um Reprodutor de primeiro nível, segundo o entendimento de Tesio, que o apelidou de “O Preguiçoso”, e que serviu TOFANELLA, uma de suas éguas que servia de “pacemaker” para seu melhor potro da Geração, NAVARRO.
Deste cruzamento nasceu, simplesmente, “O Cavalo do Século 20”, RIBOT.
Realmente, concordo que sem sorte, no que se refere à Criação do PSI, não se chegará a nenhum lugar, mas certamente, com seus comprovados conhecimentos, Tesio deu uma grande ajuda para a Sorte, de forma a reduzir, substancialmente, o grau de sua influência na Criação de seus extraordinários Produtos.
Tesio foi o autor inconteste da proeza de se criar o PSI da melhor qualidade com os mais reduzidos custos, o que ficou patente numa trajetória de mais de 50 anos, criando os mais qualificados “racehorses” e Reprodutores desse período.
A sublimação dessa proeza ocorreu em 1917, quando num leilão adquiriu por apenas U$ 400 (75 guinéus) uma Matriz, nada atraente, chegando a ser motivo de risos, chamada CATNIP (1910), mas que, além de estar prenha de TRACERY, Reprodutor de alta classe na época, era filha de SPEARMINT (vencedor do Derby inglês) e sua Mãe era vencedora da prestigiada Prova das 1 000 Guineas, e descendia, por sua “tail–female line” (Linha Baixa), de uma excelente Família Materna norte americana, pontuada pela Matriz, MAIDEN, filha do fenomenal Reprodutor LEXINGTON.
CATNIP, sem dúvida, deve ser considerada como a pedra fundamental da criação de Tesio, por ter gerado NOGARA, “racemare” de grande categoria e Mãe do fenomenal NEARCO, assim como, NERA DI BICCI, considerada por Tesio como a melhor “racemare” que criou, e que foi o Produto da qual CATNIP estava prenha, quando Tesio a comprou no citado leilão.
CATNIP foi a prova inconteste da importância que Tesio dava às Famílias Maternas que desenvolveu sem alardes durante o período em que desenvolveu sua Criação de notáveis “racehorses”, Reprodutores e Matrizes.
Tesio tinha como ninguém, uma elevada percepção da Intuição, aliada aos seus reconhecidos Conhecimentos sobre a Raça do PSI, direcionados para a análise de Genótipos, refletidos nos pedigrees, e para a análise de Fenótipos, exercendo um autêntico procedimento de Planejamento Genético, fator primordial para que, com um diminuto Plantel de Matrizes, tenha conseguido um elevado número de “racehorses” de alto padrão de qualidade.
A prova formal deste procedimento estava refletido no seu famoso Caderno de Pedigrees e em sua numerosa coleção de Fotografias de excelentes “racehorses”.
Lamentavelmente, Tesio jamais compartilhou seus Conhecimentos e Convicções, levando–os para o túmulo, mas deixando algumas pistas valiosas que deverão ser pesquisadas ao longo dos tempos, e que poderão se constituir em eficazes procedimentos que, certamente, resultarão na produção de “racehorses’, “racemares”, Reprodutores e Matrizes de alta classe e reconhecida categoria, contribuindo decisivamente para a evolução do PSI, em todos os sentidos.
VI.8 – BIOMECÂNICA EQUINA: EBQ
Trata–se de mais um caso em que a Metodologia se sobrepõe à Teoria, que poderia ser resumida como a ciência que estuda e analisa a Mecânica de Movimentos de Seres Vivos, no caso específico, os Eqüinos, tendo por objetivo fornecer indícios que indiquem os prospectos (inéditos de 2 anos) que reúnam as condições mais propícias para se tornar um bem sucedido “racehorse” ou “racemare” nas pistas, assim como, indicando aspectos da Confirmação Física que possam ajudar no seu futuro aproveitamento na reprodução.
Exatamente neste segundo aspecto é que irei direcionar minha atenção sobre este assunto, relativamente recente, adotado como Instrumento eficaz para a elaboração de um criterioso Planejamento Genético.
São três os pilares sobre os quais é “construído” um PSI: o Genótipo (aspectos genéticos, análise de pedigree); o Fenótipo (aspectos físicos que caracterizam o indivíduo PSI); e o Temperamento (aspectos envolvendo a intensidade da carga nervosa do PSI, vontade para vencer, etc.).
Assim sendo, a Biomecânica Eqüina, como instrumento e apoio para um dos três pilares (Fenótipo) do PSI, não pode ser tomado, como uma Teoria / Metodologia, como a palavra final e definitiva, para determinar a qualidade de um bem sucedido “racehorse”.
A Biomecânica Eqüina está direcionada para os aspectos direcionados para o Fenótipo do PSI, seus Movimentos, Perfil Físico, Harmonia e Equilíbrio de seus Conjuntos Físicos, aspectos Cardíacos, entre outros.
Seu foco primordial está direcionado para a análise da qualidade da Mecânica de Movimentos do PSI e sua eficácia, como apoio para suas performances nas pistas de corrida e como referência para o seu futuro aproveitamento na reprodução.
Um dos aspectos de fundamental importância a ser considerado na Biomecânica Eqüina (EBQ) é o Alcance Estamínico do Produto Projetado num Planejamento Genético.
Pode–se constatar que esta Teoria, no que se reporta à sua Metodologia, encontra–se em fase de desenvolvimento, na procura de sua consolidação, o que não impede que, atualmente, já possa ser considerada como um importante instrumento para o Planejamento Genético.
Os cientistas pioneiros em seu desenvolvimento, Dr. Manuel Gilman, de Nova York, e do Dr. Jeff Seder deram partida ao desenvolvimento que vem experimentando esta ciência, promovendo e direcionando suas pesquisas, para a análise e estudos dos Movimentos e seu envolvimento com aspectos cardíacos.
Graças a estes pioneiros, a Biomecânica Eqüina, como Metodologia, ainda que relativamente incipiente, já encontra algum respaldo no âmbito dos Criadores do PSI, e sobretudo, junto aos Compradores do PSI inédito de 2 anos.
Na realidade, até ser formatada e reconhecida como uma ciência consolidada e reconhecida, a Biomecânica Eqüina (EBQ), já tinha alguns de seus fundamentos adotados por pura intuição, por Hipólogos que se dedicavam à formulação do Planejamento Genético.
Como se encontra em trajetória evolutiva, a Biomecânica Eqüina (EBQ) se propõe a fixar e consolidar novos conceitos, evidenciar novas práticas e unificar a intuição própria de conceituados Hipólogos, com princípios já estabelecidos pela Biomecânica Eqüina (EBQ).
No item anterior, chamei a atenção para o fato de Tesio cultivar uma vasta coleção de fotografias de grandes “racehorses”, o que demonstra que, por uma Intuição aguçada e eficiente, praticava, por pura intuição, alguns dos princípios consolidados, algumas décadas depois, pela Biomecânica Eqüina.
A Biomecânica Eqüina (EBQ) atua em três campos distintos, mas efetivamente dependentes entre si, ou seja:
1 – Análise dos registros estatísticos de medidas de várias partes do corpo de importantes “racehorses”, avaliando suas angulações, servindo como parâmetros para avaliação do potencial atlético de um “racehorse”, seja em suas performances nas pistas de corrida, seja como um prospecto para seu futuro aproveitamento na reprodução;
2 – Avaliação da qualidade e dinâmica do movimento de um “racehorse”, através da medida da extensão de sua Passada (“stride”) e da observação do trabalho realizado pelos Conjuntos Físicos que compõem seu corpo, quando no desempenho de sua velocidade plena;
3 – Análise da função e capacidade cardíaca, avaliadas por ultra–som e eletrocardiograma, visando o conhecimento das dimensões do coração, freqüência dos batimentos cardíacos e potencial do bombeamento do sangue, a cada batimento.
Os três campos, atuando em conjunto e harmonia, evidencia sintomas fundamentais para o conhecimento prévio da capacidade de um PSI, no que se refere ao seu futuro desempenho nas pistas de corrida e possível aproveitamento na reprodução.
O terceiro campo, praticamente, se confunde e mescla com a Teoria do “X Fator” (XF), sobre o “big heart” (coração de grande porte), que será detalhada num próximo capítulo.
Em seus aspectos mais práticos, a Biomecânica Eqüina (EBQ) explora três componentes básicos relacionados com o Fenótipo de um PSI:
1º – A Passada (“stride”), cuja extensão e freqüência dependem das medidas e angulações de pernas, ombros, perfil dorsal, anca e, por mais contraditório que possa parecer, do Conjunto Físico Cabeça / Pescoço, cuja qualidade da conformação e movimentação, têm grande influência para aferir a dimensão e qualidade da Passada;
2º – O Pêso Físico do “racehorse” que está diretamente relacionado com o diâmetro da Cintura e comprimento do Corpo.
3º – Geração de Potência, proporcionada pela intensidade e extensão de sua Massa Muscular de suas Ancas e angulação de seus Membros Traseiros, responsáveis pela propulsão do PSI, fator de capital importância para o desempenho do “racehorse” e da “racemare”nas pistas de corrida.
Os três aspectos, em conjunto, são fundamentais para determinar o desempenho nas pistas de corrida, no que se refere ao comportamento de seu Fenótipo, mas levando em consideração a extensão e freqüência da Passada, que assume uma posição de grande relevo para a qualidade de movimento de um “racehorse”.
Os “racehorses” com uma Passada mais larga, usualmente, levam certa vantagem sobre os de Passada mais curta, mas a freqüência mais rápida da Passada, mais constante nos animais de Passada mais curta, pode compensar a vantagem da Passada de maior extensão.
A freqüência mais rápida da Passada de um PSI, normalmente, é característica dos chamados “sprinters”, capazes de alcançar um alto nível de velocidade em distâncias curtas.
A eficácia da Passada é de fundamental importância para o desempenho de um bom “racehorse”, pois para ela convergem os ajustes adequados dos demais componentes básicos da Biomecânica Eqüina, e esta eficácia está refletida numa Passada suave, fluente, evidenciando movimentos leves e soltos, sem que as mãos sejam demasiadamente levantadas, sobretudo, atuando numa pista de grama.
Esta eficácia, também, está evidenciada na facilidade para realizar um movimento de grande importância, num PSI dotado de expressiva versatilidade, que é a famosa “Troca de Mãos”, essencial para se desvencilhar de dificuldades inerentes ao tráfego característico no transcurso de uma corrida de cavalos, além de propiciar ao PSI mais versátil, uma maior adaptabilidade para bons desempenhos em diferentes pistas ou diferentes condições de pista, além de possibilitar o cumprimento, com maior desenvoltura, da estratégia traçada para a corrida.
No que concerne ao Peso Físico de um PSI, devemos notar que os mais leves costumam apresentar uma melhor eficácia e fluidez de sua Passada, sendo menos vulneráveis a lesões e despendendo menos energia, o que os leva a sustentar a eficácia de sua mecânica de movimento por mais tempo, portanto, em distâncias mais longas e, particularmente, na pista de grama.
Usualmente, o PSI mais leve, usualmente, apresenta um Fenótipo dotado com Ancas mais leves, mas equilibradas, consumindo um tempo maior, logo após a largada, para encontrar o seu “pace” ideal na corrida, mas conseguindo apresentar um expressivo “sprint” nos metros finais da corrida, característica típica de importantes Fundistas e “stayers”.
Já o PSI de elevado Peso Físico, são mais vulneráveis a lesões, sobretudo, porque são mais precoces, dotados de expressiva Massa Muscular, refletida em Ancas poderosas, alcançando a velocidade, em seu nível mais elevado, com extrema rapidez, logo após a largada, mas incapaz de sustentá–la por períodos mais longos, portanto, com melhor aproveitamento em distâncias mais curtas, característica típica dos “sprinters”.
No que se refere à Geração de Potência, em sua expressão mais intensa, inegavelmente, há uma correlação direta com a expressiva Massa Muscular refletida nas Ancas do PSI, usualmente, poderosas e avantajadas, tendo em vista que as Ancas do PSI se comportam como a usina que fornece a energia para a propulsão indispensável para a sua movimentação.
Ancas mais poderosas podem ser cultivadas através de um adequado Condicionamento e Treinamento, desde que haja a base natural para essa ação, enquanto que a eficácia na mecânica de movimento de um PSI é uma condição inerente à natureza de determinados PSI’s, dificilmente obtida com o seu Condicionamento e Treinamento.
Cabe ressaltar a importância fundamental, por ocasião da elaboração do Planejamento Genético, de se definir o Alcance Estamínico do Produto Planejado, uma vez que há uma forte correlação com o Fenótipo desse Produto.
Normalmente, o PSI “Sprinter” (Alcance Estamínico para distâncias curtas) se caracteriza por um Porte avantajado, acompanhado de Peso Físico elevado, do Tipo compacto, com expressiva Massa Muscular, refletida, sobretudo, no poderio de suas Ancas, responsáveis pela geração de Potência, numa autêntica explosão de força e velocidade, típicas de um especialista em Provas de distâncias mais curtas (Alcance Estamínico direcionado para os 1 000 m / 1 200 m).
Por outro lado, o PSI “Stayer” e Fundista (Alcance Estamínico para distâncias mais longas) se caracteriza por um Porte mais reduzido, acompanhado de Peso Físico mais leve, do Tipo longilíneo, com Massa Muscular pouco expressiva, refletida, sobretudo, em Ancas mais leves, responsáveis por uma geração de Potência mais atenuada, mas com uma nítida eficácia e fluidez de sua mecânica de movimento, típicas de um especialista em Provas de distâncias mais longas (Alcance Estamínico direcionado para os 2 400 m para mais).
Mas há um fator de fundamental importância e decisiva participação, que preside os conhecimentos da Biomecânica Eqüina como valioso instrumento para o Planejamento Genético, o EQUILÍBRIO dos Conjuntos Físicos que formatam o perfil físico de um PSI, responsável por alguns indivíduos de Porte avantajado, Peso elevado, do Tipo compacto e que são bem sucedidos em Provas de distâncias longas.
Da mesma forma, modelos mais leves de PSI que apresentam um alto nível de Equilíbrio de seus Conjuntos Físicos, são capazes de ótimas performances em Provas de distâncias curtas.
Há muitos anos, na época do fenomenal SECRETARIAT, tive acesso a um estudo publicado em revista especializada em Eqüinos, na qual um Escultor / Arquiteto, mostrava as medidas e angulações avaliadas desse PSI de grande Porte e Peso (500 kg), a conformação de seus Conjuntos Físicos (Cabeça / Pescoço, Ancas, Membros, Peitoral, Narinas, entre outros) que chegava à perfeição, levando o Escultor à conclusão que o conjunto destas características físicas de SECRETARIAT, sobretudo, da extensão de sua Passada, foi o responsável pela extraordinária eficácia de sua mecânica de movimento, típica de um PSI de exceção.
Finalizando o estudo, o Escultor chegou à conclusão de que SECRETARIAT deveria se tornar no padrão do Fenótipo do PSI, em substituição ao padrão até então adotado.
Todos estes aspectos assinalados são levados em consideração e se constituem na base da análise pela Biomecânica Eqüina (EBQ) direcionada para o “racehorse” e “racemare”.
A EBQ procura equalizar as medidas, angulações, Conjuntos Físicos, no âmbito de um Planejamento Genético, visando promover o equilíbrio e harmonia dos Conjuntos Físicos, medidas e angulações dos PSI envolvidos no Planejamento Genético, tendo por objetivo primordial a produção de um indivíduo que apresente um alto nível de eficácia de sua mecânica de movimento, resultante da complementariedade dos atributos físicos da Matriz e Reprodutor focalizados no Planejamento Genético.
Apesar dos equipamentos disponíveis de apoio ao EBQ, como ultra–som, eletrocardiograma, filmes em “slow motion” com perfeita nitidez, eles são mais usados, ainda que de modo incipiente, para avaliação dos PSI’s inéditos de 2 anos que participam de alguns leilões.
Para servir como um valioso instrumento para efetivo apoio à elaboração de um Planejamento Genético, seu uso ainda é um pouco restrito, valendo mais a intuição do Hipólogo, a partir das sinalizações disponíveis nos Fenótipos dos PSI’s envolvidos.
Ainda assim, a Biomecânica Eqüina (EBQ) já vem contribuindo para o Planejamento Genético, qualificando os cruzamentos em conformidade com as características dos Fenótipos da Matriz e dos Reprodutores selecionados pelo Planejamento Genético.
Desta forma, o cruzamento “Tipo para Tipo” é o que proporciona maior probabilidade, através da observação do perfil físico semelhante da Matriz e do Reprodutor, para firmar caracteres físicos desejáveis e importantes para o sucesso nas pistas, em conformidade com o Alcance Estamínico projetado.
O cruzamento com diferentes Tipos pressupõe basicamente, a partir do Fenótipo da Matriz, um Planejamento Genético que selecione Reprodutores com Tipo físico diferente da Matriz, visando compensar seus aspectos mais frágeis e reforçar seus aspectos mais consistentes.
A possibilidade de se consumar essas modalidades de cruzamentos, no âmbito de um Planejamento Genético, só é possível pelas indicações fornecidas pela Biomecânica Eqüina (EBQ) que, com a continuidade das pesquisas deverá se revelar como um fator essencial para a evolução do Fenótipo do PSI, ao longo do século 21.
Embora não represente a palavra final, e muito menos, definitiva para o sucesso de um PSI nas pistas de corrida e na reprodução, pois está direcionado para, apenas, um dos três fatores primordiais (Genótipo, Fenótipo e Temperamento) para a “construção” de um PSI, basicamente, contemplando seus aspectos físicos, o EBQ deverá, em breve, se consolidar como uma Metodologia de capital importância, como um dos instrumentos preciosos para a elaboração de criteriosos Planejamentos Genéticos.
Continua....
Orlando Lima – omlimapsi@gmail.com
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