Colunista:
Veterinária a galope, por Dr. Francisco Lança 02/10/2009 - 10h21min
MANEJO DE ANESTRO E PRENHEZ GEMELAR (GÊMEOS) EM ÉGUAS
Durante a temporada de monta, é comum os veterinários se depararem com alguns problemas relativos ás éguas que poderão atrasar e até comprometer toda uma estatística reprodutiva. Ao longo da atual temporada, dois potenciais problemas estão ocorrendo em nossas atividades reprodutivas: o anestro, ou a falha da égua em mostrar cio e ciclar regularmente, mesmo após o parto, e a presença cada vez maior de gêmeos no diagnóstico de gestação.
ANESTRO
– Anestro é considerado o período no qual não existe atividade ovariana, ou seja, não há formação de folículos de tamanho suficiente para a égua entrar em cio.
– Pode ocorrer em éguas vazias e sem potro, denominado anestro transicional, período de transição entre uma fase não cíclica e cio, ou após o parto, denominado lactacional.
– As causas são as mais variadas, mas está diretamente associado com pouca exposição prévia á luz diária, freqüentes inversões bruscas de temperatura e nutrição inadequada, que inibem a produção e liberação de hormônios em glândulas cerebrais (hipotálamo e hipófise).
– Os tratamentos sugeridos são:
1) Fornecimento de luz artificial: completando a exposição da égua em 16 horas de luz diárias, tanto para éguas com potro como para sem potro. Esta medida poderá ser preventiva em éguas vazias antes da temporada de monta para se obterem prenhezes o mais cedo possível no início da temporada.
2) Estimulação química através de GhRH sintético: o uso deslorelina, na dose de 1 mg/dia e quando na presença de folículos maiores que 20 mm, leva ao início das atividade ovarianas em 60% das éguas tratadas, num prazo de 15 a 20 dias
3) Bloqueio com progesterona: poderá ser utilizado este hormônio para evitar a liberação em pequenas quantidades do hormônios FSH e LH. É usada na forma oral ou injetável durante um período mínimo de 11 dias. Após, haverá descarga de hormônios armazenados em quantidades suficientes para a égua iniciar sua atividade ovariana. Este tipo de tratamento é utilizado para o anestro transicional ou quando durante o anestro são diagnosticados folículos maiores que 25 mm.
4) Antagonistas de receptores neuronais: a domperidona e sulpirida aumentam a secreção de GnRH natural, fazendo com que haja produção e liberação dos hormônios FSH e LH, ou seja, o primeiro promove a formação e crescimento folicular e o segundo é responsável pela maturação do óvulo e ovulação. O resultado positivo ocorre entre 12 e 22 dias após o início do tratamento.
5) A combinação dos tratamentos químicos com a luz artificial é o que resulta em melhores resultados a curto prazo.
PRENHEZ GEMELAR (Gêmeos)
– A presença de gêmeos na gestação da égua é indesejável, pois é causa de aborto de ambos ou nascimento de potros dismaturos e de baixo padrão, não compatível com o desempenho futuramente requerido nas pistas. Isto é causado pela diminuição da área de circulação sanguínea em cada placenta, reduzindo o envio de nutrientes, e pela falta de espaço no abdômen da égua para gerar dois fetos normais.
– São conhecidos por todos 3 itens diretamente ligados á prenhez gemelar: ocorre de maneira geral sempre nas mesmas éguas, grande incidência de dupla ovulação nas éguas PSI e quanto maior a fertilidade do garanhão maior o índice de ocorrência. Somado a isto, o uso de hormônios indutores de ovulação, que permitem a ovulação de vários folículos, se presentes, mesmo com dimensões não apropriadas.
– É de salientar que existe apenas um óvulo por folículo, então a presença de gêmeos implica em, no mínimo uma dupla ovulação, podendo ser no mesmo ovário ou uma em cada um. Gêmeos idênticos são raríssimos.
– A maior causa de falha em diagnosticar gêmeos são as ovulações assincrônicas,
que ocorrem com 1 a 5 dias de diferença uma da outra, levando ao erro ou á não
detecção do segundo embrião.
– Após diagnosticados, os possíveis procedimentos seguem abaixo
1) Não fazer nada: a égua PSI tem uma certa eficiência (até 36%) em reduzir a prenhez gemelar a apenas uma. No entanto isto envolve uma série de fatores, principalmente a idade gestacional no momento do diagnóstico. Se maior que 40 dias, é aconselhada a espera pela redução espontânea. Outros fatores a ser avaliar seriam a disparidade entre as dimensões das vesículas e a orientação das mesmas no útero.
2) Diagnóstico e redução antes dos 16 dias: é indicado o esmagamento de uma das vesículas, de preferência a menor, através de procedimento manual via retal. O autor é da experiência que os melhores resultados são obtidos com esmagamento aos 14 dias pós–ovulação. Taxa de sucesso de 95%.
3) Diagnóstico e redução após os 16 dias e até 40 dias: após as vesículas terem se fixado, ocorrem duas situações: (a) vesículas justapostas (prenhez unilateral) e (b) vesículas separadas, uma em cada corno uterino. No primeiro caso, poderemos esperar até 30 dias a redução espontânea e se não ocorrer, se induz quimicamente a expulsão de ambas, pois após esta data, a égua demorará a ciclar novamente. No segundo caso, o esmagamento poderá ser feito até no máximo os 45 dias, pois acarretará em grande inflamação uterina e morte do embrião adjacente A taxas deste método são de 40% se realizada até 35 dias e de 20% entre os 35 e 45 dias. Outra opção é a de aspirar o líquido de uma das vesículas através de infiltração de cânula via vaginal com taxa de sucesso de 20%. É de salientar que a égua que perde seu concepto após os 36 dias de prenhez tem seu ciclo estral interrompido durante a temporada de monta, devido á formação de glândulas no útero durante a prenhez.
4) Diagnóstico e redução após os 45 dias e até 100 dias: as opções de procedimentos são (a) aguardar resolução espontânea até os 60 dias, (b) ruptura ou trauma manual das membranas com chances de até 50% de sucesso de manutenção da prenhez única aos 100 dias. Taxa de perda da prenhez de apenas 5%. A técnica mais recente é a de literalmente decapitar manualmente um dos fetos via laparotomia de flanco ou via retal, com taxa de sucesso de apenas um potro nascido variável de 25 a 64%.
5) Diagnóstico e redução após os 100 dias: aplicação via cirúrgica de injeção letal no coração do feto de cloreto de potássio, com taxa de sucesso de 40% ou penicilina procaína, com taxa de sucesso de 59%.
Dr. Francisco Lança – francisco@byvet.com.br
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