Colunista:
TEMPORADA DE MONTA 2009 / 2010 26/08/2009 - 10h47min
A CRIAÇÃO BRASILEIRA
TEMPORADA DE MONTA 2009 / 2010
I – INTRODUÇÃO
Há partir da década de 40, Reprodutores do primeiro nível da Criação internacional do PSI chegavam ao Brasil, contribuindo, decisivamente, para elevar a o padrão da qualidade genética de nosso “”bloodstock”, como FORMASTERUS, KING SALMON, COARAZE, SWALLOW TAIL, FORT NAPOLEON, SAYANI, BURPHAM, St.CHAD, I SAY, FELICIO, WALDMEISTER, HENRI LE BALAFRÉ, PRESENT THE COLORS, EXECUTIONER, entre vários outros, com participações destacadas nas principais Provas do Calendário Clássico de seus respectivos países e / ou apresentando um alto padrão de qualidade genética, refletida em seus Genótipos.
O mais importante, porém, é que eram descendentes de diversas e diferentes Linhagens e “Bloodlines”, reforçando e diversificando nosso “Bloodstock”, o que resultou na criação de inesquecíveis “cracks”, como FARWELL, ADIL, HELÍACO, PROSPER, GRIMALDI, KIGRANDI, ITAJARA, CLACKSON, FALCON JET, apenas para citar alguns exemplos entre vários outros memoráveis, nas pistas e / ou na reprodução.
Esta situação repercutiu, praticamente, até fins da década de 70, início de 80, ressaltando–se que, mais recentemente, os dois Reprodutores que se destacaram amplamente em nossa Criação, ou seja, GHADEER, nascido na França, e CLACKSON, brasileiro, mas filho de Reprodutor inglês (I SAY), vêm referendar que os mais importantes Reprodutores que atuaram em nossa Criação, foram provenientes da Criação européia.
Nada mais lógico, tendo em vista que nossa Criação foi, integralmente, montada e implantada com base na Criação européia, que naquela época nosso poder aquisitivo permitia trazer Reprodutores de alto nível, que o valor do PSI ainda não tinha alcançado os valores astronômicos praticados a partir da década de 80 no Mercado internacional e, sobretudo, que o traçado das pistas de nossos dois principais Hipódromos, como não poderia deixar de ser, refletia, como ainda reflete, o perfil do traçado dos principais Hipódromos europeus, com retas longas e privilegiando a pista de grama.
Como resultado, o Calendário Clássico do Turfe brasileiro se ajustou, quase que integralmente, ao Calendário Clássico europeu, semelhança que permanece até hoje.
A partir da década de 80 a Criação brasileira enveredou, de corpo e alma, para a importação de “strains” (linhagens, estirpes) típicos norte americanos e passou a concentrar seus objetivos reprodutivos em apenas três “Bloodlines”, mais precisamente, em descendentes de apenas duas dessas “Bloodlines”, pontuadas por Mr. PROSPETOR e NORTHERN DANCER, que passaram a dominar o Planejamento Genético da Criação do PSI, em nível nacional e internacional. & nbsp;
II – A INVASÃO NORTE AMERICANA
A Criação brasileira seguindo uma tendência da Criação mundial do PSI, passou a adquirir Reprodutores típicos da Criação norte americana, privilegiando a Velocidade e a Precocidade e, de certa forma, deixando a Stamina (Consistência e Resistência) em segundo plano.
Isto não é uma especulação genética, mas uma efetiva e evidente constatação, diretamente refletida no fato incontestável de que há exatos 31 anos, desde o extraordinário “racehorse”, AFFIRMED, não houve mais nenhum Tríplice Coroado nos USA, apesar de, pelo menos 10 “racehorses” terem vencido as duas primeiras pernas da Tríplice Coroa, ou seja, o Kentucky Derby (2 000 m) e o Preakness Stakes (1 900 m), vindo a perder na terceira perna dessa Tríplice Coroa, o Belmont Stakes, na distância dos 2 400 m, na areia de Belmont Park.
Analisando o pedigree de 5ª Geração de AFFIRMED, encontramos duas duplicações, sob a forma de “linebreeding”, de SIR GALLAHAD III e de seu Pai, o extraordinário Reprodutor, paradigma da Consistência e Resistência, TEDDY.
Seria necessária mais alguma explicação para a aptidão de AFFIRMED em abordar, com sucesso, os 2 400 m no areal de Belmont Park?
Além disso, devemos nos lembrar que 2 400 m, na pista de areia de Belmont, equivale, em termos de esforço, a cerca de 2 800 m numa pista de grama como a da Gávea, por exemplo.
Assim sendo, como esperar que “racehorses” portando Genótipos mais voltados para a Velocidade e Precocidade, cujo foco, em termos de distância mais longa, está centrado nos 2 000 m do Kentucky Derby, venham a vencer, também, os 2 400 m do Belmont Stakes? Será necessário que surja um novo fenômeno como SECRETARIAT!
A Criação norte americana, entretanto, é coerente com seus objetivos, apenas, em meu julgamento, está exagerando na dosagem da utilização das duas “Bloodlines”, de Mr. PROSPECTOR e de NORTHERN DANCER, esquecendo que a Genética apresenta um fator altamente perigoso e negativo, conhecido como CONSANGÜINIDADE, com repercussão contundente, tanto na morfologia, quanto na Criação, refletida em baixos padrões de fertilidade, além de acelerar a vulnerabilidade neuro–ósseo–muscular do PSI.
Como resultado prático desse Planejamento Genético, vemos que, atualmente, a campanha dos 2 anos é de fundamental importância nos USA, privilegiando a Precocidade e Velocidade, enquanto, grande parte dos 3 anos, sobretudo os mais precoces e velozes, não chegam a completar a campanha dos 3 anos, seja por lesões graves, seja porque são retirados das pistas antes de se lesionarem, devido ao seu alto valor como Reprodutores.
Ao mesmo tempo, percebe–se um alto nível de infertilidade na Criação norte americana, anunciando que a Consangüinidade já se alastra no âmbito dessa grandiosa e importante Criação do PSI.
O Leitor deve estar julgando que sou contrário, em termos genéticos, aos padrões norte americanos, ao que respondo, com veemência, que não, muito pelo contrário.
Meu alerta converge para a excessiva concentração na dosagem de apenas duas das “Bloodlines” privilegiando a Velocidade, em detrimento da Stamina que, gradativamente, vai ficando num segundo plano, o que está refletido, com nitidez, na extinção, ou no sério risco de extinção de Linhagens e respectivas “Bloodlines” mais comprometidas com a Stamina e, conseqüentemente, com a Consistência e Resistência do PSI, em âmbito, não só da Criação norte americana, mas também da Criação mundial, com raríssimas exceções, como a Criação alemã.
Todas estas considerações sobre a Criação norte americana foram necessárias porque, como citei anteriormente, a partir da década de 80, pudemos observar uma autêntica invasão de Reprodutores típicos dessa Criação, no âmbito da Criação brasileira, muitos deles de qualidade, no mínimo, duvidosa, configurando os limites impostos ao nosso poder aquisitivo, nessa época, diante dos altos valores de Mercado do PSI de qualidade comprovada.
Até aí, nada demais, pois qualquer Criação que procure evoluir, necessita incrementar o atributo da Velocidade e, na medida do possível, o da Precocidade.
Alguns problemas, entretanto, começaram a surgir, entre os quais, o fato dessa invasão já se estender por quase três décadas, além do preocupante aspecto de que não tem sido compensada pela importação de “strains” típicos da Criação européia, visando a salutar proposta de promover o indispensável equilíbrio entre os “strains” europeus, típicos de nossa Criação, com os “strains” típicos da Criação norte americana ou, em outras palavras, o equilíbrio fundamental entre a Velocidade e a Stamina, para as diferentes faixas de distâncias contempladas em nosso Calendário Clássico, privilegiando a pista de grama e o traçado das pistas de nossos dois principais Hipódromos.
Outro aspecto mais do que preocupante, refere–se ao fato de que estamos perdendo, em ritmo acelerado, a hegemonia, no âmbito da Criação mundial, ressaltada pelo importante Hipólogo, John Aiscan, em artigo publicado em 1990, no qual enfatizava que o Brasil era o detentor, na América do Sul, de um “bloodstock” propício ao “outcross”, metodologia que atua como antídoto para reduzir os efeitos da Consangüinidade.
Com esta tendência, observamos, em ritmo cada vez mais acelerado, a extinção ou o risco próximo de extinção de importantes Linhagens e respectivas “Bloodlines”, que exerceram importante papel na evolução experimentada pelo PSI no decorrer do século 20.
III – REPRODUTORES – TEMPORADA DE MONTA 2008 / 2009
Vemos hoje em dia, na Criação brasileira, que até pouco tempo atrás era detentora da hegemonia sobre a importante Linhagem de TOURBILLON, que ficamos reduzidos a dois únicos descendentes, pelo Segmento Paterno (“high line” do pedigree), ou seja, o velocista QUIRITÁRIO, quase que totalmente sem oportunidades nas Temporadas de Monta, assim como, PARELHEIRO, um velocista, com Genótipo de Fundista.
Prosseguindo nesta observação, vemos a fundamental Linhagem de HYPERION e respectivas “Bloodlines”, uma das mais relevantes da Criação mundial, reduzida a um único descendente para distâncias de Fundo, SARAMON, sem melhores oportunidades no Planejamento Genético, no âmbito da Criação brasileira, e mais cinco Reprodutores velocistas (CORD, DEDI LIGHT, NERVO DE AÇO, GOLD SILVER e DON NIGE), mais utilizados pelos Criadores voltados para a Cancha Reta, cujos filhos, em sua maioria quase absoluta, sequer chegam a freqüentar as pistas de Hipódromos oficiais.
Até pouco tempo atrás, tínhamos uma boa perspectiva para manter a Linhagem de SON–IN–LAW, mas, atualmente, estamos reduzidos a um único descendente, na figura de VACHER, um argentino, filho do saudoso PURPLE MOUNTAIN, também com raras oportunidades como Reprodutor.
Situação semelhante ocorre com a magnífica Linhagem de BLANDFORD, cuja sobrevivência, na Criação brasileira, depende apenas de dois Reprodutores, ou seja DANCER MAN e VACILADOR, o que é muito pouco para garantir sua continuidade. Outro motivo para preocupação refere–se à Linhagem de TEDDY, por demais importante para qualificar qualquer Criação que pretenda seguir adiante, buscando alcançar um bom nível de Consistência e Resistência, sendo encontrados, apenas, três Reprodutores (PUBLIC PURSE, BANKING e Mr. TIME), devendo–se ressaltar, entretanto, que os três receberam um bom número de Matrizes, além do que, na Temporada de Monta anterior, contamos com a participação do excelente Reprodutor, GILDED TIME.
Devemos lamentar, ainda, a ausência de Reprodutores descendentes pela “high line” de seus pedigrees, do fabuloso SHARPEN UP, figura freqüente no pedigree de importantes “racehorses” e Reprodutores da Criação internacional.
Foram localizados, apenas, dois Reprodutores (FACTORY ORDER e PUNCH PUNCH), descendentes de SHARPEN UP, e que, juntos, serviram apenas 9 Matrizes.
Também apenas dois descendentes paternos (DUBAI DUST e MUITO MELHOR) da excelente “Bloodline” de DOMINO, um dos ícones da Criação norte americana, “Bloodline” aberta às demais “Bloodlines” que predominam no Planejamento Genético da Criação mundial, devendo–se observar a importância e a oportunidade de trazer mais algum descendente dessa “Bloodline”, que conjuga, com perfeição, o equilíbrio entre a Velocidade e a Stamina, num excelente exemplo de “velocidade elástica”.
Deve–se ressaltar que a Criação brasileira, possivelmente, detém o último descendente (CHICO CORREDOR), pelo Segmento Paterno, da marcante “Bloodline” pontuada por DAN CUPID, Pai de um dos mais importantes “racehorses” do século 20, SEA–BIRD.
Outro aspecto importante a ser ressaltado, prende–se ao sucesso incontestável de descendentes da “Bloodline” de ROYAL CHARGER, sobretudo, quando descendem de HALO e ROBERTO, em diversos países, principalmente, no Japão, através de seu melhor Reprodutor, em todos os tempos, SUNDAY SILENCE (filho de HALO).
Desta forma, descendentes dessa “Bloodline” devem ser olhados com especial atenção para que sejam incorporados à nossa Criação, desde que apresentem um bom potencial genético, e uma consistente campanha nas pistas de corrida.
Outra Linhagem que se encontra muito próxima da extinção, em âmbito internacional, reporta–se ao belo, imponente e extraordinário “racehorse” e Reprodutor HURRY ON e suas respectivas “Bloodlines”, atualmente, praticamente restrita ao excelente SASSAFRAS, do qual tivemos um importante Reprodutor, HENRI LE BALAFRÉ.
Como vimos em Artigo anterior, a sobrevivência desta Linhagem e “Bloodline”, praticamente, está na dependência do comportamento de poucos Reprodutores, que atuam na Criação brasileira, descendentes de HENRI LE BALAFRÉ e BAYNOUN, ambos, filhos de SASSAFRAS, que têm tido raras oportunidades para gerar alguma expectativa positiva, que possa garantir a sua sobrevivência, não só a nível nacional, como a nível internacional.
Esta Missão quase impossível depende de Reprodutores mais recentes, como THIGNON BOY, ROXINHO, ETCHER, BALLXIZA e IDOMENEO que, infelizmente, não vêm recebendo oportunidades compatíveis com a tradição e o desempenho dos descendentes de HURRY ON, na evolução do PSI durante o século 20, embora reconheça que não apresentem apelo comercial, e o Planejamento Genético envolvendo o PSI voltado para o Alcance Estamínico para distâncias mais longas, sempre é mais difícil do que aquele voltado para distâncias mais curtas, o que, de qualquer forma, não invalida ou anula as reconhecidas virtudes dos descendentes dessa Linhagem, sobretudo para o Planejamento Genético voltado para as distâncias típicas de Fundistas e, inclusive, de “Stayers”.
Na Temporada de Monta de 2008 / 2009, já tivemos alguma sinalização de que elementos de potencial genético mais qualificado, começam a chegar ao Brasil, evidenciando a tendência da procura por uma melhor qualificação no nível médio da capacitação genética de nosso “bloodstock”.
Refletindo essa sinalização, pudemos observar a presença, alguns definitivamente, outros em regime de “shuttle”, de Reprodutores com muito bom potencial, entre os quais podemos ressaltar NORTHERN AFLEET, POINT GIVEN, SULAMANI, HOLZMEISTER, NOTABLE GUEST, WATCHMON, MASTRO LORENZO, MOLENGÃO, AVANZADO, VAL ROYAL, que se apresentaram como novidades em nossa Criação, todos, bem patrocinados, juntando–se a outros bons Reprodutores que já vinham atuando em Temporadas anteriores.
Deve–se, necessariamente, apesar do potencial genético desses Reprodutores, assinalar que dos dez (10) Reprodutores acima listados, seis (6) são descendentes de Mr. PROSPECTOR, um (1) descende de RAISE A NATIVE (Pai de Mr. PROSPECTOR) e os três (3) restantes descendem de NORTHERN DANCER, evidenciando que nossa Criação continua apostando, intensamente, em Reprodutores descendentes dessas duas “Bloodlines” que dominam o Planejamento Genético da Criação mundial, sobretudo, a norte americana.
Se por um lado, melhoramos o padrão da qualidade genética de nosso “Bloodstock”, por outro lado, estamos intensificando a incidência da Consangüinidade, no âmbito de nossa Criação, prejudicando, sensivelmente, a sobrevivência de outras importantes Linhagens e respectivas “Bloodlines”, desfigurando e distorcendo o padrão genético europeu sobre o qual foi erigida a nossa Criação, expondo um preocupante desequilíbrio na participação dos “strains” típicos norte americanos, sobre os “strains” típicos europeus, exatamente no momento em que fica evidenciada pela Criação européia, cujo modelo de Turfe, ainda é seguido pelo Turfe brasileiro que, na atualidade, o ideal é o “blending” (mistura) dos melhores “strains” norte americanos e europeus.
IV – RESUMO DA TEMPORADA DE MONTA 2008 / 2009 NO BRASIL
O Stud Book Brasileiro nominou para esta Temporada de Monta, 277 Reprodutores, que serviram 3.985 Matrizes.
Os 277 Reprodutores, distribuídos pelas Linhagens de Referência e respectivas “Bloodlines” das quais descendem, apresentaram a seguinte configuração:
A – LINHAGEM DE PHALARIS
A.1 – “Bloodline” de NORTHERN DANCER – 70 Reprodutores (48%) A.2 – “Bloodline” de NASRULLAH – 49 Reprodutores (33%) A.3 – “Bloodline” de BUCKPASSER – 11 Reprodutores (7%) A.4 – “Bloodline” de ROYAL CHARGER – 7 Reprodutores (5%) A.5 – “Bloodline” de ICECAPADE – 5 Reprodutores (4%) A.6 – “Bloodline” de NEARCO – 2 Reprodutores (1%) A.7 – “Bloodline” de FAIR TRIAL – 2 Reprodutores (1%) A.8 – “Bloodline” de FULL SAIL – 1 Reprodutor (1%)
Total da Linhagem de PHALARIS – 147 Reprodutores (53%)
B – LINHAGEM DE NATIVE DANCER
B.1 – “Bloodline” de Mr. PROSPECTOR – 72 Reprodutores (81%) B.2 – “Bloodline” de RAISE A NATIVE – 14 Reprodutores (16%) B.3 – “Bloodline” de SHARPEN UP – 2 Reprodutores (2%) B.4 – “Bloodline” de DAN CUPID – 1 Reprodutor (1%)
Total da Linhagem de NATIVE DANCER – 89 Reprodutores (32%)
C – LINHAGEM DE St. SIMON – 13 Reprodutores (5%)
D – LINHAGEM DE BLANDFORD – 8 Reprodutores (3%)
E – LINHAGEM DE HYPERION – 5 Reprodutores (2%)
F – LINHAGEM DE HURRY ON – 5 Reprodutores (2%)
G – LINHAGEM DE TEDDY – 3 Reprodutores (1%)
H – LINHAGEM DE HIMYAR – 2 Reprodutores (1%)
I – LINHAGEM DE TOURBILLON – 2 Reprodutores (1%)
J – LINHAGEM DE SON–IN–LAW – 1 Reprodutor ( – )
K – LINHAGENS NÃO IDENTIFICADAS – 2 Reprodutores ( – )
TOTAL DE REPRODUTORES TEMPORADA 2008 / 2009 – 277 (100%) OBSERVAÇÃO:
• Fica bem nítida pelos números acima expostos, a supremacia, quase absoluta, de Reprodutores descendentes das Linhagens de PHALARIS e de NATIVE DANCER que, juntas, reúnem 85% dos Reprodutores em atividade na Temporada de Monta de 2008 / 2009, deixando apenas 15% para as demais Linhagens (8) representadas.
Objetivando depurar o universo de Reprodutores que participaram dessa Temporada, ressaltamos os Reprodutores que serviram maior número de Matrizes e, conseqüentemente, com maior oportunidade de dar continuidade às suas respectivas Linhagens e “Bloodlines”.
Procuramos estabelecer um parâmetro para referência, adotando o que convencionei chamar de Índice de Concentração (IC), calculado pela simples divisão do total de Matrizes servidas (3 985), pelo número de Reprodutores que as serviram (277), tendo como resultado apurado – IC = 14.
Assim sendo, para as posições a seguir demonstradas, adotamos os Reprodutores que serviram 14 ou mais Matrizes, apresentando a seguinte configuração:
A – Linhagem de PHALARIS A.1 – “Bloodline” de NORTHERN DANCER – 21 Repr. – 888 Matr. A.2 – “Bloodline” de NASRULLAH – 9 Repr. – 284 Matr. A.3 – “Bloodline” de BUCKPASSER – 5 Repr. – 128 Matr. A.4 – “Bloodline” de ICECAPADE – 3 Repr. – 133 Matr. A.5 – “Bloodline” de ROYAL CHARGER – 2 Repr. – 49 Matr. A.6 – “Bloodline” de NEARCO – 1 Repr. – 16 Matr.
Total da Linhagem de PHALARIS – 41 Repr.(51%) – 1498 Matr. (48%)– IC = 36.5
B – Linhagem de NATIVE DANCER B.1 – “Bloodline” de Mr. PROSPECTOR – 28 Repr. – 1068 Matr. B.2 – “Bloodline” de RAISE A NATIVE – 2 Repr. – 161 Matr.
Total da Linhagem de NATIVE DANCER – 30 Repr.(37%) – 1229 Matr.(40%)– IC = 40.9
C – Linhagem de TEDDY C.1 – “Bloodline” de DAMASCUS – 3 Repr.(4%) – 153 Matr.(4%) – IC = 51
D – Linhagem de St. SIMON D.1 – “Bloodline” de RIBOT – 2 Repr. – 32 Matr. D.2 – “Bloodline” de SICAMBRE – 1 Repr. – 55 Matr. Total da Linhagem de St. SIMON – 3 Repr.(4%) – 87 Matr.(3%)– IC = 29
E – Linhagem de HIMYAR E.1 – “Bloodline” de DOMINO – 1 Repr.(1%) – 57 Matr.(2%) – IC = 57
F – Linhagem de BLANDFORD F.1 – “Bloodline” de MAHMOUD – 1 Repr.(1%) – 53 Matr.(2%) – IC = 53
G – Linhagem de HURRY ON G.1 – “Bloodline” de SASSAFRAS – 1 Repr.(1%) – 15 Matr.(1%) – IC = 15
H – Linhagem de HYPERION H.1 – “Bloodline” de STAR KINGDOM – 1 Repr.(1%) – 14 Matr.(1%) – IC = 14
TOTAL GERAL (IC = ou > 14) = 81 Repr. (29%) – 3106 Matr. (78%) – IC = 38
OBSERVAÇÕES:
1 – Dos Reprodutores com maiores possibilidades para dar continuidade aos seus Alinhamentos Paternos (serviram 14 ou mais Matrizes), vemos que 50% são descendentes da Linhagem de PHALARIS, com destaque para a “Bloodline” de NORTHERN DANCER, cujos Reprodutores serviram 59% do total (1498) das Matrizes servidas pelos descendentes desta Linhagem.
2 – Nota–se a crescente participação de descendentes de STORM CAT entre os Reprodutores descendentes da “Bloodline” de NORTHERN DANCER (RED RUNNER, TIGER HEART, TRUE CONFIDENCE e MAJOR STORM).
3 – Na Linhagem de NATIVE DANCER podemos observar a sublimação da concentração das Matrizes servidas pelos 28 Reprodutores descendentes da “Bloodline” de Mr. PROSPECTOR, em atividade nessa Temporada de Monta de 2008 / 09, que serviram 14 ou mais Matrizes, alcançando um total de 1068 Matrizes (27% do total de Matrizes servidas na Temporada de Monta).
4 – Neste grupo de Reprodutores privilegiados no Planejamento Genético dessa Temporada de Monta (IC = ou maior que 14), somando–se os Reprodutores descendentes das “Bloodlines” de NORTHERN DANCER e de Mr. PROSPECTOR, chegamos a 49 Reprodutores, ou seja, 60% do total (81), que serviram 1956 Matrizes, ou seja, 63% do total de Matrizes (3106) servidas nesse grupo, evidenciando uma excessiva concentração nos Reprodutores descendentes dessas duas “Bloodlines” e, portanto, uma severa distorção no Planejamento Genético da Criação brasileira do PSI.
5 – Como conseqüência natural dessa excessiva concentração em Reprodutores descendentes de apenas duas “Bloodlines”, as demais Linhagens / “Bloodlines”, vão sendo esvaziadas, rumando para uma próxima extinção, sobretudo, sob o ponto de vista da probabilidade estatística, ficando na dependência da imprevisibilidade genética e contando com muita sorte, a agradável e positiva surpresa com a continuidade de algumas dessas Linhagens / “Bloodlines”.
6 – Desta forma, tal como vem ocorrendo com a Criação norte americana, e agravado pelo fato de nosso Turfe seguir o padrão do Turfe europeu e não o norte americano, seguimos, aceleradamente, para a Consangüinidade, perdendo, gradativa e rapidamente, o Vigor Híbrido inerente ao PSI, resultante do caldeamento de raças que deram origem ao Puro Sangue Inglês (PSI).
7 – Para sair da convergência da Consangüinidade, evitando seus nefastos efeitos, o remédio chama–se “Outcross” que, para ser concretizado, necessita Reprodutores representantes de Linhagens / “Bloodlines” isentas da participação de elementos com ascendência nessas duas “Bloodlines” predominantes.
O grande problema é que, cada vez mais, “Bloodlines” geneticamente “abertas” vão se tornando mais escassas e raras, impedindo a adoção do Sistema “Outcross” para, pelo menos, amenizar os efeitos da Consangüinidade, restaurando, gradativamente, o Vigor Híbrido do PSI.
8 – Em razão dos aspectos acima descritos, a Criação brasileira, detentora, ainda, de um “Bloodstock” pigmentado por “strains” europeus, deveria cultivar uma diversificação mais acentuada de Linhagens / “Bloodlines” distintas e diversificadas, possibilitando a adoção, pelo menos por um determinado período, do sistema “Outcross”, defendido pelo afamado Hipólogo inglês, Sir Rhys LLewellin, e mais recentemente pelo nosso conhecido defensor da Criação brasileira, em nível internacional, o saudoso John Aiscan.
V – TEMPORADA DE MONTA 2009 / 2010 da CRIAÇÃO BRASILEIRA
Esta Temporada de Monta, oficialmente iniciada em 15 de agosto próximo passado, ratificou uma tendência sinalizada a partir da Temporada anterior, consubstanciada no ingresso de “strains” de alta qualidade genética, refletida na chegada, em “shuttle” ou definitivamente, de Reprodutores, em sua maioria, já comprovados, ou com um grande potencial genético para o exercício, com sucesso, de sua função reprodutiva.
O que ainda está deixando a desejar, refere–se ao fato de que, em sua expressiva maioria, são descendentes paternos das “Bloodlines” de Mr. PROSPECTOR e de NORTHERN DANCER elevando o nível da Consangüinidade, no âmbito de nossa Criação, mas sinalizando, efetivamente, com a elevação do nível médio da qualidade genética de nossa Criação.
Para visualizar esta situação, vamos nos basear na lista de 18 Reprodutores que chegaram ao Brasil, em “shuttle” ou definitivamente, para esta Temporada de Monta de 2009 / 2010, elaborada pelo criador José Carlos Fragoso Pires Júnior, no início do mês de julho próximo passado, no RAIA LEVE.
A – Linhagem de NATIVE DANCER A.1 – “Bloodline” de Mr. PROSPECTOR A.1.1 – ARTAX – MARQUETRY X RAGING APALACHEE por APALACHEE A.1.2 – CAPE TOWN – SEEKING THE GOLD X SEASIDE ATTRACTION por SEATTLE SLEW A.1.3 – CRAFTY C.T. – CRAFTY PROSPECTOR X ANDRIANA B por FAR NORTH A.1.4 – EL MUSTANSER – MACHIAVELLIAN X ELFASLAH por GREEN DESERT A.1.5 – ELUSIVE QUALITY – GONE WEST X TOUCH OF GREATNESS por HERO’S HONOR A.1.6 – MUTASALLIL – GONE WEST X MIN ALHAWA por RIVERMAN A.1.7 – NORTHERN AFLEET – AFLEET X NURYETTE por NUREYEV A.1.8 – PEACE RULES – JULES X HOLD TO FASHION por HOLD YOUR PEACE A.1.9 – PIONEERING – Mr.PROSPECTOR X TERLINGUA por SECRETARIAT A.1.10 – POINT GIVEN – THUNDER GULCH X TURKOS TURN por TURKOMAN
A.2 – “Bloodline” de RAISE A NATIVE (Pai de Mr. PROSPECTOR) A.2.1 – REDATTORE – ROI NORMAND X POLITICAL INTRIGUE por DEPUTY MINISTER Total da Linhagem de NATIVE DANCER = 11 Reprodutores
B – Linhagem de PHALARIS B.1 – “Bloodline” de NORTHERN DANCER B.1.1 – EMIRATES TO DUBAI – STORM CAT X MORN OF SONG por BLUSHING GROOM B.1.2 – GOOD REWARD – STORM CAT X HEAVENLY PRIZE por SEEKING THE GOLD B.1.3 – SILENT TIMES – DANEHILL DANCER X RECOLETA por WILD AGAIN B.1.4 – SINNDAR – GRAND LODGE X SINNTARA por LASHKARI
B.2 – “Bloodline” de ROYAL CHARGER B.2.1 – SILENT NAME – SUNDAY SILENCE X DANZIGAWAY por DANEHILL Total da Linhagem de PHALARIS = 5 Reprodutores
C – Linhagem de TOURBILLON C.1 – “Bloodline” de DJEBEL C.1.1 – LINNGARI – INDIAN RIDGE X LIDAKIYA por KAHYASI Total da Linhagem de TOURBILLON = 1 Reprodutor
D – Linhagem de MAN O’ WAR D.1 – “Bloodline” de IN REALITY D.1.1 – PUT IT BACK – HONOUR AND GLORY X MISS SHOPLIFTER por EXUBERANT Total da Linhagem de MAN O’ WAR = 1 Reprodutor
OBSERVAÇÕES:
1 – Como pode ser visto, permanece a maciça e esmagadora importação de Reprodutores descendentes Paternos das Linhagens de NATIVE DANCER e de PHALARIS e, particularmente, das “Bloodlines”, respectivamente, de Mr. PROSPECTOR e de NORTHERN DANCER, ou seja, 16 Reprodutores dos 18 recém chegados.
2 – Apenas 2 Reprodutores são descendentes Paternos de Linhagens / “Bloodlines” abertas às demais Linhagens, inclusive, às duas “Bloodlines” predominantes.
3 – Sinalização de efetiva contribuição para elevar o nível médio da qualidade de nossa Criação, em razão do excelente nível qualitativo dos “strains” importados, inclusive, por parte dos Reprodutores descendentes das duas “Bloodlines” predominantes.
4 – Sentida a ausência de descendentes da Linhagem de HYPERION, através de CADEAUX GENEREUX e de EFISIO, assim como, de descendentes da atual Criação alemã, notadamente, de descendentes de ACATENANGO e de MONSUN.
5 – A simples presença de pelo menos um descendente da Linhagem de HYPERION e da Criação alemã, de bom potencial genético, traria um equilíbrio acentuado ao Planejamento Genético para Temporada de Monta de 2009 da Criação brasileira.
VI – CONCLUSÕES. ASPECTOS PRIMORDIAIS PARA A CRIAÇÃO BRASILEIRA A PARTIR DA TEMPORADA DE MONTA DE 2010 / 2011
1ª – Torno sempre a lembrar ao Criador do PSI, que “O Reprodutor de hoje será o Avô Materno de amanhã”, o que significa, a continuar a tendência de se massificar o Planejamento Genético a partir de Reprodutores descendentes de Mr. PROSPECTOR e de NORTHERN DANCER, em breve, a maioria das Matrizes serão descendentes destes dois Reprodutores, intensificando, ainda mais, a Consangüinidade nestas duas “Bloodlines”.
2ª – A Temporada de Monta de 2009 / 2010 demonstra com nitidez a expressiva qualificação de “strains” importados, visualizada na chegada de Reprodutores (em “shuttle” ou definitivamente) do nível de ELUSIVE QUALITY, ARTAX, SINNDAR, LINNGARI, PUT IT BACK, entre outros Reprodutores de bom nível.
3ª – Um aspecto que segue deixando a desejar na Criação brasileira, refere–se ao fato de não terem sido importados Reprodutores descendentes da Linhagem de HYPERION (descendentes de CADEAUX GENEREUX e EFISIO), de DARK RONALD (Criação alemã – ACATENANGO), de BLANDFORD (Criação alemã – MONSUN), de TEDDY (GILDED TIME voltou?), da Linhagem de TOURBILLON (só veio o LINNGARI), da Linhagem de HIMYAR (através de HOLY BULL e seus filhos).
4ª – Torna–se importante ressaltar a importância e a oportunidade de se resgatar o Vigor Híbrido do PSI, através da diversificação das Linhagens / ”Bloodlines” dos Reprodutores importados e residentes no Brasil, sobretudo, para dar uma conotação mais acentuada ao sistema “outcross” no Planejamento Genético da Criação brasileira.
5ª – Aproveitar os efeitos da Crise da Economia internacional nos USA e, sobretudo, na Europa para reforçar o Plantel de Matrizes (“Bloodstock”), tanto em seu nível de qualidade, quanto no da quantidade, uma vez que, na Temporada de Monta de 1987 / 1988, foram nominadas pelo Stud Book Brasileiro cerca de 9500 Matrizes, enquanto, na Temporada de Monta de 2008 / 2009, portanto 21 anos após, foram registradas, apenas, 3985 Matrizes, o que demonstra, inequivocamente, uma drástica redução (58%) na Atividade criatória do PSI no Brasil.
6ª – Prestigiar os Reprodutores nacionais responsáveis pela difícil Missão de proporcionar a continuidade de importantes Linhagens / “Bloodlines”, como a de SON–IN–LAW, HYPERION, BLANDFORD, TOURBILLON, St. SIMON, TEDDY, HURRY ON e a de HIMYAR, fundamentais para o Planejamento Genético diversificado, apoiando, também, o sistema “outcross” e, conseqüentemente, resgatando o Vigor Híbrido do PSI.
7ª – Os Criadores brasileiros do PSI não devem esquecer que os dois principais Hipódromos do país, apresentam características do perfil de seus traçados e pistas, compatíveis com o modelo de Turfe europeu e não do norte americano, o que se encontra refletido nos seus respectivos Calendários Clássicos.
8ª – A Criação européia de primeiro nível, de forma incontestável, está adotando, com pleno sucesso, o “blending” (mistura) de “strains” (estirpes, linhagens) típicos europeus e norte americanos, da melhor qualidade, com pleno e comprovado sucesso.
9ª – Com a importação indiscriminada, maciça e concentrada em Reprodutores descendentes das “Bloodlines” de Mr. PROSPECTOR e de NORTHERN DANCER, a Criação brasileira está acabando com o vestígio dos “strains” típicos europeus que, até três décadas atrás, predominavam no “Bloodstock” brasileiro.
10ª – Para a próxima Temporada de Monta de 2010 / 2011, os Criadores brasileiros responsáveis pela importação de Reprodutores, seja no sistema de “shuttle”, seja definitivamente, devem comunicar e divulgar suas vindas, com a necessária antecedência, para que possam ser aproveitados nos Planejamentos Genéticos, criteriosamente elaborados, usualmente definidos com certa antecedência
11ª – Não interpretem estas observações como se eu fosse contrário aos “strains” norte americanos, pois acho tão importantes quanto os europeus.
O que ressalto e julgo imprescindível para contribuir para elevar a qualidade de nosso “Bloodstock”, é o equilíbrio entre “strains” europeus e norte americanos pois, em última análise, refletirá o equilíbrio entre a Velocidade e a Stamina, os dois atributos fundamentais e primordiais para o PSI mais ajustado ao modelo europeu do Turfe, no qual foi montado e desenvolvido o modelo brasileiro de Turfe.
Orlando Lima – omlima@infolink.com.br
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