Colunista:
Veterinária a galope, por Dr. Francisco Lança 02/04/2009 - 21h49min
PRINCÍPIOS NUTRICIONAIS NA CRIAÇÃO DO PSI – PARTE II – O potro
Os objetivos de criar um potro podem ser os mais variados, mas com certeza é o de produzir um atleta sadio e bem sucedido em qualquer nível.
Estabelecer uma base sólida é essencial se quisermos atingir o seu pleno potencial. O esqueleto do potro começa a se desenvolver no início da gestação e é cerca de 95% funcionalmente maduro, até ao final do seu primeiro ano de vida, momento em que cresceu cerca de 90% da sua altura adulta.
Os nutrientes de boa qualidade fornecem os alicerces para apoiar este crescimento rápido e, portanto, escolher uma alimentação adequada é vital.
Muitos fatores influenciam o crescimento e desenvolvimento dos potros, mas é a alimentação que pode mais facilmente influenciar, e por isso devemos tentar conseguir o estágio mais perto possível do ótimo. Algumas das principais questões que podem ser assistidas para uma adequada nutrição incluem desenvolvimento ósseo, sanidade digestiva, status imune, comportamento e manejo.
CONSIDERAÇÔES GERAIS
– O objetivo prático da égua é ter um potro vivo, que, por sua vez, evolui para um adulto saudável. A nutrição da égua tem sido pensada como menos importante do que a do potro. No entanto, é cada vez mais importante o papel da nutrição através da mãe.
– Se o tempo não for um fator importante, então os potros podem crescer e amadurecer em uma taxa aceitável. Isto pode ser mais complicado se o objetivo é produzir, por exemplo, desmamados ou sobreanos visando leilões. Nestes casos, a meta não é o ótimo e sim o crescimento máximo, e o desenvolvimento com o menor número de problemas de saúde possível.
– Os principais problemas resultantes desta prática são as doenças ortopédicas (DOD) como a Osteocondrite Dissecante (OCD), de origem cartilaginosa, a Discondroplasia (DCP), cistos subcondrais e epifisites.
– Os fatores que também podem contribuir incluem pré–disposição genética, biomecânica, trauma, estresse mecânico através de exercício inadequado, obesidade, além do já citado crescimento rápido e nutrição inadequada ou desequilibrada. Diferentes combinações podem estar envolvidas em diferentes casos.
PADRÕES DE CRESCIMENTO
– Taxas de crescimento inadequado podem resultar em variações no desempenho atlético e na saúde do potro.
– As taxas de crescimento rápido por excesso de alimentação / ingestão energética, levam a um aumento da incidência de DOD.
– A rápida taxa de crescimento pode afetar de maturação óssea direta ou indiretamente devido a perturbações na oferta nutricional e equilíbrio hormonal ou sobrecarga mecânica.
– Assim, parece ser um benefício tentar manter o crescimento com curvas suaves sem mudanças bruscas na taxa de crescimento.
– O peso ao nascimento é de cerca de 7–13% do adulto e pode ser afetado por muitos fatores, tais como a idade da égua, época do ano, a duração da gestação, quantas gestações a égua teve, etc.
– Os potros PSI tem no desmame cerca de 5 vezes o seu peso ao nascer, e aos 12 meses de idade atingem cerca de 60 a 70% do peso dos adultos, 90% da altura e 95% de desenvolvimento ósseo.
– A taxa de crescimento do potro em amamentação depende da produção de leite de égua durante o início da lactação e é afetada pela suplementação alimentar a partir do 3° mês de lactação.
– A taxa de crescimento dos desmamados será afetada pelo seu potencial genético, em particular, bem como pelo nível de estresse e nutrientes consumidos (proteína e energia).
– A taxa máxima de crescimento é obtida se os potros forem alimentados com uma dieta equilibrada, contendo níveis elevados de energia e proteínas de boa qualidade, embora a influência alimentar tornar–se menor com o passar do tempo.
– Potros crescendo a uma taxa rápida depositam maior quantidade de nutrientes no osso, músculo e, em especial, no tecido adiposo, e, portanto, precisam de mais minerais e aminoácidos, em particular Ca, P e lisina.
POTROS EM ALEITAMENTO
– Este é o período de maior taxa de crescimento rápido (aproximadamente 110 kg, ganho nos primeiros 3 meses, em potros PSI). É crucial que o potro receba uma nutrição adequada durante todo este período.
– O leite é o único alimento significativo na primeira semana de vida e é normalmente a principal fonte de nutrientes até o pelo menos 2 meses de idade, e para muitos até 4–5 meses de idade.
– Potros frequentemente comem concentrado da mãe em 2–3 semanas de vida. Podem comer cerca de 2,5–3,5% do seu peso corporal como alimentação (com 90% de matéria seca [MS]), que é dividida entre leite, pastagem ou feno e concentrado alimentar.
– A quantidade de concentrado na alimentação aumenta com a idade e depende da exigência de crescimento rápido.
– Estima–se que o percentual de gordura em um potro muda de cerca de 5% durante a primeira semana para cerca de 9% aos 2 meses de idade. Isto influencia a energia total necessária para ganho de peso durante este período que aumenta de 2.1Mcal energia líquida / kg de ganho de peso vivo em 4 dias de idade, para 2.6Mcal NE / kg de ganho de peso vivo em 83 dias e para 3.4Mcal NE / kg de ganho de peso vivo em 132 dias.
POTROS DESMAMADOS
– A idade de desmame parece não influenciar significativamente a altura e peso quando adulto, mas a qualidade da alimentação pode ter influência direta.
– Se potros não são acostumados a comer alimentos sólidos antes de serem desmamados, tende a se mostrar mais prolongado o ganho de peso e ocorre diminuição no ganho médio diário (GMD) pós–desmame, que muitas vezes pode ser seguida por uma indesejável compensação do crescimento.
– A época do ano pode fazer uma diferença de acordo com o valor nutritivo e a disponibilidade de pasto ou outras forragens.
– A menos que haja circunstâncias especiais em que o desmame precoce é necessário ou vantajoso, é melhor manter o potro com a égua, pelo menos até 5 meses de idade. O desmame precoce pode resultar em maiores taxas de crescimento inicial se níveis mais elevados de concentrado estão sendo fornecidos.
– Como é evidente, com desmame postergado, menos efeitos negativos teremos. O potro não só vai ter função digestiva mais desenvolvida, como também será mais independente. O stress de desmame pode ser considerável e, de forma a minimizá–lo, a alimentação e práticas de manejo precisam ser otimizadas.
– O tipo de dieta alimentar parece influenciar o comportamento em torno do desmame, com evidentes vantagens em fornecer gordura e alimentos ricos em fibras, em vez do tradicional amido e açúcar. O método de desmame utilizado também pode ter um efeito significativo sobre o grau de estresse no desmame experimentado pelo potro.
POTROS SOBREANO E DOIS ANOS
– O ganho de peso dos sobreanos é de cerca de 0,75–1,25 kg / dia dependendo da alimentação
– O consumo os sobreanos é de cerca de 2–3% o peso vivo (PV), mas pode ser muito variável. O máximo recomendado é de 60% de concentrado na dieta total.
– Se em pastagens de boa qualidade apenas um suplemento vitamínico e mineral é necessário. Caso contrário cerca de 1,2 a 1,7 kg/100 kg PV de alimentação complementar é necessária quando na presença de capim feno e / ou pastagens de má qualidade.
– Sobreanos alimentados para crescimento rápido durante as fases de aleitamento e desmame tendem a se tornar obesos, especialmente potrancas. Sobreanos que foram mal alimentados anteriormente, podem necessitar de ser alimentados para um crescimento rápido semelhante aos desmamados e de acordo com o PV, em vez de idade. MAS cuidados devem ser tomados com relação ao aumento, especialmente para o risco de DOD.
– Os machos tendem a crescer em um ano ligeiramente mais rápido do que as fêmeas. Freqüentemente precisam ser alimentados com rações adicionais suficientes para ter em conta as maiores ganhos extras de cerca de 0,2–0,3 kg / dia, bem como maior manutenção devido à maior quantidade de atividade voluntária quando mantidos em grupos.
– Os potros com mais de 16 meses tem consumo de cerca de 2–2,75% do PV. O montante máximo de concentrado é 50–60% do total da dieta, aproximadamente 1.0–1,35 kg/100 kg de peso corporal.
– Tal como acontece com os sobreanos as quantidades de alimentos para 2 anos deve depender da forma como eles estão atingindo a sua maturidade.
Na próxima coluna, que será continuação deste tema. Trataremos sobre as exigências nutricionais dos potros em crescimento. Até lá.
Dr Francisco Lança – francisco@byvet.com.br
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