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Colunista:

A CRIAÇÃO NACIONAL DO PSI – O DILEMA
11/03/2009 - 09h29min

A CRIAÇÃO NACIONAL DO PSI – PARTE IV


V – O DILEMA

O Criador do PSI no Brasil encontra–se diante de um dilema que, em meu julgamento, vem afetando seriamente o nível da qualidade de nosso PSI, se levarmos em conta o “bloodstock” brasileiro como um todo.

Para explicar meu ponto de vista, devemos retroceder no tempo, para o início da Criação brasileira, que foi implantada e desenvolvida com base nas Linhagens típicas européias e, diga–se de passagem, Linhagens estas da melhor qualidade, no tocante ao seu conteúdo genético. 

Como decorrência natural dessa influência européia, o Turfe brasileiro se espelhou, integralmente, no Turfe europeu e, como não poderia deixar de ser, nossos dois principais Hipódromos, o da Gávea, no Rio de Janeiro, e o de Cidade Jardim, em São Paulo, tiveram o perfil de suas pistas de corrida, privilegiando o traçado caracterizado por retas longas (600 m), curvas amplas, e a grama como a sua principal pista.

O traçado da pista de Cidade Jardim, sem dúvida, beira à perfeição, em razão das duas extensões das retas, oposta e de chegada, proporcionado os 1 000 m em linha reta, assim como, os 2 000 m, com partida na extensão da reta oposta.

Assim sendo, o Calendário Clássico desses dois Hipódromos segue de perto o modelo do Calendário Clássico do Turfe europeu. 

Deve–se ressaltar que o modelo do Turfe europeu privilegia as corridas na pista grama e suas principais Provas de Grupo, são disputadas nos 2 400 m, a distância clássica por excelência, como o Derby de Epsom, o King George VI and Queen Elizabeth Stakes, o GP Arco do Triunfo, para citar, apenas, as mais importantes.

Em conseqüência, nada mais natural que a nossa Criação do PSI seguisse os padrões europeus, adotando (importando) Linhagens típicas da Europa, privilegiando distâncias mais longas, tendo como foco primordial os 2 400 m, na pista de grama, sem, evidentemente, desprezar os 1 600 m, como sua segunda distância mais importante.  

Já o modelo de Turfe norte americano, apresenta características bem distintas das do modelo europeu, privilegiando distâncias mais curtas, sendo a sua distância clássica por excelência, os 2 000 m, na pista de areia ou sintética, refletidas nas duas Provas mais importantes do seu Calendário Clássico, ou seja, o Kentucky Derby e a Breeders Cup Classic mas, diferentemente do Calendário europeu, ao invés dos 1 600 m, as outras distâncias mais importantes, situam–se entre os 1 700 m e os 1 900 m, sempre nas pistas de areia ou similar.

Como fica fácil de constatar, as distâncias e pista das principais do Calendário Clássico norte americano, não guarda uma correlação mais efetiva com as praticadas no Brasil, que, ainda, mantém uma efetiva similaridade com as européias, em conformidade com traçado e pista de seus principais Hipódromos.

Até meados da década de 80, nossa Criação permaneceu fiel às Linhagens européias, quando, começou a intensificar importações de descendentes de Linhagens típicas da criação norte americana, ao mesmo tempo em que eram reduzidas, drasticamente, as importações de Linhagens européias.

O Turfe norte americano concentrou sua Criação a partir das “bloodlines” de NORTHERN DANCER, Mr PROSPECTOR e NASRULLAH, sobretudo, nas duas primeiras, promovendo, gradativa e rapidamente, a intensidade da Consangüinidade no âmbito de sua Criação, evidenciando uma crescente fragilidade físico–orgânica, problemas com a fertilidade de suas Matrizes, campanhas de pista muito curtas (os melhores “racehorses” nos USA, mal chegam a completar a campanha dos 3 anos), muitas vezes, devido a lesões prematuras, além de outros problemas menos contundentes.

É nítida sua preocupação em incrementar a Velocidade, mas em detrimento da Stamina, razão pela qual, a exatos 30 anos, não surge um Tríplice Coroado, pois os que conseguiram vencer as duas primeiras Provas, respectivamente, em 2 000 m (Kentucky Derby) e em 1 900 m (Preakness Stakes), não conseguiram vencer a terceira Prova, em
2 400 m (Belmont Stakes).

O que nos levou a importar Reprodutores norte americanos, sem dúvida, foi o prodigioso marketing e divulgação do Turfe norte americano no Brasil mas, sobretudo, os preços acessíveis de Reprodutores descartáveis pela Criação dos USA, o que resultou na vinda de “strains” (estirpes) menos qualificados, o que acabou por comprometer a média da qualidade genética de nossa Criação.

Pode–se argumentar que justamente nessa época, obtivemos os melhores resultados em pistas norte americanas, mas devemos contra argumentar que foram episódicas e, em sua grande maioria, em corridas cujas características eram muito próximas ou idênticas às corridas típicas da Europa Brasil, realizadas em alguns dos Hipódromos nos USA e, além disso, obtidas por animais fortemente influenciados por Linhagens européias, criados por um número restrito de Haras que mantém um “bloodstock” ainda expressivamente influenciados por “strains” europeus.

Na Breeders Cup, realizadas todos os anos nos USA, as Provas realizadas na pista de grama ou similar e nas distâncias dos 1 600 m e 2 400 m, usualmente, são vencidas por animais vindos da Europa, como ficou evidenciado na versão de 2008.  

Os Criadores europeus perceberam que precisavam intensificar a participação da Velocidade no Genótipo de seu PSI, mas sem prejuízo do padrão de Stamina característico de sua Criação, e para isso, incorporaram à sua Criação, “strains” norte americanos da melhor qualidade, caracterizados pela Velocidade, conseguindo pleno êxito, neste objetivo, configurado no Genótipo da fenomenal ZARKAVA.

O mesmo objetivo deveria ser perseguido pelo Criador brasileiro, pelo menos pelos Criadores comprometidos com o aumento da qualidade de nossa Criação do PSI, trazendo alguns “strains” do melhor nível possível dos USA mas, também, trazendo “strains”, de qualidade comprovada, da Europa, promovendo o necessário “blending” (mistura) desses “strains” para elevar o nível médio da qualidade de nosso PSI, renovando nosso “bloodstock”, conservando a base européia sobre a qual foi implantada e desenvolvida a Criação brasileira.

Se este objetivo era praticamente impossível de ser concretizado, pelos altos preços de Matrizes e Reprodutores de alta qualidade, tanto nos USA, quanto, e principalmente, na Europa, com a recente chegada da Crise mundial da Economia, o que era inacessível para nossos Criadores, passou a ser de fácil acesso para os Criadores brasileiros que, como citei anteriormente, percebam a defasagem do nível médio da qualidade de nossa Criação, e  tenham um efetivo compromisso com a sua recuperação, consolidação e reconhecimento, no âmbito da Criação internacional.

A invasão indiscriminada de “strains” norte americanos de qualidade, no mínimo, duvidosa, em sua maioria, assim como, a ausência quase absoluta da renovação  de “strains” europeus em nossa Criação, não permitiu o “blending” de “strains” do melhor nível europeu e norte americano, alcançado pela Criação européia, além de iniciar um processo acelerado da falta de identificação de nosso PSI, que se vê diante de uma encruzilhada, sem saber, com precisão e determinação, qual caminho tomar.

A tendência que parece tomar vulto é a de enveredar pelo caminho da americanização absoluta, abandonando suas raízes européias e, portanto, perdendo sua efetiva identidade, construída ao longo de cerca de 1 século.

Basta observar os Reprodutores que tiveram melhor eficácia na produção de nossos melhores “racehorses” e “ racemares”, ao longo desse período que, com toda a nitidez e evidencia, verificamos que foram os europeus, em particular, os franceses. 

Além disso, se estávamos preocupados em vender nossos melhores Produtos para o Mercado norte americano, como poderemos concorrer com a Criação argentina e chilena que, desde a década de 70 80, decidiram criar para o mercado norte americano?

Com o progressivo desaparecimento dos “strains” europeus, estaremos incorrendo no grave problema da consangüinidade, afunilando nossa Criação, tal como vem ocorrendo nos USA, para duas ou três “bloodlines” pontuadas por NORTHERN DANCER, Mr. PROSPECTOR e NASRULLAH, ao mesmo tempo que decretando o desaparecimento de fundamentais Linhagens européias, como as de HYPERION, BLANDFORD, TOURBILLON, SON–IN–LAW, HURRY ON, ST. SIMON, entre outras menos cotadas, mas igualmente importantes.

Em 1990, o grande Hipólogo, John Aiscan, de renome internacional, que infelizmente, como Franco Varola, já não se encontra entre nós, afirmava num Artigo, que não havia país com maior potencial para fornecimento de material para o “outcross”, que o Brasil.

O “outcross” representa o antídoto natural para combater a Consangüinidade no âmbito da Criação do PSI, regime defendido, ardentemente, pelo grande Hipólogo, Sir Rhys Llewellin, de grande prestígio na Inglaterra.

Até o momento, nos fixamos na questão do Genótipo mas, tão importante quanto, é a questão do Fenótipo, ou seja, o perfil físico do PSI em relação à sua aptidão para abordar as diferentes faixas de distância, mais adequadas ao Alcance Estamínico (AE) de cada “racehorse” e “racemare”.

Há uma “onda” na busca por cavalos pesados, a ponto de que, muito em breve, é muito provável que o cavalo pesando 500 kg, seja considerado leve, tendo em vista que na década de 70, um cavalo pesando 470 a 480 kg era considerado um cavalo pesado.

Estamos vivenciando um momento absurdo, no que se refere ao Fenótipo do PSI, com origem na criação dos USA, no qual a Criação brasileira embarcou de “Corpo e Alma”.

Fico impressionado, quando num Leilão de Potros e Potrancas inéditos, muitos com menos de 2 anos físicos, ouve–se o leiloeiro enfatizar como a grande virtude daquele jovem PSI, seu peso superior a 500 kg, porque Proprietários e Treinadores, em sua grande maioria, acreditam que os PSI’s mais credenciados, são os de maior Peso Físico.

O que realmente importa no Fenótipo de um PSI é o equilíbrio de seu perfil físico, incluindo o equilíbrio de seus Conjuntos Físicos, ou seja, Cabeça, Pescoço, Anca, Paleta, Profundidade Peitoral, Extensão Dorsal, Quadratura, entre outros, refletidos num Peso Físico compatível, além, evidentemente, de Aprumos Corretos.

Antes de tudo, o jovem PSI deve retratar, com a maior fidelidade possível, a natureza do Fenótipo de seus ancestrais, refletido a partir do Planejamento Físico envolvendo os Fenótipos de seu Pai e de sua Mãe.

Não é necessário ser um grande observador para se averiguar que o Fenótipo de um Fundista, usualmente, apresenta um Porte médio para pequeno, o de um “Miler”, o Porte médio e o “Sprinter” um Porte grande, o que, conceitualmente, é lógico porque o Fundista deve exibir o equilíbrio físico por excelência, refletido num Porte menor, mais adequado para abordar distâncias mais longas e, ainda, ter condições para um apresentar um “sprint” nos metros finais da milha e meia (2 400 m).

O “Miler” devendo exibir um Fenótipo de padrão médio, evidenciando o perfeito equilíbrio entre o modelo físico mais leve, e o modelo com mais Massa muscular, exibindo a perfeita distribuição física de seus Conjuntos Físicos, voltados para o perfeito equilíbrio entre a Velocidade do “Sprinter” e a Stamina do Fundista, para percorrer, adequadamente, os 1 600 m, típico dos “Milers”.

Já o “sprinter”, usualmente, deve exibir um Fenótipo de Porte grande, até mesmo avantajado, com Peso físico elevado, refletindo uma poderosa Massa Muscular, necessária para a explosão muscular típica do PSI voltado para distâncias curtas, admitindo–se, inclusive, um certo desequilíbrio físico proporcionado pelo excessivo desenvolvimento de suas Ancas em relação à sua Paleta, desequilíbrio este, maximizado nos Quarto de Milha. 

A fuga destes padrões, se constituem em exceções, que ocorrem com pouca freqüência, como por exemplo, foi o caso de SECRETARIAT, de grande Porte, mas dono de um Fenótipo primando pelo equilíbrio e com angulações mais perfeitas do que o próprio padrão adotado para o PSI.

A lógica desses padrões, se encontra no fato de que é mais fácil e freqüente, se encontrar o desejado equilíbrio em modelos menores e mais leves, do que em modelos maiores e mais pesados.

Basta observarmos o Fenótipo de vários vencedores do GP Brasil e GP São Paulo, assim como de outras importantes Provas em 2 400 m, como L’AMICO STEVE, GORYLLA, DAIÃO, NEGRO DA GAITA, OFF THE WAY e a fenomenal ZARKAVA, entre muitos outros, para certificar esta afirmação.

Raciocínio invertido é válido para os “Sprinters”, tendo como exceção, atualmente como a melhor “sprinter” em atividade no Brasil, a notável REQUEBRA, que apresenta um modelo de Porte médio para pequeno, mas exibindo um visível poderio muscular, contemplado em seu modelo físico mais reduzido.

Para concluir, de uma forma geral, é evidente que modelos físicos de grande Porte e Peso elevado são muito mais suscetíveis a problemas de ordem física, em razão da excessiva pressão em suas articulações, a não ser que seja um Porte natural resultante do Fenótipo de seus ancestrais.

O PSI se resume, em última análise, ao seu Genótipo e ao seu Fenótipo, os dois predicados básicos e fundamentais que ditarão o seu potencial para a sua futura campanha nas pistas de corrida, predicados estes que deverão ser criteriosamente observados pelos Criadores brasileiros que pretendam continuar com sua atividade criatória e que, ao mesmo tempo, mantenham um forte compromisso com a qualidade de seus Produtos.

Deixo como recomendação, de ordem estritamente técnica, que nossos Criadores promovam o “blending” (mistura) de “strains” (estirpes) europeus e norte americanos de qualidade comprovada, seguindo o êxito obtido pela Criação européia.

Concluindo, vejo que a Criação brasileira encontra–se diante um DILEMA que necessita de uma definição urgente, a ser tomada de forma consciente e consentida, mas plenamente possível, através da União dos Criadores brasileiros, contando, para isso, com a efetiva participação das Associações de Criadores e Proprietários do Cavalo de Corrida, nacional e regionais, em prol de uma melhor qualificação da Criação Nacional do PSI, e seu conseqüente e efetivo reconhecimento no âmbito da Criação Internacional.

Continua...

Orlando Lima – omlima@infolink.com.br



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