Colunista:
Veterinária a galope,
por Dr. Francisco Lança 05/03/2009 - 12h07min
CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS
ALIMENTOS UTILIZADOS EM NUTRIÇÃO EQUÍNA
Cerca de 70 % dos gastos com
cavalos, excluindo o custo com a aquisição dos animais, são com a alimentação, destacando–se
o concentrado que mais onera o custo. Uma vez que os alimentos volumosos de clima tropical
alteram drasticamente sua composição e valor nutritivo, com o avançar do estado de maturidade
da planta em relação aos volumosos de clima temperado, há necessidade constante de avaliar o
valor nutritivo dos volumosos usados, bem como melhorar o manejo de sua produção para, assim,
maximizar a eficiência de utilização desses alimentos na criação de cavalos. Tem–se, como
exemplo, o uso de pastagens e fenos de melhor qualidade. Com isso há redução da necessidade
de suplementação de concentrados nas rações, reduzindo, dessa maneira, o custo com
alimentação.
No Brasil, infelizmente, não tem sido rotineira a avaliação dos
alimentos, especialmente os volumosos, ao se fazer recomendações de rações e misturas
minerais. Apesar de existir um vasto volume de pesquisas publicadas sobre a avaliação da
digestibilidade dos alimentos tropicais, ainda há poucas informações sobre a composição
mineralógica e disponibilidade de minerais dos alimentos. Muitas vezes, temos que recorrer ao
NRC para obter tais informações, ou temos que utilizar recomendações práticas como
desconsiderar a composição mineral dos alimentos, e suprir nos suplementos minerais 100% das
exigências de sódio e microelementos minerais e 40 a 60% de cálcio e fósforo. Para formular
misturas minerais mais adequadas às condições brasileiras, há necessidade de se realizar
pesquisas com o objetivo de obter tabelas de composição mineralógica dos alimentos aqui
utilizados, em função da espécie forrageira, idade, adubação, manejo, clima, tipo de solo,
entre outros, onde se faz presente a necessidade não só de um nutricionista como também de um
Agrônomo.
CLASSIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS
A
classificação dos alimentos é feita em função dos níveis de energia, fibra e proteína, em que
os alimentos volumosos (não concentrados) são de baixos valores energéticos e ricos em fibra.
Têm–se, como exemplos de alimentos volumosos, as forragens secas, como os fenos, palhas e
cascas de sementes e as forragens verdes, como as pastagens, capineiras e culturas
forrageiras (alfafa). Os alimentos concentrados são ricos em energia (acima de 60% de NDT
=nutrientes digestíveis totais), contendo amido e lipídios. Os alimentos concentrados
subdividem–se em alimentos energéticos e alimentos protéicos. Os alimentos básicos ou
energéticos, com menos de 20% de proteína bruta, incluem os grãos de cereais e seus
subprodutos (milho, sorgo, trigo, arroz, aveia, cevada, centeio), e os subprodutos da
indústria (melaço).Os alimentos protéicos contêm acima de 20% de proteína bruta, sendo de
origem vegetal como as oleaginosas (soja e girassol) e de origem animal (farinha de carne).
Outros exemplos de alimentos que não foram incluídos nas classificações acima são os
suplementos minerais, suplementos vitamínicos, aminoácidos sintéticos, etc. Vamos verificar,
agora, informações dadas sobre os alimentos mais comumente usados na alimentação de equínos.
AVEIA
A aveia é o cereal em grão mais
comumente usado na alimentação de eqüinos. Com base na energia, é geralmente o grão cereal
mais caro no mercado. Além disso a qualidade da aveia varia mais que nos outros tipos de
grãos, pela variação na quantidade de cascas. Uma aveia considerada de qualidade deverá ter
seu peso volumétrico acima de 50 (ph>50). É encontrada no mercado sob a forma de grãos de
aveia branca e aveia preta laminada e achatada (consiste no grão integral despontado ou
achatado laminado); e casca de aveia, que envolve os grãos de aveia e é obtida pelo seu
beneficiamento para consumo humano. Esta última é muito utilizada na formulação de rações
comerciais peletizadas. A aveia é um cereal muito nutritivo, que possui fósforo, ferro,
proteínas, além de vitaminas, carboidratos e fibras. Os grãos de aveia têm um dos mais
altos teores protéicos, com valores médios de 12 % e qualidade protéica considerada muito boa
se comparada com outros cereais. A composição de aminoácidos da aveia é constante em uma
ampla variação no conteúdo protéico, com apenas uma pequena correlação negativa entre a
proteína total e a porcentagem de lisina. É também característica do perfil de aminoácidos
deste cereal uma alta proporção de ácido glutâmico, com ácido aspártico, leucina e arginina
também em altas concentrações. A aveia tem maior porcentagem de lipídios que a maioria dos
cereais. Estes, em grande concentração e distribuídos por todo o grão, destacam–se
nutricionalmente por sua razão favorável entre ácidos graxos poliinsaturados e saturados,
pelo seu alto conteúdo de ácidos oléico e linoléico, vitaminas e por suas propriedades
antioxidantes. Pesquisas internacionais indicam que o teor de vitamina E é considerável no
óleo de aveia, sendo que varia entre 3,3 a 8,1 mg/Kg de aveia.
Dentre os carboidratos,
além da concentração e qualidade do amido, a fração fibra é muito importante. Nesta fração
destacam–se as fibras solúveis.
ALFAFA
A
alfafa é largamente utilizada em nutrição eqüina na forma de feno. Hoje se utilizam também as
formas peletizada e em cubos. A sua boa adaptabilidade aos mais diferentes tipos de clima e
solo fez com que se tornasse conhecida e cultivada em quase todas as regiões agrícolas do
mundo e é considerada a "rainha das forrageiras" pelos norte–americanos, devido ao
seu elevado valor nutritivo e por produzir forragem tenra e de boa palatabilidade para
os cavalos. A alfafa é muito nutritiva, apresentando importantes qualidades como forrageira
com níveis muito superiores aos de outras fontes de alimentos habitualmente utilizados em
nossa nutrição equína. Quanto aos teores de proteína, verifica–se que sua degradabilidade, no
processo de digestão pelo animal, ocorre em velocidade muito inferior àquela das proteínas de
gramíneas. Também é rica em Vitaminas A1, B2 e C, além dos minerais potássio, magnésio e
cálcio.
MILHO
O milho é um bom alimento
para eqüinos. O seus conteúdo energético é mais alto do que o da aveia e deverá constituir no
máximo até 40 % da ração. Tem tendência a causar obesidade nos cavalos e a deixá–los um pouco
mais agitados devido á alta concentração de energia se fornecido em proporção acima de 60 %
na ração. É erroneamente denominado de alimento quente. O calor produzido durante a digestão,
absorção e utilização do milho é 1/3 menor do que o produzido pela aveia. O milho é
encontrado no mercado sob diversas formas como grão integral, grão moído (quirera), farelo de
gérmen de milho, glúten 21 de milho, glúten 60 de milho, gérmen desengordurado de milho e
milho integral extrusado (em flocos). O milho (grão) é rico em pró–vitamina A (beta–caroteno)
e pigmentantes (xantofila), e apresenta baixo teor de proteína bruta, triptofano, lisina,
cálcio, riboflavina, niacina e vitamina D.
CEVADA
É um bom cereal em grão e pode ser utilizado
único na ração. É intermediária entre a aveia e o milho com relação ao conteúdo energético.
Com alto valor nutricional e disponível durante o ano todo, contribui para a redução dos
custos de alimentação. Sua elevada proporção de proteína “By pass” e a composição de sua
fibra constituem importantes fatores nutricionais relacionados ao bem estar animal e aumento
de índices produtivos. Tem excelente palatibilidade e baixa quantidade de potássio. No
entanto é pouco utilizada e já sofreu variações genéticas consideráveis pela sua utilização
no fabricação de cerveja e café.
SOJA
A
soja pode ser fornecida para os animais na forma de grão cru ou tostado e de farelo de soja.
O grão (cru) apresenta de 90 a 100% de nutrientes digestíveis totais, devido ao alto teor de
óleo, e 42% de proteína bruta na matéria seca, mas é pobre em cálcio, vitamina D e caroteno.
O grão (cru) tem como limitações a presença de sojina, inibidor de tripsina, que causa
hipertrofia pancreática e crescimento retardado, mas é destruído pelo aquecimento (tostagem)
e o alto teor de óleo (20% de extrato etéreo), que quando triturado, deve ser fornecido
rápido (em uma semana) para evitar rancificação. O farelo de soja tostado apresenta de 45 a
51% de proteína bruta e é rico em lisina, tiamina, colina e niacina, e pobre em caroteno.
Para os cavalos, recomenda–se usar de 20 a 30% da ração. A soja é a principal fonte de
proteína utilizada na nutrição eqüina.
TRIGO
O trigo é disponível nas formas de farelinho e
farelo, mas o mais comum é a comercialização da mistura dos dois. O farelinho apresenta 88%
de NDT, 16% de PB e 8% de fibra na matéria seca. O farelo de trigo, além de apresentar teor
médio de nutrientes digestíveis totais (71%) e de proteína bruta (18%), também é rico em
niacina, tiamina, fósforo, ferro e pobre em caroteno e pigmentantes. O teor de lipídios é de
4,5% e o de fibras de 11%, apresentando efeito laxante, e a gordura pode rancificar quando o
armazenamento é feito por tempo prolongado e em condições de alta temperatura e umidade. O
farelo de trigo é recomendado para na ração de eqüinos em até 30%, desde que não ultrapasse
5% de extrato etéreo total da ração.
ARROZ
O arroz é disponível nas formas de casca,
farelo e farelo desengordurado, e largamente utilizado na formulação de rações comerciais. A
casca de arroz é pobre em nutrientes digestíveis totais e é rica em silicato e oxalato, que
causam lesões no estômago dos eqüinos. O farelo de arroz apresenta 70% de nutrientes
digestíveis totais, 13 a 15% de proteína bruta na matéria seca, é pobre em cálcio e rico em
fósforo, tiamina, riboflavina e niacina. O alto teor de lipídios – 30% de extrato etéreo –
faz com que o farelo de arroz rancifique–se facilmente, prejudicando o seu paladar e o
consumo pelo cavalo. A rancificação ocorre quando o armazenamento é feito por tempo
prolongado e em condições de alta temperatura e umidade. É raramente utilizado colo alimento
isolado na nutrição eqüina.
MELAÇO
O melaço
é rico em açúcares, cálcio, magnésio, potássio, niacina e ácido pantotênico, e é pobre em
tiamina, riboflavina e vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), e apresenta 57% de nutrientes
digestíveis totais. Uma limitação do melaço é a presença de nitrato e potássio em excesso,
que causam diarréia, nefrite, dentre outros. No Brasil, há empresas que comercializam melaço
em pó para ser usado como palatabilizante em rações de cavalos e como aglomerante na produção
de ração peletizada. No caso dos equínos, recomenda–se usar melaço em até de 2 a 5% da
ração.
TABELA DE VALORES MÉDIOS DOS CONSTITUÍNTES DOS
ALIMENTOS
|
Umidade |
Proteína
Bruta |
Fibra
Bruta |
Extrato
Etéreo |
Matéria
mineral |
Fósforo |
Cálcio |
|
% |
% |
% |
% |
% |
% |
% |
Aveia
branca |
13,0 |
11,0 |
13,0 |
3,0 |
12,0 |
1,1 |
0,3 |
Cevada |
13,0 |
10,0 |
8,0 |
1,0 |
4,0 |
x |
x |
Farelo de
Arroz |
12,5 |
11,0 |
13,0 |
15,0 |
12,0 |
1,1 |
0,3 |
Farelo de soja 45 % |
12,5 |
45,0 |
7,0 |
x |
7,0 |
x |
x |
Farelo de
trigo |
13,5 |
14,0 |
11,0 |
3,0 |
6,0 |
x |
x |
Feno de alfafa |
12,0 |
17,0 |
30,0 |
x |
12,0 |
0,2 |
1,2 |
Feno de Coast
Cross |
12,0 |
7,5 |
12,0 |
x |
10,0 |
0,2 |
0,7 |
Melaço |
26,0 |
1,5 |
x |
x |
8,0 |
0,0 |
1,0 |
Milho
integral |
13,0 |
7,5 |
3,5 |
3,0 |
2,0 |
x |
x |
Dr. Francisco Lança – francisco@byvet.com.br
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