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Colunista:

A CRIAÇÃO NACIONAL DO PSI – INTRODUÇÃO
18/02/2009 - 02h24min

A CRIAÇÃO NACIONAL DO PSI

I – INTRODUÇÃO

O Puro Sangue Inglês (PSI) é o animal doméstico mais exigente para ser, adequadamente, criado.

O cumprimento de todas as peculiaridades e circunstâncias que cercam sua criação, desde que conhecidas, devem ser fielmente cumpridas, sob pena dos resultados alcançados, ficarem muito aquém dos desejados.

O Brasil, como um país tropical, sempre foi considerado como inadequado para a sua criação, por muitos dos experts europeus que, provavelmente, desconheciam, ou ainda desconhecem, a existência de regiões, ainda que reduzidas, que reúnem condições de Meio Ambiente, francamente favoráveis à criação do PSI.

Estou me referindo, em primeiro plano, às regiões de Bagé, no Rio Grande do Sul, e de São José dos Pinhais e Tijucas do Sul, no Paraná e, num segundo plano, a algumas regiões de “terra roxa”, em São Paulo.

O fundamento desta referência está baseado num levantamento realizado há alguns anos, indicando, como a 2ª melhor região para a sua criação, os Pampas Argentinos, do qual a região de Bagé é sua extensão, e como a 3ª melhor região, a Normandia, na França, região litorânea, condições estas encontradas em São José dos Pinhais e Tijucas do Sul, devido à sua proximidade do litoral.

Um aspecto primordial, de fundamental importância para uma criação do mais alto nível, embora de difícil realização, devido aos aspectos econômico–financeiros que envolve, consiste na sua criação, realizada em duas regiões com Meio Ambiente distintos e complementares, como ficou comprovado pelas criações de Tesio, Aga Khan, e aqui no Brasil, pelo Haras São Bernardo, Haras Pelajo e, mais recentemente, pelo Haras São José do Bom Retiro, entre muitos outros Haras, no Brasil e no Exterior, que adotaram este extraordinário Esquema de Criação para o PSI.

No Brasil, a região de Bagé é perfeitamente complementada pela região de São José dos Pinhais / Tijucas do Sul, ou por regiões Serranas, como a de Teresópolis, em nosso Estado do Rio de Janeiro.

Produzindo efeitos benéficos similares, o caminho inverso é, igualmente, recomendável, ou seja, o Produto criado no Paraná ou São Paulo, deveria ser recriado em Bagé.

Quando me reporto às regiões mais favoráveis para a criação do PSI, estou me referindo às condições naturais de CLIMA, SOLO e ÁGUA, e qualquer deficiência encontrada nestas condições naturais, deverá ser compensada artificialmente, compensação esta, que nunca será integral, e que, certamente, elevará os Custos para uma adequada e bem orientada Criação de PSI.

O Brasil é um país de dimensões continentais e, em razão desta condição, as distâncias entre estas regiões são acentuadas, resultando num eixo geográfico, separando, de um lado, a região de Bagé, onde está concentrada a maioria dos Haras brasileiros, e do outro lado, a região de São José dos Pinhais / Tijucas do Sul, no Paraná, à qual se junta a Criação de São Paulo, reunindo, também, um grande número de Haras.

O maior Haras do Brasil, entretanto, encontra–se em Ponta Porã, em Mato Grosso, assim como, encontramos um Haras de expressivas dimensões na Bahia.

A título de informação, este levantamento sobre as regiões mais favoráveis para a criação do PSI, colocou em 1º lugar, a Nova Zelândia, em 2º lugar, os Pampas argentinos, em 3º lugar, a região da Normandia, na França, e em 4º lugar, os campos de “Blue Grass” em Kentucky, nos USA.

Em meu julgamento, deveria ter sido incluída a Irlanda, entre as regiões mais favoráveis para a criação do PSI.

Antecedendo ao aspecto da criação propriamente dita, deve ser considerado o aspecto do Planejamento Genético, envolvendo, basicamente, a seleção das Matrizes que irão integrar o Plantel de Matrizes (“Bloodstock”) do Haras e a seleção dos Reprodutores que irão servir essas Matrizes, a cada Temporada de Monta.

Em seguida ao aspecto da criação propriamente dita, apresentam–se as etapas de Pré–Condicionamento, Doma, Condicionamento e Treinamento, a ser iniciado em conformidade com o nível de precocidade física evidenciado pelo Produto.

Estes três aspectos deverão ser cumpridos com o máximo rigor possível, pois qualquer deficiência na realização de um deles, poderá prejudicar, ou mesmo impedir, decisivamente, a futura campanha do Produto nas pistas.

Para tanto, deve–se ressaltar que, apesar da crise que assola o Turfe brasileiro, nossos Criadores que pretendam elevar o nível de qualidade de sua Criação, deverão assumir a criação do PSI, como uma autêntica Atividade Econômica, independentemente, de criar para comercializar ou para correr defendendo suas cores, encarando os Custos de criação, não como Despesa, mas como Investimento, com a expectativa de Retorno, seja através de nosso Mercado Interno, apesar de sua notória fragilidade, seja por demanda do Mercado Externo, apesar da crise mundial da Economia, pois justamente nos períodos de crise, é que formam os grandes empreendimentos.

Isto não é uma previsão ou premonição de Economista, mas uma constatação histórica!

A partir dessas fundamentais observações, passaremos a analisar, em detalhe, como a Criação brasileira poderá elevar o nível médio da qualidade genética de seus Produtos, a partir de cada um dos aspectos anteriormente citados.

II – PLANEJAMENTO  GENÉTICO
 
A concepção de um PSI constitui a primeira etapa de uma autêntica “construção” concebida pela “Arquitetura e Engenharia Genética”, criteriosamente estudada e executada, visando um resultado auspicioso e consistente, conceito este que convencionei chamar de PLANEJAMENTO GENÉTICO.

Na Criação nacional do PSI, lamentavelmente, ainda predomina um certo espírito amadorista, determinado pela casualidade que impera, em grande parte, nos cruzamentos observados em nossa Criação do PSI, ainda que se possa avaliar um certo progresso, neste sentido, por parte de alguns Criadores brasileiros, preocupados com o nível da qualidade de seus Produtos.

Trata–se de uma autêntica “Barreira Cultural”, que precisa, urgentemente, ser banida da Criação brasileira, pelo menos, por parte dos Criadores que pretendam melhorar e evoluir na qualificação genética de seus Produtos, não se deixando envolver pelo modismo de aspectos Comerciais que, usualmente, acabam por prejudicar o alcance de resultados mais consistentes e freqüentes, obtidos a partir da análise e aplicação de conceitos técnicos da Genética, através de um criterioso Planejamento Genético.  

O Planejamento Genético é um processo dinâmico, envolvendo períodos de curto, médio e longo prazo, construindo seus resultados através do “blending” (mistura) de Linhagens e “Bloodlines”, a partir do Genótipo e Fenótipo das Matrizes analisadas.

Este processo foi sublimado pelo Mago, Federico Tesio, que levou algumas décadas para chegar à perfeição genética, refletida no fenomenal RIBOT, o que não impediu que, ao longo do caminho, viesse a produzir extraordinários “racehorses” e Reprodutores, como CAVALIERE D’ARPINO, NAVARRO, NEARCO, DONATELLO, apenas para citar uns poucos, de sua enorme constelação de estrelas.

Podemos visualizar este mesmo processo, naquela que considero como a mais qualificada Criação de PSI da atualidade, no modelo de Turfe europeu, construída desde a década de 20, adotando o “blending” de Linhagens e “Bloodlines” diferenciadas e diversificadas, até chegar aos nossos dias, com os resultados mais auspiciosos, consistentes e freqüentes, ou seja, a Criação Aga Khan, sublimada na figura de um fenômeno conhecido como ZARKAVA.

A crise na Economia mundial, apesar de seus efeitos negativos, proporciona oportunidades sem precedentes, para que tenhamos acesso a animais de melhor qualificação genética e física, adquiridos em países de Criação mais desenvolvidas do que a nossa e, sempre que possível, utilizando nossos mais categorizados PSI, o que permitirá elevar o nível médio do padrão de qualidade de nossa Criação, assim como, proporcionará o aprimoramento de nossos Produtos, o que, certamente, resultará na continuidade da evolução genética e física do nosso PSI, inserindo e consolidando a participação efetiva de nossa Criação, no âmbito da Criação internacional do PSI. 

Para obter os resultados desejados, o Criador terá que encarar a criação do PSI como uma Atividade Econômica, nunca como um simples “hobby”, e entender que, para alcançar tais resultados, de forma qualificada, consistente e freqüente, não há outro processo, senão o de um criterioso Planejamento Genético, elaborado por um efetivo conhecedor do PSI.

Sir Charles Leicester, autor do livro “Bloodstock Breeding”, até hoje conhecido como “A Bíblia” da criação do PSI, afirmava que “A Genética não é uma ciência exata”, um conceito, sem dúvida, insofismável, mas acrescento que, além de inexata, é imprevisível mas, acima de tudo, é TENDENCIOSA.

Por ser tendenciosa, mais do que nunca, o Planejamento Genético torna–se de fundamental importância para a obtenção dos resultados planejados e projetados, pois através dele, são adotados os elementos genéticos mais adequados para um cruzamento, elementos (genes) estes que irão se agrupar para formar os cromossomos, responsáveis pelo Genótipo e Fenótipo de um PSI.

A partir desta premissa, torna–se importante ressaltar que, apesar de um cruzamento  bem elaborado, resultante de uma criteriosa análise refletindo um eficaz Planejamento Genético, nada garante e certifica que o resultado desejado será alcançado, pois a Genética é uma ciência Inexata e Imprevisível, entretanto, por sua característica Tendenciosa, a probabilidade de se alcançar bons e ótimos resultados, adotando–se um eficiente Planejamento Genético, sobe para cerca de 60 %, percentual este que aumentará, consideravelmente, com a repetição do cruzamento em pauta.

Através da Consultoria do PSI, tive a oportunidade de observar que a maioria esmagadora dos cruzamentos, foram realizados sem qualquer Planejamento Genético, sendo comandados pela casualidade, pela conveniência circunstancial do Criador ou pelo apelo comercial de certos Reprodutores, sem que fosse levado em consideração o fundamental “encaixe genético e físico” de suas Matrizes com os Reprodutores eleitos.

Por outro lado, vejo com muita satisfação e esperança, um movimento, por parte desses Criadores, no sentido de conhecer, detalhadamente, a composição genética (Linhagens e “Bloodlines”) de seus respectivos “Bloodstocks” (Plantel de Matrizes), buscando, observados os limites impostos pelas expressivas distâncias entre os principais Centros de Criação do país, onde se encontram sediados os Reprodutores em atividade no Brasil, o mais adequado “encaixe genético e físico” para cada uma de suas Matrizes, a cada Temporada de Monta.

O Planejamento Genético, na atualidade, deve levar em consideração aspectos envolvendo conveniências genéticas, no âmbito das metodologias dos Sistemas “Outcross”  e/ou do “Inbreeding”, além de Fatores importantes como o “Rasmussen Factor” e o “X Factor”, Produção das Famílias Maternas, consideração de “Nicks” comprovados, Dosagens genéticas e aptitudinais, entre vários outros aspectos importantes que devem ser considerados no âmbito de um criterioso e eficiente Planejamento Genético.

Pelas Razões acima citadas, torna–se de fundamental importância que os Criadores brasileiros, que se preocupem e pretendam elevar o nível médio do padrão da qualidade genética de sua Criação de PSI, adotem o Planejamento Genético para viabilizar seus mais positivos objetivos, contribuindo, desta forma, para o reconhecimento e a inserção definitiva da Criação nacional, no âmbito da Criação internacional.

Continua...

Orlando Lima – omlima@infolink.com.br



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