







Colunista:
A ATIVIDADE ECONÔMICA – PARCERIA COM O GOVERNO FEDERAL 11/02/2009 - 10h37min
A ATIVIDADE ECONÔMICA: TURFE
Parte III – Final
IV.5 – PARCERIA COM O GOVERNO FEDERAL
No passado, o Turfe foi considerado como uma atividade elitista, conhecida como “O Esporte dos Reis”, restrita à nobreza e às camadas sociais mais privilegiadas.
Com o passar dos tempos, foi se popularizando, alcançando as camadas menos privilegiadas da população, até mesmo como resposta à necessária sobrevivência.
No Brasil, ainda prevalece, em boa parte de nossa Sociedade, o conceito de que os Hipódromos e, conseqüentemente, as Corridas de Cavalos, se resumem a jogo, apenas jogo, nada mais do que jogo.
Se por um lado, não se pode negar que o Turfe depende, em sua maior parte, das Apostas nas Corridas de Cavalos, por outro lado, nossa Sociedade, em sua maioria quase absoluta, desconhece que os Jockeys Clubes mantêm Atividades sociais, culturais, educacionais e profissionais, sendo responsáveis pela sobrevivência de mais de 100 000 pessoas, proporcionando empregos em Áreas rurais e urbanas, sobretudo, de Mão de Obra não especializada.
Além disso, paga impostos e taxas às diferentes Esferas Administrativas do país, contribuindo, expressivamente, com a Receita dos Governos, municipal, estadual e federal, sem obter qualquer contrapartida deles.
Historicamente, países como os Estados Unidos da América do Norte, a França, a Argentina e, sobretudo, a Irlanda, para citar apenas alguns, só conseguiram promover o desenvolvimento de suas Atividades Turfísticas, a partir do entendimento de seus respectivos Governos, de que se trata de uma autêntica Atividade Econômica e, como tal, mereceram seu apoio, acabando por contribuir, expressivamente, para a Economia desses países.
Para que possa justificar uma Parceria com o Governo Federal, há que despertar o seu interesse sobre o Turfe, apresentando dados que mostrem o seu perfil e todo o seu potencial como Atividade Econômica e os benefícios que pode trazer para o país, através de Projetos com início, meio e fim, assim como, a viabilidade de sua integral execução com o apoio do Governo Federal.
Evidentemente, há de se mostrar, com nitidez, que tipo de ajuda é necessária para a recuperação do Turfe e seu posterior desenvolvimento, ressaltando o aspecto da promoção de empregos, em particular, de Mão de Obra não especializada. Mostrar, também, que haverá uma Gestão profissional e capacitada, que conduzirá a execução dos Projetos, através da implantação de um Sistema Nacional do Turfe, caracterizado pela gestão Integrada, Participativa e, operacionalmente, Descentralizada, focado, inicialmente, nos Jockeys Clubes, Brasileiro e de São Paulo, para que seus benefícios possam ser estendidos aos demais Hipódromos em atividade no país. Por outro lado, o Ministério da Agricultura deveria privilegiar, em sua Estrutura Organizacional, um Setor voltado, exclusivamente, para o Turfe, comandado por pessoa conhecedora da situação do Turfe brasileiro. Este Setor seria, em última análise, o interlocutor entre os Dirigentes do Turfe e o Governo Federal, no sentido de conseguir o apoio necessário para a recuperação e desenvolvimento dessa importante Atividade Econômica.
Além disso, teria como objetivo, junto com os Dirigentes do Turfe, promover a revisão da Lei Nacional do Turfe (Lei nº 7.291 / 84, de 19 de dezembro de 1984), portanto, com 24 anos de existência, apesar de ter sido regulamentada pelo Decreto nº 96.993 / 88. Este Setor do Ministério da Agricultura seria o Fórum natural e adequado para o debate, discussões e ajustes indispensáveis entre os Representantes do Turfe e o Governo, para chegar à conclusões consensuais, que revertam em benefício do Turfe, como uma autêntica Atividade Econômica, contribuindo com a Economia do país.
Durante a execução do Programa de Recuperação do Turfe, caberia a este Setor do Ministério da Agricultura, a missão precípua de acompanhar e fiscalizar o desenvolvimento de suas diversas etapas, para que, gradativamente, receba o desejado apoio do Governo.
Quando eu me reporto, acima, aos Dirigentes do Turfe, estou me referindo, basicamente, a Representantes dos Jockeys Clubes e das Associações de Criadores e Proprietários do Cavalo de Corrida.
IV.6 – ASSOCIAÇÕES de FOMENTO à CRIAÇÃO e PROPRIEDADE do PSI
Como já tive oportunidade de demonstrar em diversos Artigos que venho escrevendo desde 1996, a Criação do PSI brasileiro, a partir da Temporada de Monta de 1987/1988, sofreu uma queda drástica, em sua produção, a ponto de, 20 anos depois, observarmos uma queda da ordem de 45%, no número de Matrizes registradas no Stud Book Brasileiro (SBB), parâmetro definitivo e insofismável para evidenciar a catastrófica queda da Criação nacional.
Atualmente, outro problema atinge, em cheio, nossa Criação, com o desaparecimento, nos últimos anos, dos mais categorizados Reprodutores sediados em nossos Haras, como PRESENT THE COLORS, CLACKSON, GHADEER, SPEND A BUCK, NEW COLONY, KNOW HEIGHTS, ROI NORMAND, apenas para citar alguns, desfalcando, profundamente, o padrão de qualidade genética de nosso plantel de Reprodutores, sem que houvesse a indispensável e necessária reposição, no mesmo nível desses Reprodutores, que influenciaram, positivamente, nossa Criação.
Devemos ressaltar o esforço de nossos abnegados Criadores, trazendo, em regime de “shuttle”, Reprodutores como ROYAL ACADEMY, SAGAMIX, SULAMANI, POINT GIVEN, entre outros, artifício válido e oportuno, na tentativa de não deixar cair, drasticamente, o padrão de qualidade de nossa Criação.
O importante, no meu julgamento, encontra–se na aquisição definitiva de Reprodutores de boa qualificação genética, compatíveis com o nosso “Bloodstock”, para que, efetivamente, possam elevar a média da qualidade genética de nossa Criação. Por outro lado, o regime de “shuttle”, desde que bem orientado, também, deve ser incentivado, para atuar como um fundamental coadjuvante de nossa Criação, sobretudo, pela flexibilidade e variedade de Linhagens e “Bloodlines”, que venham a ser incorporadas à nossa Criação.
Para que esta possibilidade seja concretizada, torna–se indispensável que haja UNIÃO, discutida e consentida, entre os Criadores brasileiros, sendo de fundamental importância, neste sentido, a participação da Associação Brasileira de Criadores e Proprietários do Cavalo de Corrida – ABCPCC e das Associações congêneres, estaduais / regionais que deverão atuar na mesma direção, pelo mesmo caminho, convergindo para os mesmos objetivos.
Um aspecto imediato a ser avaliado e negociado com o Governo, pela ABCPCC, seria a definição de medidas de incentivo para a importação de Matrizes, justamente, para aproveitar os baixos preços que estão sendo praticados no Exterior, reforçando, em quantidade e qualidade, o nosso reduzido plantel de Matrizes, parâmetro primordial para a recuperação da Criação nacional.
A ABCPCC deve estar atenta para a forte sinalização relativa ao ingresso no Mercado Internacional do PSI, de Emirados Árabes, como o Bahrein e o Qattar, além de outros países emergentes no Turfe, não atingidos diretamente pela crise, que poderão pressionar a Demanda pelo PSI, inclusive, no Mercado do PSI brasileiro.
Outro aspecto de fundamental importância para a ação da ABCPCC, refere–se à divulgação do Turfe brasileiro no Exterior, sob um orquestrado esquema de Marketing, envolvendo a distribuição de publicações especializadas, em âmbito internacional, mostrando que, apesar de todos os problemas com que nos defrontamos, existe, no Brasil, um Turfe com potencial expressivo para o seu desenvolvimento, inserindo, definitivamente, nossa Criação, no âmbito da Criação internacional.
Este objetivo, em boa parte, está mais fácil de ser alcançado, pelo desempenho de alguns Cavalos brasileiros no Exterior, como ROMARIM, SANDPIT, SIPHON, RIBOLETTA, REDATTORE, HARD BUCK, PICO CENTRAL, LESROIDESANIMAUX, entre outros e, mais recentemente, de EINSTEIN, fator que, necessariamente, precisa ser melhor explorado.
Apesar de um Mercado Interno do PSI, ainda deficiente, a Demanda exercida pelo Mercado Externo, certamente, servirá de incentivo para a Criação nacional que, para atender a este Mercado Externo, acabará melhorando o nível de seu padrão quantitativo e, sobretudo, qualitativo, beneficiando, por conseqüência, o nosso Mercado do PSI.
A crise mundial da Economia, por mais contraditório que possa parecer, como mencionado anteriormente, oferece uma excelente oportunidade para o Criador brasileiro do PSI, investir, sobretudo, na aquisição de Matrizes, no Exterior, assim como, evidentemente em menor escala, em Reprodutores qualificados, e a atuação da ABCPCC e das Associações congêneres estaduais / regionais, deve ser direcionada para que os Criadores entendam a Criação do PSI, como uma autêntica Atividade Econômica, e que, em última análise, estarão promovendo Investimentos e não realizando Despesas.
Outro aspecto de fundamental importância, na atuação da ABCPCC e demais Associações congêneres, estaduais / regionais, sobretudo, no que se reporta à atuação destas últimas, refere–se à divulgação da atividade do PSI, promovendo os necessários esclarecimentos e orientando sobre os procedimentos, junto às Comissões de Corrida e o Stud Book Brasileiro, através de reuniões direcionadas para esta finalidade, tendo por objetivo incorporar novos Proprietários aos seus Quadros de Associados e, conseqüentemente, aumentar o número de Cavalos em corrida, em seus respectivos Hipódromos.
No período em que fui Proprietário, um páreo vazio apresentava cerca de 8 inscrições, e a maioria dos páreos reuniam, pelo menos, 10 inscrições, sendo comum e freqüente, páreos de enturmação etária, reunindo 13 e mais inscrições.
Atualmente, os páreos, com grande freqüência, são disputados com 5 ou 6 inscrições e, quando se apresentam com 8 participantes, são considerados como “páreos cheios”! Essa circunstância, sob diferentes maneiras, influencia, negativamente, no MGA dos Hipódromos, demonstrando, com nitidez, a contundente queda da produção do PSI, nestes últimos 20 anos, situação que, com urgência, precisa ser revertida, por representar uma expressiva ameaça para a recuperação de nosso combalido Turfe.
As Associações, de Criadores e Proprietários, devem se conscientizar, através de uma unidade de propósitos, de que detêm em suas mãos, as duas forças básicas que movem a Atividade Econômica, TURFE, ou seja, por um lado, a OFERTA, por parte dos Criadores e, por outro lado, a DEMANDA, por parte dos Proprietários, convergindo para o fortalecimento do nosso Mercado Interno do PSI.
V – CONCLUSÃO
Para resumir os aspectos primordiais abordados neste Artigo, vou alinhar, sob a forma de tópicos, aqueles que considero de maior importância, para que possamos, efetivamente, assistir a tão desejada recuperação do Turfe brasileiro.
• Conscientizar e realizar o TURFE como ATIVIDADE ECONÔMICA; • UNIÃO de todos os Segmentos intervenientes no TURFE; • Elaboração e Realização de PROJETOS para RECUPERAÇÃO do TURFE; • Recuperação Econômico–Financeira dos JOCKEYS CLUBES; • GESTÃO PROFISSIONAL nos JOCKEYS CLUBES; • Renovação do PÚBLICO TURFISTA; • Incentivo ao PÚBLICO APOSTADOR; • Valorização do ÍDOLO no TURFE; • Valorização do MARKETING no TURFE; • Introdução de NOVAS MODADALIDADES de APOSTAS; • Elevação do NÍVEL de PREMIAÇÃO; • Incentivo à CRIAÇÃO NACIONAL; • Incentivo aos PROPRIETÁRIOS; • Fortalecimento das ASSOCIAÇÕES de CRIADORES e PROPRIETÁRIOS; • Apoio do GOVERNO FEDERAL via MINISTÉRIO da AGRICULTURA; • Participação de AGÊNCIAS e AGENTES que exercem ATIVIDADE PROFISSIONAL para dinamização do TURFE, em Reuniões e Seminários SOBRE assuntos que envolvam a RECUPERAÇÃO do TURFE BRASILEIRO.
Apesar da complexidade e dificuldade envolvendo a missão de Recuperação do Turfe brasileiro, devemos lembrar o êxito obtido pela Administração Fragoso Pires, ao assumir a direção do Jockey Clube Brasileiro, em situação desesperadora, há alguns anos, evidenciando que não se trata de uma Missão Impossível.
Ao concluir, quero deixar claro, que não tive qualquer pretensão de esgotar o assunto, reconhecendo sua complexidade e extrema dificuldade para a sua concepção e operacionalização mas, em razão da experiência obtida em mais de 40 anos de exercício contínuo de minha profissão como Economista e dos 25 anos em que fui um ativo Proprietário do PSI, me senti na obrigação de contribuir com observações que considero primordiais, para sinalizar com uma sempre possível Recuperação e Desenvolvimento do Turfe, em seus diversos Segmentos, a partir do momento em que seja encarado com uma verdadeira e autêntica ATIVIDADE ECONÔMICA.
FIM
Orlando Lima – omlima@infolink.com.br

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