Colunista:
Veterinária a galope, por Dr. Francisco Lança 04/02/2009 - 17h59min
Saindo da sequência de artigos programados sobre veterinária de haras e atendendo a
pedidos dos leitores desta coluna, o tema a ser tratado nas próximas quinzenas será o da
nutrição eqüina. Serão descritos os conceitos básicos, sistemas alimentares, manejo
nutricional, características dos principais alimentos e tabelas nutricionais. Espero com isto
auxiliar todos aqueles que, assim como eu, acreditam na sanidade alimentar como parte de
resultado positivo em corrida.
NUTRIÇÃO EQUÍNA: conceitos básicos – Parte
I
Por estar em constante evolução e envolver um número enorme de variáveis, a
nutrição eqüina tem se tornado gradativamente um tema de grande importância dentro do meio
eqüestre.
Devido a ter influência direta no resultado da criação e treinamento, está
tomando lugar de destaque nos centros hípicos e criatórios, fazendo com que os cavalos de
hoje não venham a ter resultados negativos causados por um desequilíbrio nutricional, tanto
na fase de criação quanto em competição.
Assim sendo, o objetivo deste artigo é
resumir para o criador e/ou proprietário os conceitos dos principais componentes na
alimentação eqüina, excessos e deficiências.
Basicamente os elementos da nutrição
eqüina são a água, a energia, as proteínas, os minerais e as vitaminas como
segue. ÁGUA
– A água é o nutriente mais importante no animal, uma vez que o corpo
pode perder toda a gordura e 50% da proteína, mas se perder 10 % da água pode ser
fatal.
– A maioria das reações orgânicas são realizadas através da
água.
– A necessidade diária de um cavalo varia de 45 a 50 ml por Kg.
– Sempre
se certifique que água adequada e de boa qualidade esteja disponível em livre
escolha.
– Deficiência de água pode levar á diminuição da performance atlética,
diminuição do consumo de comida e desidratação.
– Excesso poderá levar a problemas
neurológicos, o que é raríssimo.
ENERGIA
– O conceito de
energia é a quantidade de calor necessária para aumentar em um grau um kilograma de água,
tendo como medida o termo Megacaloria (Mcal) que equivale a 1000 Kcal.
– Os animais
usam a energia para produzir calor e ATP que são utilizados para o funcionamento das
células.
– De todo o alimento ingerido, 80 a 90% é necessário para atender as
necessidades energéticas dos cavalos.
– O aproveitamento de energia segue o seguinte
esquema: Energia Total (100 %) > 63 % transformada em Energia Digestível (ED) > 87
% transformada em Energia Metabolizável (EM) > 59 % transformada em Energia Líquida (EL),
a qual é utilizada para manutenção e trabalho.
– As principais fontes de energia são
os carboidratos, gorduras e proteínas.
Carboidratos
– Os
carboidratos são os açucares, amidos e celuloses e representam 75 % do peso seco das
plantas. São chamados também de fibra bruta, menos aproveitável ou extrato não hidrogenado,
prontamente utilizado.
– São classificados em mono, di e polissacarídeos.
– A
glicose é o monossacarídeo mais importante na nutrição animal, seguida da frutose que está
presente nas forragens verdes, e a galactose no leite e forragens.
– A sacarose
(glicose + frutose) é o dissacarídeo que se encontra na maioria dos açucares.
– Os
polissacarídeos são insolúveis em água e representam a maior parte energética das plantas.
São eles a celulose, o amido e o glicogênio. Necessitam ser degradados até monossacarídeos
para serem utilizados. A celulose é o constituinte estrutural celular das plantas e apenas os
microorganismos intestinais conseguem degradar. O amido é composto por moléculas de glicose e
é utilizado como reserva natural das plantas e o glicogênio é estocado nos músculos e
utilizado como reserva energética animal.
Gorduras
– As
gorduras são referidas como extrato etéreo, lipídeos ou óleos e são prontamente utilizados.
– Os lipídeos são substâncias insolúveis em água e solúveis em compostos orgânicos,
ricas em carbono e hidrogênio, mas pobres em oxigênio, e estão presentes no corpo dos animais
(10 a 40 %), nas forragens (1,5 a 3,5 %) e em sementes (18 a 20 %).
– Os lipídeos
dividem–se em simples (triglicerídeos ou gorduras e ceras) e compostos (glico e
fosfolipídeos). A gordura é formada pelo glicerol que é encontrado em grãos, plantas e corpo
do animal. As ceras servem para evitar perda de água pelas folhas das plantas. Os
glicolipídeos (galactose + triglicerídeos) são encontrados nas forragens verdes e os
fosfolipídeos (fosfato + triglicerídeos) são constituintes da estrutura celular e transportam
nutrientes no sangue.
– Apesar da concentração de óleo na maioria das rações
comerciais ser de 2 a 6 %, o cavalo pode aproveitar até 16 % na ração total. O excesso
de gordura altera a palatibilidade do alimento. O óleo de milho é o preferido dos
cavalos.
– O aumento de lipídeos na dieta melhora o trabalho dos cavalos comparado aos
que não tem acesso, além de melhorar a pelagem.
Deficiências e excessos de
Energia
– A deficiência de energia pode ser causada por anorexia ou por
diminuição da oferta de alimento. Causa emagrecimento, diminuição da performance atlética,
diminuição da eficiência reprodutiva e produção de leite e diminuição do
crescimento.
– Se ocorrer privação, a sequência de eventos é a seguinte: (1)
diminuição das proteínas no fígado e plasma, causando edemas, (2) degeneração do sistema
digestivo, (3) queda da imunidade, (4) função cardíaca desequilibrada e (5) degeneração
muscular.
– O excesso pode ser causado por consumo excessivo ou alimento
hipercalórico, ou falta de exercício. Causa hiperatividade, obesidade, diminuição do
crescimento, nascimento de potros pequenos.
– Outros fenômenos que podem ocorrer com
maior gravidade pelo excesso de energia são problemas ortopédicos, principalmente nas
articulações, dificuldade respiratória, surgimento de arritmias cardíacas e de hiperlipemia
(excesso de gordura no sangue).
PROTEÍNAS
– As proteínas
são formadas por vários aminoácidos unidos entre si formando cadeias. Diferentes proteínas
consistem em diferentes números e combinações de aminoácidos.
– A maioria das
proteínas tem média de 16 % de nitrogênio, que é o medidor da quantidade de proteína em uma
ração. Isso equivale a 10 % de proteína bruta. Fontes de nitrogênio não protéico como uréia,
não tem praticamente nenhum aproveitamento e o seu excesso pode causar
envenenamento.
– O aproveitamento alimentar da proteína bruta pelo cavalo é em torno
de 70 a 75 %, dependendo da qualidade da mesma, e forma 22 % da composição total do cavalo
adulto.
– Os aminoácidos são compostos por carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio
e são os componentes principais de músculos, enzimas e vários hormônios.
– Os
aminoácidos são divididos em essenciais, que são aqueles que os animais não conseguem
produzir, ou produzem em menor quantidade, tendo os animais que adquiri–los através dos
alimentos, e não essenciais, que são produzidos pelos tecidos corporais.
– As
proteínas compostas por longas cadeias de aminoácidos essenciais são consideradas de alta
qualidade e as compostas por aminoácidos não essenciais são de baixa qualidade.
–
Existem 22 aminoácidos diferentes, sendo a lisina o aminoácido essencial comprovadamente mais
importante para o crescimento e formação muscular, seguindo–se a metionina e o
triptofano. – Os alimentos ricos em lisina são a alfafa e
soja.
Deficiências e excessos de Proteína
– A deficiência
de proteína é causada por quantidades inadequadas na dieta, proteínas de baixa
digestibilidade e de baixa qualidade e consumo alimentar baixo.
– A falta de proteína
causa redução do crescimento, perda de peso, diminuição da capacidade atlética, redução da
produção de leite, pêlo feio e quebradiço, diminuição do crescimento dos cascos, depravação
do apetite e coprofagia.
– A falta de alimento fará com que a proteína seja utilizada
para produção de energia, e não para sua função principal. Sempre se deverá assegurar um
consumo adequado de energia antes de tentar atender as necessidades protéicas.
– O
excesso de consumo de proteína leva também a uma parada de crescimento. Como os produtos da
metabolização são amônia e uréia, haverá consumo maior de água e o animal irá urinar com mais
freqüência. Isto poderá causar lesões renais e hepáticas. O animal irá suar mais intensamente
e ser cansar mais rápido. Poderão ocorrer também doenças ortopédicas.
Dr
Francisco Lança: francisco@byvet.com.br
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