Colunista:
A ATIVIDADE ECONÔMICA – INTRODUÇÃO 28/01/2009 - 11h29min
A ATIVIDADE ECONÔMICA: TURFE
PARTE I
I – INTRODUÇÃO
Há uns 4 anos, escrevi para o Jornal do Turfe, um Artigo caracterizando o Turfe como uma autêntica ATIVIDADE ECONÔMICA.
Nesse período, a conjuntura econômica do Brasil passou por expressivo ajuste, melhorando nossa Economia, tornando–a mais imune a freqüentes crises que ocorriam em outros países, repercutindo, negativamente, em nossa Economia.
O Turfe no Brasil, nesse período, experimentou alguns ajustes que proporcionaram algum avanço, sobretudo no Jockey Club de São Paulo, que se encontrava em situação extremamente delicada, sinalizando com algum progresso.
Apesar desses ajustes, o Turfe brasileiro permanece em profunda crise, porque estes ajustes foram pontuais e maior parte dos problemas que nos cercam exigem medidas estruturais, para que possam alcançar os resultados desejados.
Além disso, a Economia mundial encontra–se mergulhada em crise de grande porte, com repercussão internacional, inclusive, no Brasil, mas que não deverá ter uma duração das mais extensas, justificando investimentos neste período.
Essa crise encontrou nossa Economia bem fortalecida e, embora seja impossível evitar que nos alcance, acredito que seus efeitos na serão dos mais nefastos, evidentemente, passado este período inicial de pânico, natural em alguns Segmentos da Economia, em particular, no Mercado de Capitais e na retração do Crédito.
Por outro lado, para a criação do PSI no Brasil, nunca foi tão acessível, em termos de custo, adquirir animais no Exterior, sobretudo, no Mercado norte americano, mas também, no Mercado do PSI europeu e, em particular, Matrizes com Genótipos de ótimo potencial e prenhes de excelentes Reprodutores.
Como já tive oportunidade de escrever, o parâmetro mais contundente da Criação nacional do PSI, encontra–se, exatamente, na redução de cerca de 45%, apurada nestes últimos 20 anos, no número de Matrizes de nosso plantel, registradas no Stud Book Brasileiro.
Portanto, Srs. Criadores, se há disposição para reforçar nosso plantel de Matrizes, qualitativa e quantitativamente, a hora é essa! Seja no Mercado norte americano, seja no Mercado europeu.
O mesmo raciocínio, em escala mais reduzida, e levando–se em consideração, exclusivamente, o aspecto de sua qualidade física e genética, aplica–se à aquisição de Reprodutores pois, atualmente, nosso plantel encontra–se muito desfalcado, pelo desaparecimento de importantes Reprodutores sediados em nossos Haras, nestes últimos cinco anos.
Confesso que minha paixão pelo Turfe, refletida em minhas pesquisas e estudos, está diretamente sintonizada com aspectos genéticos (Genótipo), físicos (Fenótipo), mecânica de movimentos, temperamento, hereditariedade, entre outros atributos peculiares ao Puro Sangue Inglês (PSI), mas diante da grave crise por que passa o Turfe brasileiro mas, minha formação profissional como Economista e, sobretudo, por ter sido Proprietário de PSI, durante 25 anos consecutivos, não poderia deixar de externar minhas observações que, espero, possam ter algum valor para as Autoridades turfistas.
Os 40 anos em que atuei como Economista, participando da concepção e execução de grandes Projetos, como o PLANASA (Valor de Investimento de U$ 13 bilhões), especializaram–me no Planejamento Estratégico e na recuperação econômico–financeira de Entidades (Cias. Estaduais de Saneamento) integradas à execução dos Projetos, o que, acredito, me confere alguma credibilidade para as observações que farei adiante mas, sobretudo, para tentar convencer os diversos Agentes que atuam em seus diversos Segmentos, que o Turfe é uma verdadeira e autêntica ATIVIDADE ECONÔMICA.
II – POR QUE O TURFE É UMA ATIVIDADE ECONÔMICA?
Há alguns anos, li um Artigo numa revista especializada em Economia, o “ranking” das principais Atividades Econômicas nos USA e, para minha surpresa, o Turfe ocupava o 7º lugar, logo a frente da importante Siderurgia, o que nos dá uma idéia precisa de sua importância para a Economia do país.
Aprofundando–me nessa pesquisa, verifiquei que, na década de 80, o PSI chegou a ocupar o 4º lugar na pauta de exportação da Argentina, enquanto, na Irlanda, simplesmente, ocupava o 1º lugar nessa pauta.
Sob o ponto de vista macroeconômico, o Turfe, através de seus diversos Segmentos, contempla os três Setores básicos da Economia, ou seja, o Primário (Agro–Pecuário), o Secundário (Industrial) e o Terciário (Serviços / Turismo) e, apesar de não se dispor de dados estatísticos consistentes, podemos estimar que, no Brasil, mais de 100 mil pessoas dependem, direta e indiretamente, dos empregos proporcionados pelo Turfe.
Assim sendo, levando em consideração os Ajustes, Inovações, Modificações, como citei acima, de caráter pontual, e a atual conjuntura econômica que predomina no país, vou expor, após o Diagnóstico e Avaliação dos problemas persistentes, Alternativas de caráter estrutural, que possam servir de referência para a recuperação do Turfe, sempre sob o prisma de que seja entendido como uma autêntica ATIVIDADE ECONÔMICA.
Os atuais Dirigentes do Turfe, no Brasil, de todos os seus Segmentos mas, em particular, os dos Jockeys Clubes e das Associações de Criadores e Proprietários, permanecem com a responsabilidade mas, também, com a oportunidade histórica, de dar partida para a recuperação desta ATIVIDADE ECONÔMICA, adotando medidas estruturais e conseguindo a UNIÃO, consciente e consentida, de todos os Segmentos que a integram, formatando um Sistema integrado e participativo, que conduza o Turfe brasileiro para sua recuperação e desenvolvimento.
III – DIAGNÓSTICO
Os problemas que envolvem o Turfe no Brasil, atualmente, em seu conteúdo básico, não são muito diferentes dos existentes há 4 anos pois, como citei anteriormente, apesar de assistirmos mudanças expressivas na conjuntura econômica do país, os ajustes realizados no Turfe, foram pontuais e não estruturais, como deveriam ter sido.
Assim sendo, vamos nos reportar, apenas, aos aspectos fundamentais que envolvem os problemas mais representativos, que vêm impedindo o resgate de sua recuperação e posterior desenvolvimento:
1º – Conscientização e Realização como Atividade Econômica; 2º – Situação dos Jockeys Clubes; 3º – Renovação do Público Turfista; 4º – Premiação e Mercado do PSI; 5º – Parceria com o Governo Federal; 6º – Associações de Fomento à Criação e Propriedade do PSI.
IV – ANÁLISE DOS PROBLEMAS IDENTIFICADOS
IV.1–CONSCIENTIZAÇÃO e REALIZAÇÃO como ATIVIDADE ECONÔMICA
A partir do momento em que os Dirigentes do Turfe brasileiro, em todos os seus Segmentos, entendam e encarem, efetivamente, o Turfe como uma Atividade Econômica, teremos alcançado a condição básica de partida para a sua recuperação.
Para tanto, é imprescindível o cumprimento da fase inicial da CONSCIENTIZAÇÃO desses Dirigentes que, apesar de propagarem a importância do Turfe como uma Atividade com repercussão em alguns aspectos econômico–financeiros, na prática, sua REALIZAÇÃO em nada evoluiu.
Onde estão os Projetos de curto, médio e longo prazos, com seu respectivo Planejamento Estratégico / Executivo, para que possa viabilizar seus objetivos?
Torna–se de fundamental importância ressaltar que o Turfe é, e sempre será movido pela emoção, pela competição e pela competência de seus Profissionais.
Por favor, não me interpretem como querendo descaracterizar a essência do Turfe, mas indicar, segundo o meu entendimento, os meios que possam recuperá–lo e desenvolvê–lo, utilizando medidas características de uma Atividade Econômica.
A primeira e, possivelmente, mais importante e difícil tarefa a ser cumprida, pode ser resumida na UNIÃO dos Dirigentes do Turfe, sobretudo, das Diretorias dos Hipódromos e das Associações de Criadores e Proprietários, visando a Conscientização coletiva e consentida, refletida na unidade de propósitos, caminhando na mesma direção, procurando os mesmos objetivos.
Nenhum Projeto, por melhor que tenha sido elaborado e planejado, alcançará os objetivos desejados, sem que esta União esteja consolidada e consentida.
Para que seja viabilizada a execução de um Projeto desta natureza, torna–se necessária uma Gestão profissional, capacitada e competente, caracterizada pela metodologia que priorize a Participação, Integração e Descentralização Operacional, privilegiando a identidade de metas e objetivos. Os Projetos devem ter como ponto de partida, os dois principais Jockeys Clubes (Gávea e Cidade Jardim) do país, para que, quando obtidos os primeiros resultados positivos, seus benefícios possam ser estendidos aos demais Hipódromos do país, no âmbito de um Sistema Nacional do Turfe, no Brasil.
Devo explicar, ainda, que não é minha intenção destituir os Associados dos Jockeys Clubes de suas funções de comando, pois acredito que seja exigência estatutária dos Clubes mas, na realidade, a maioria desses Associados, usualmente, exercem suas atividades particulares, com formação profissional, nem sempre, compatível para o adequado exercício do cargo para o qual foi designado, o que poderia ser compensado, em seus aspectos operacionais, por uma equipe profissional adequada e funcionários do Clube, cabendo o estabelecimento da Política a ser seguida e as decisões mais importantes, ao Presidente e seus Diretores.
Caminhando em paralelo, mas devidamente sintonizado com os Hipódromos, a Associação Brasileira de Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida – ABCPCC, juntamente com suas congêneres estaduais / regionais, promovendo a União entre Criadores e Proprietários, deveriam promover Projetos que teriam como objetivo, a recuperação do potencial quantitativo e qualitativo da Criação nacional, resgatando a contundente queda refletida no plantel das Matrizes e na aquisição de poucos, mas altamente qualificados Reprodutores que, efetivamente, possam contribuir, decisivamente, para elevar o padrão genético de nossa Criação do PSI.
Sempre que possível, reforçando nosso “bloodstock” com o “shuttle” de Reprodutores altamente qualificados do Hemisfério Norte que, efetivamente, venham contribuir, com seus atributos genéticos, para elevar a qualidade de nosso PSI.
Apesar de ser considerado como um país não adequado para a criação do exigente PSI, por muitos experts estrangeiros que, evidentemente, não conhecem, adequadamente, nosso país, temos regiões com características muito próximas à regiões classificadas entre as mais qualificadas para a sua criação, como vêm demonstrando alguns de nossos PSI exportados para o Exterior, justificando, plenamente, investimentos de qualidade comprovada em nossa Criação.
A ABCPCC e as Associações congêneres, estaduais / regionais, devem servir como Fórum para discussões e seminários, visando a definição da Política de Importação do PSI e obtendo do Governo Federal, o apoio indispensável para facilitar a vinda do PSI, sobretudo de Matrizes, reforçando nosso plantel, qualificando nosso “Bloodstock”, para que, com todo o mérito, possamos nos integrar e sermos reconhecidos pelo Mercado Internacional do PSI.
A ABCPCC e as Associações congêneres, estaduais / regionais, devem promover reuniões e seminários, voltados para os Proprietários de PSI, esclarecendo questões importantes que resultem num melhor desempenho desta basilar Atividade para o desenvolvimento da Criação nacional.
Torna–se de fundamental importância ressaltar que a atual crise da Economia mundial, por contraditório que possa parecer, oferece uma rara oportunidade para Criadores brasileiros investirem em Matrizes e Reprodutores, reconhecidamente qualificados, que venham contribuir, decisivamente, para elevar os padrões quantitativos e qualitativos de nossa Criação.
Para que entendam o Turfe como Atividade Econômica, além de suas emoções naturais e peculiares, em última análise, tanto o Criador, quanto o Proprietário, deverão encarar seus dispêndios, como INVESTIMENTO, portanto, com a expectativa de retorno financeiro, e não como DESPESA, sem qualquer expectativa desse tipo de retorno.
Não há mais espaço, atualmente, para uma Gestão, predominantemente amadorista, na condução das Atividades dos dois principais Hipódromos brasileiros, apesar de algum progresso tangível no Jockey Clube de São Paulo, mas ainda insuficiente para sinalizar com uma efetiva recuperação. Há que se implantar, com a urgência que se faz necessária, a Gestão Profissional, em ambos os Jockeys Clubes, para executar os Projetos citados anteriormente.
No que se refere à Criação nacional, ainda percebemos, considerando–se a média quantitativa e qualitativa da Produção do PSI, uma expressiva pressão amadorista, resultante de uma forte e tradicional “barreira cultural”, difícil de ser contornada, ainda que seja possível observar algum avanço, neste sentido.
Sou uma testemunha desta realidade, quando não consegui o patrocínio, típico para livros técnicos, por parte dos Dirigentes de nosso Turfe, para a edição do Livro que escrevi sobre o Turfe no Brasil, há cerca de 9 anos, aprovado por uma grande Editora do país, para lançamento nacional.
Posteriormente, exatamente 1 ano depois, fiz uma Pesquisa de Mercado para o lançamento de um Diretório de Reprodutores, em moldes inéditos para publicações do gênero, com distribuição, inclusive, para mais de 25 países, visando integrar nossa Criação à Comunidade internacional do PSI.
Não houve qualquer manifestação, por parte dos Criadores brasileiros, para a inscrição de seus Reprodutores!
Esta é a “barreira cultural” a que me refiro, impedindo que, até mesmo, pequenos Investimentos sejam realizados, para que se possa alcançar os objetivos que reflitam a recuperação do Turfe no Brasil e o reconhecimento internacional de nossa Criação do PSI.
Continua...
Orlando Lima – omlima@infolink.com.br
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