Colunista:
Veterinária a galope, por Dr. Francisco Lança 21/01/2009 - 10h25min
CUIDADOS COM O POTRO RECÉM
NASCIDO – Parte III
Nesta terceira e última parte serão discutidos os
processos que levam á interrupção da unidade égua–potro. Estes fatores poderão ter origem na
égua ou no potro neonato, através de problemas infecciosos ou não, mas sempre afetando
negativamente a sobrevida principalmente do potro. Este será o foco deste artigo, a
identificação do potro de alto–risco, suas causas e possíveis tratamentos na primeira semana
de vida.
IDENTIFICAÇÃO DO POTRO DE ALTO RISCO
a)
Condições Maternas
– As condições maternas predisponentes poderão ser de
origem infecciosa. Estas infecções poderão ser virais ou bacterianas, causando infecção
sistêmica e produzindo toxinas que passam a barreira placentária e são nocivas para o feto.
Poderão ocorrer também focos localizados, como placentite, que levam a uma infecção fetal e
falta de circulação e oxigenação na placenta resultando em hipóxia do feto, levando ao óbito
prematuro do neonato.
– A falta de leite da égua ou lactação prematura poderá levar
á falta de ingestão adequada de anticorpos e conseqüentemente o potro ficará mais vulnerável
a infecções.
– Um quadro de anemia materna prejudica o desenvolvimento fetal além
de falha na oxigenação.
– Outros fatores maternos que poderão levar a um quadro de
alto–risco são a administração de drogas abortivas ou supressoras, traumas á barreira
placentária e seus vasos sanguíneos, colocando o sangue do feto em contato com o sistema
imune materno, stress por viagens e manejo inadequado.
b) Condições do
parto
– As distocias levam a traumas diretos ou indiretos no potro,
asfixia neonatal e hemorragias intrcranianas.
– Um cordão umbilical curto poderá se
romper antes da saída do feto e sua primeira respiração levando á asfixia. Um cordão longo
poderá se enrolar a algum membro e também se romper internamente, levando á mesma
situação.
– O descolamento prematuro da placenta causa falha na circulação
sanguínea e asfixia. Uma placenta pequena está associada á falta de vilosidades (unidade
anatômica circulatória) e uma placenta pesada está associada a infecções bacterianas e a
edema.
– O uso de alguns medicamentos depressivos durante os procedimentos do parto
causam também depressão respiratória e circulatória, levando a hipotensão
fetal.
c) Condições do potro neonato
– Dentre as
condições inerentes ao potro estão aspiração de mecônio (a asfixia leva o potro a defecar
ainda no útero), gestação de gêmeos (diminuição da área placentária e conseqüentemente do
fluxo sanguíneo causando subdesenvolvimento fetal), potros órfãos, atraso na ingestão de
colostro (levando a diminuição da imunidade passiva), stress neonatal (leva á diminuição das
células intestinais que absorvem os anticorpos causando falha na sua absorção) e potro
prematuro.
FALHA NA TRANFERÊNCIA DE IMUNIDADE PASSIVA
(FTIP)
Devido ao mecanismo de transferência da imunidade passiva em potros
já ter sido anteriormente descrito nas partes I e II, focaremos agora as causas que
interferem na aquisição de uma boa imunidade e seus possíveis
tratamentos.
a) Causas
– Falha da glândula mamária em
produzir e concentrar anticorpos (IgG) 4 a 2 semanas antes do parto. A lactação precoce
também leva a esta falha, pois o colostro é substituído pelo leite em 12 horas.
– O
pico de absorção da IgG é atingido 6 a 12 horas após a primeira mamada. Se ocorrerem fatores
que levem a uma má absorção, como stress ou administração de inócuos orais, a imunidade
ficará debilitada. A eficiência da absorção das células é máxima logo após o nascimento (22
%) e de 1 % após 24 horas.
– Anormalidades musculoesqueléticas ou traumas não
permitem o potro se levantar e mamar.
b) Diagnóstico (ver parte
II – Imunidade) c) Tratamento
– Potros com menos de
12 horas de vida: fornecer colostro via oral. É imperativo que o colostro seja de boa
qualidade. Como regra geral o potro deverá receber de 2 a 3 litros de colostro nas primeiras
24 horas de vida. Poderá ser fracionado em porções de 300 ml com intervalos de 1 hora. Apesar
da absorção diminuída, teremos uma proteção local do aparelho digestivo.
– Potros
com mais de 12 horas de vida: a absorção de IgG estará nos seu nível mínimo, e a correção da
falta desta através de colostro será pouco eficaz. Então a suplementação de IgG deverá ser
realizada intravenosamente através de plasma hiperimune de origem comprovadamente confiável.
A desvantagem deste método é a concentração desconhecida de IgG e o risco de choque
anafilático, principalmente pelos grupos sanguíneos Aa– e Qa–, comumente associados com
isoelitrólise. A quantidade de plasma a ser administrado varia de 1 a 2 litros de
plasma.
INFECÇÃO NEONATAL
– A septicemia e a infecção
local são as principais causa de morbidade e mortalidade em potros neonatos. As tentativas de
redução das perdas por estas infecções deverão envolver a prevenção da FTIP, identificação do
potro de alto–risco e seleção de uma estratégia terapêutica adequada.
– A Infecção
neonatal poderá ser adquirida no útero (placentite, infecção materna via sangue), durante o
parto (portas de entrada a mucosa oral, inalação de aerosóis, contaminação umbilical,
manipulação excessiva e sem higiene do trato reprodutivo da égua, aspiração do mecônio) e
após o parto (FTIP, ambiente sujo com pouca ventilação, doenças endêmicas)
– Os
agentes causadores mais comuns são Rotavírus, Rhodococcus equi, Streptococcus sp e
Staphylococcus sp.
– As principais afecções são, na ordem de ocorrência, pneumonia,
poliartrite, enterite, úlcera gástrica, peritonite, nefrite e pleurisia.
– Os
sinais clínicos incluem letargia, mamar fracamente, temperaturas superiores a 39° C ou menor
que 37,5° C, mucosas congestas, alteração do ritmo respiratório e aumento da freqüência
cardíaca (> 120 bpm). Mais raramente convulsões e claudicação.
– O diagnóstico é
realizado com base nos sinais clínicos e hemograma, além de avaliação clínica
veterinária.
– O tratamento tem como base principal o uso de antibióticos de amplo
espectro, e medicação sintomática suporte como melhoradores da ventilação e
antiinflamatórios. Exames laboratoriais poderão ser realizados para se determinar que
antibiótico terá melhor resultado. Enquanto se espera, poderão ser usadas Cefalosporinas
(Ceftiofur), Penicilinas, Sulfas ou Aminoglicosídeos (Gentamicina).
– A duração e
prognóstico dependem do status clínico e do tipo de infecção
diagnosticada.
OUTRAS AFECÇÕES
Outras alterações
patológicas poderão ocorrer decorrentes de do que já foi relatado. Apesar de menos
freqüentes, não são menos importantes, mas nos levariam a um longo capítulo. Então, apenas
para constar cito a Asfixia neonatal, Síndrome hipóxico–isquêmica (mal ajustamento causado
por falta de oxigenação durante o parto levando a edema cerebral), Isoelitrólise neonatal
(anticorpos colostrais que atacam as hemácias do potro) e Síndrome cólica. Em todas elas é
recomendada a presença de um veterinário apto a dar o suporte clínico necessário.
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