Colunista:
Veterinária a
galope, por Dr. Francisco Lança 11/12/2008 - 21h16min
O PARTO DA ÉGUA E SUAS POSSÍVEIS
COMPLICAÇÔES – Parte II
A complicação mais freqüente durante o parto é a
distocia, sendo definida como parto difícil onde condições de origem materna ou fetal impedem
a passagem e saída do feto através do canal do parto. Entenda–se por canal do parto todas as
estruturas maternas locais como cérvix, vagina e osso coxal (vulgo bacia). A distocia
pode ter outras conseqüências graves após a sua resolução e é este o tema que será agora
abordado.
DISTOCIA
– A incidência da distocia nas éguas PSI é
de 4% e geralmente é devido ao mau posicionamento fetal.
– O diagnóstico é realizado
através dos sintomas como não expulsão do feto em 20 minutos após a ruptura da bolsa, e por
palpação, onde é constatado o posicionamento errado do feto.
– Os principais desvios
são:
(a) com apresentação dos membros anteriores: flexão carpal
(membros anteriores dobrados), flexão da paleta (membro anterior esticado para trás), desvio
lateral da cabeça e pescoço, desvio ventral da cabeça (cabeça dobrada para baixo),
hiperflexão tarsal (membros posteriores esticados até á cabeça), posição de “cão–sentado”,
apresentação ventral transversa (quando o corpo faz um “U” e apenas aparece o dorso no canal
do parto).
(b) com apresentação dos membros posteriores: flexão dos
curvilhões (membros posteriores dobrados), flexão da bacia (posição de “cão–sentado”
reversa).
– O tratamento tem como objetivo o reposicionamento do feto e visa salvar
sempre mãe e feto. Caso isto não for possível, a opção por mãe ou feto deverá ser tomada
dependendo da situação encontrada.
– Durante o processo de manipulação obstétrica,
poderão ser utilizados sedativos e anestésicos gerais. Também deverão estar presentes
instrumentos obstétricos como correntes e apoiadores para tração do feto. Em último caso, a
cesariana é o recurso final para a resolução da distocia.
– O autor é da opinião que a
manipulação deverá ter duração máxima de 90 minutos. Depois disso a cesariana é indicada e
tem bons resultados pós–cirúrgicos. A prática da fetotomia (amputação de partes corporais do
feto) poderá causar seqüelas irreversíveis e incapacitar permanentemente a égua para a
reprodução.
MANIPULAÇÃO DA DISTOCIA
– Procedimentos higiênicos
deverão ser tomados, como limpeza da área e limpeza das mãos do operador e, se possível, com
uso de luvas. Logo em seguida deverá ser verificada a viabilidade de feto e égua para se
executarem todas as alternativas possíveis.
– O local a ser realizada a manipulação
deverá ser amplo para que acidentes com operadores e animais não ocorram.
– As
contrações uterinas deverão ser minimizadas para se facilitar o acesso ao feto e
reposicionamento do mesmo. A égua deverá ser sedada, ou até mesmo passar por anestesia geral
para que sejam atingidos estes objetivos.
– O uso de lubrificantes é controverso, já
que apesar de auxiliarem a passagem do feto, poderão reduzir o atrito para futura tração a
ser executada após o reposicionamento.
– O instrumental obstétrico deverá ser
utilizado criteriosamente e deverá estar esterilizado. Quanto usado agressivamente, constatar
primeiro o óbito do feto.
– Quanto á tração, deverão se tomar alguns cuidados para não
ocorrerem lacerações na égua. A tração é mais facilmente aplicada simultaneamente á contração
uterina. Por vezes a tração leve e contínua é mais efetiva que uma tração forte e
intermitente.
– A manipulação é extremamente facilitada quando a égua estiver
anestesiada e colocada em uma talha. Este instrumento permite com que se elevem os membros
posteriores, permitindo com que o feto e vísceras da égua tenham um deslocamento cranial,
dando maior espaço interno para manipulação. A cesariana, segundo o autor, é a
segunda opção a ser tomada, sendo a última a fetotomia (quando não existem condições para se
proceder á cirúrgia).
COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS Á
DISTOCIA
Trataremos aqui as conseqüências relacionadas apenas á égua, como
seguem.
– Retenção de placenta: se a placenta não for expulsa em 2 horas é considerada
retida. Este processo poderá levar a outras doenças sistêmicas. O tratamento desta patologia
tem base na administração de ocitocina, tração contínua por gravidade ou enchimento uterino.
O uso de antibióticos é aconselhado para evitar processo infeccioso, além de lavagens
uterinas, para retirada total dos restos placentários, e anti–inflamatórios para amenizar dor
e processo inflamatório.
– Metrite: infecção do útero. Deverão ser realizadas lavagens
uterinas diariamente até remoção de todo o conteúdo. Uso de antibióticos intra uterinos e
sistêmicos e anti–inflamatórios.
– Endotoxemia: é a presença de toxinas na circulação
sanguínea devido a uma infecção pré–existente. Os procedimentos são os mesmos para retenção
de placenta e metrite. Deverá se considerar o uso de soluções eletrolíticas,
anti–inflamatórios e outros agentes anti–endotoxemicos.
– Laminite: é a inflamação das
lâminas do cascos. Neste caso a terapia visa a prevenção através dos procedimentos acima,
pois são a causa direta desta afecção. Quando já instaurado o processo, o tratamento visa
reativar a circulação do casco e evitar a rotação da 3ª falange.
– Prolapso uterino: o
útero é por vezes expulso após o parto. A égua deverá ser sedada, realizada uma epidural e o
útero limpo e recolocado através da vagina para sua posição original.
– Hemorragia: a
hemorragia poderá ser causada por rompimento de uma artéria (ilíaca ou uterina). O tratamento
indicado é o cirúrgico e o prognóstico é severo. Tentativas “heróicas” são contra indicadas,
pois poderão expor o animal a um sofrimento desnecessário.
– Laceração reto–vaginal:
ocorre em partos não observados onde o feto rompe vagina e ânus tornando–os uma abertura
conjunta. Dependendo do grau de lesão, as medidas poderão ser curativas ou cirúrgicas, ou
ambas.
– Outras seqüelas com menos incidência são laceração da cérvix, necrose
vaginal, retardo na involução uterina, hematomas vaginais, prolapso retal, constipação
intestinal e cólica.
Na próxima coluna abordaremos os cuidados a serem tomados com o
potro recém nascido.
Dr Francisco Lança: francisco@byvet.com.br
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