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Colunista:

A criação em foco, por Priscila Beloch
06/11/2008 - 14h38min

Para a coluna deste mês, entrevistei Fabio Capua, filho de Julio Capua, o pioneiro “turfman” que construiu o primeiro e modelar Centro de Treinamento de cavalos de corrida do Brasil – o Vale da Boa Esperança. (As fotos ilustrativas são da época da inauguração do CT).

Em 1972 quando do falecimento do fundador, o haras passou a ser alugado a terceiros, passando por lá proprietários como: os irmãos Peixoto de Castro, José mariano Camargo Raggio, José Carlos Fragoso Pires, Elias Zaccour, Gonçalo Torrealba, Antonio Carlos Lemgruber, Alfredo Grumser, entre outros.

Em 2005 a família decidiu assumir a responsabilidade pelas atividades do haras, ficando Fabio na sua direção, contratando em seguida Joaquim Carvalho como surpevisor que acumulou excelente experiência na manutenção da pista, lá exercendo o mesmo cargo durante nove anos iniciando com o treinador João Luis Maciel, terminando com a saída de Antonio Carlos Lemgruber e se tornando figura muito conhecida e querida no meio.

Imediatamente, foi iniciada a troca de mais de 80 moirões e 150 réguas tanto da cerca interna quanto da externa, a compra de 5 caminhões de areia, a reconstituição da tela  e do muro de proteções ao escape da areia do seu contorno, além de reforma de mais de 60 boxes, do combate sistemático e  mensal a insetos em todo o centro, e da aquisição de um novo partidor para treinamento de potros. Assim, a pista e o haras de modo geral ficaram em perfeitas condições de uso.

O CT que completa este ano 42 anos – já desmentido os boatos (falsos) de venda e término de atividades –, continua a funcionar a pleno vapor, nunca tendo interrompido suaa atividades. No momento estão lá alojados os animais dos treinadores Claudia Cury, Ronaldo Lima e Juan Marchant, havendo cerca de 80 boxes disponíveis. O CT prima pela qualidade de sua pista e instalações, além da vantagem da altitude, temperatura e por ser o mais perto do Hipódromo da Gávea (106 km de portão a portão) com estrada asfaltada até sua entrada.

De todos os treinadores que lá estiveram o que mais se destacou foi o falecido João Luis Maciel. Durante os 10 anos em que lá treinou, venceu mais de 120 grandes prêmios (uma média de um GP por mês). Com o cavalo Much Better em 1994, venceu os GPs. 16 de Julho, Brasil, São Paulo, Pellegrini, Latino Americano entre outros. O GP. Brasil venceria ainda com Falcon Jet em 1992 e com Carteziano em 1988. Alem desses, passaram também pelo seu treinamento corredores como Sandpit, Montenegro, Suspicious Mind e Indian Hope, constituindo–se na mais contundente prova da excelência da pista do CT e do acerto do seu idealizador e fundador.

Nesta entrevista, você saberá mais sobre Julio Capua e sua dedicação aos cavalos de corrida, e ainda o que o levou a construir o CT.

Priscila – Muitos conhecem Julio Capua como um pioneiro do turfe brasileiro, por ter construído o Vale da Boa Esperança, primeiro centro de treinamento de cavalos de corrida do Brasil. Mas também havia Julio Capua, grande empresário. Fale mais sobre ele?

Fabio – Julio Capua era um homem ousado que gostava de desafios. Além do pioneirismo no turfe onde construiu o primeiro centro de treinamento, fundou e construiu também a única fábrica de cimento branco no País: “Cia de Cimento Portland Branco Irajá” por volta dos anos 50, gerando grande economia de divisas, já que o cimento branco era, até então, importado. Além disso, foi também pioneiro na construção de edifícios em estrutura metálica, introduzindo a nova tecnologia no Brasil quando construiu o Edifício Avenida Central, no Rio de Janeiro, que não era só o primeiro construído no nosso país nesse tipo de estrutura, como também, na época o maior da América Latina, sem que houvesse necessidade de se importar “um único parafuso”. Tudo foi planejado e construído com o apoio das siderúrgicas em Volta Redonda.

Priscila – E como ele despertou seu interesse por cavalos?

Fabio – Seu interesse por cavalos começou quando ainda era solteiro,  na Sociedade Hípica Brasileira, onde praticava o hipismo e onde conheceu sua futura esposa, Marília. Posteriormente passavam fins–de–semana na casa de seu sogro em Petrópolis, mas devido à sua asma, a umidade da cidade serrana, não lhe fazia bem e começou a procurar áreas próximas que não fossem tão úmidas...

Priscila – ... daí ele encontrou o Vale da Boa Esperança?

Fabio
– Sim, pouco depois descobriu e se encantou pelo Vale da Boa Esperança, em Itaipava. Com sua alma de construtor, afastou morros e deslocou rios para construir uma casa e um centro hípico com um picadeiro coberto maior que o da Sociedade Hípica Brasileira. Nesse momento se inicia seu interesse por cavalos de corrida, passando a adquiri–los importando–os da França e Inglaterra.


Rieck, importado da França


Bold Molly, importada da Inglaterra, égua fundadora da criação Capua

Priscila – E foi aí que seu pai começou a criar?

Fabio – Sim, mas ao contrário da maioria dos criadores da época, Julio Capua nunca teve mais do que onze reprodutoras em seu plantel , fiel ao lema de que qualidade era mais importante que quantidade.

Priscila – Uma qualidade indiscutível – quais foram os principais animais criados por Julio Capua?


Piquete



Acima: Sabinus, grande estrela da criação Capua

Fabio – Hypério (pai de Sabinus), Goytacaz, Sabinus, Parnaso, Princesita, Robie, Talon, Polyway.... Sabinus correu o  Washington DC Internacional Stakes, nos EUA perdendo o 4° lugar no “photochart”, na melhor colocação de um cavalo brasileiro na prova. Um de seus filhos, Daião, ganhou o GP Brasil. E também, teve um neto materno campeão da mesma prova, Troyanos.

Priscila – Como Julio Capua aprendeu e aplicou seus conhecimentos na criação e treinamento?

Fabio – Por ter feito seu curso de Engenharia Civil nos EUA, dominava muito bem o idioma inglês, podendo assim ler e estudar sobre os grandes criadores de cavalos de corrida. Logo descobriu o italiano Federico Tesio e a partir das pesquisas desenvolvidas por esse grande estudioso de cavalos, desenvolveu sua própria idéia de que um centro de treinamento para cavalos de corrida em Itaipava seria um passo inteligente, inovador, criativo e à altura dos desafios que ele gostava de enfrentar. Tudo foi analisado: desde a altitude de Itaipava em relação ao nível do mar, o clima seco, a distância do Jockey Club, no Rio de Janeiro, chegando até à pureza da água no Vale da Boa Esperança. O que foi mais determinante nos estudos de Federico Tesio foram suas pesquisas que mostravam que um cavalo vivendo e treinando em uma razoável altitude em relação ao nível do mar, produzia mais glóbulos vermelhos, portanto mais resistência que outro vivendo e trabalhando ao nível do mar. Logo se a corrida fosse ao nível do mar, o cavalo que chegasse da montanha horas antes do páreo teria enorme vantagem sobre os concorrentes. Hoje, a teoria é utilizada em larga escala até por maratonistas, mas na época ninguém sabia sobre sua aplicação em cavalos, não fosse pelos estudos de Tesio.

Priscila – E o Centro de Treinamento, como foi o início? Foi uma construção tranqüila, ou passou por alguns obstáculos até chegar ao idealizado?



Fabio – Após adquirir uma área vizinha ao centro hípico e novamente afastando morros e deslocando rios, uma área plana de aproximadamente 400.000 metros quadrados foi conseguida para a construção da pista além de cocheiras, residência do treinador e demais benfeitorias para dar suporte ao centro de treinamento.

Começaram a partir deste momento grandes desafios e problemas próprios de qualquer idéia pioneira, como, por exemplo: o formato da pista e a mistura ideal da areia. A primeira pista construída tinha o formato de uma “pêra”. Antes de testá–la era preciso encontrar a mistura ideal da composição da areia, sua altura, densidade e levando sempre em conta a necessidade de haver uma excelente drenagem.  Após exaustivos testes, foi encontrada a mistura ideal, abrindo caminho para iniciar o treinamento com cavalos. No entanto, logo no primeiro trabalho forte, um dos cavalos sentiu e mancou. Preocupado que alguma coisa estivesse errada com o formato da pista, Julio Capua resolveu consultar o departamento de engenharia do hipódromo de Kentucky, nos EUA, enviando plantas da área e perguntando qual o formato ideal de uma pista de treinamento dentro das limitações da área e do local. A resposta veio rápida: Duas retas e duas curvas medindo pela cerca interna 1100 metros. Imediatamente a “pêra” foi desmanchada e iniciada a construção das duas retas e duas curvas. Para isso foi preciso implodir a dinamite uma montanha de pedra. Devido ao atraso e ao custo proibitivo de dinamitar toda a montanha, a pista ficou com um ponto cego, quando por alguns segundos os cavalos passam por trás da pedreira que permaneceu.



Priscila – Como Julio Capua encontrou o treinamento ideal?

Fabio – Essa foi sem dúvida a maior dificuldade a ser vencida, pois para o treinador brasileiro era inconcebível um cavalo correr sem passar pelo menos uma vez a distância da corrida, o que, devido ao traçado da pista e o número de curvas, era inviável. Diante da polêmica formada houve quem sugerisse que os cavalos fossem levados ao Hipódromo da Gávea apenas para passar a distância retornando no mesmo dia. Uma solução inviável não só pelos custos como também por interromper a permanência do animal na altitude que fora determinante para construção do C.T., baseada, como disse, nas pesquisas de Federico Tesio. Após muitos meses de pesquisa, inclusive em livros  estrangeiros sobre treinamento, Julio Capua juntamente com seu treinador Miguel Gil, chegou à fórmula que levou ao sucesso do CT Vale da Boa Esperança: galopes diários sem forçar para dar resistência, intercalados com partidas de no máximo 800 metros para abrir o fôlego e passando metade da distância da corrida. Obviamente havia adaptações dependendo da característica de cada animal e da distância da corrida. Diante da profundidade com que estudou treinamento de cavalos, Julio Capua fazia questão de fazer as planilhas semanais de treinamento de cada cavalo, juntamente com Miguel Gil.

Priscila – E como foi a pesquisa para se descobrir a hora ideal de embarcar os cavalos para o hipódromo?

Fabio – Sim, esta se resumiu em espionar pela fresta das cocheiras durante semanas a hora que os cavalos acordavam de fato. Descobriu–se então que todos estavam de pé e bem acordados entre 3 e 4 horas da madrugada, passando a ser esta a hora ideal de embarque para o Hipódromo da Gávea.

Priscila – Por fim, conte–nos sobre a Obra Social criada por Capua no Vale da Boa Esperança.

Fabio – Julio Capua, juntamente com sua esposa Marília, impressionados com a comunidade carente do Vale da Boa Esperança, onde naquela época crianças morriam de sarampo, adquiriu junto ao C.T. uma área de 150.000 metros quadrados, onde construíu a Assistência Social Santa Terezinha. A obra social é composta por duas igrejas, escola com capacidade para 300 crianças que cursam todo o curso primário, campo de futebol, área de recreação, e durante muitos anos assistência médica além de assistência religiosa extensiva a toda comunidade. A obra continua até os dias de hoje mantida pela viúva Marília Capua.

Para mais informações sobre o CT, suas instalações e aluguel de baias, contactar Fabio Capua pelo email fabiocapua@uol.com.br  tel.:(021) 2259–6114 ou Joaquim Carvalho pelo e–mail sanimal@compuland.com.br tel.:(024) 2222–5036 cel.(024) 92142619



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