Colunista:
Veterinária a galope, por Dr. Francisco Lança 29/10/2008 - 22h39min
MANEJO DE ÉGUAS PRENHAS –
Parte II
Causas da interrupção da gestação
Morte Embrionária
Precoce (MEP)
– A morte embrionária precoce (MEP) em éguas é um dos maiores
fatores de subfertilidade e redução de taxas de prenhez. É definida como a morte e expulsão
do concepto no período entre a fertilização e o 40° pós–ovulação.
– A incidência é
muito variável no PSI. Entre o dia da fertilização e o 14° dia, ela varia de 9 % em éguas
saudáveis a 50 % em éguas–problema. No caso destas últimas, uma proporção parece ter morte
embrionária mesmo antes do embrião chegar ao útero. A porcentagem de perda embrionária entre
os 14 e 40 dias é de 10 % em éguas saudáveis e de 22 % em éguas problema. No entanto, se
considerarmos o prazo da fertilização até os 40 dias, as taxas são de 20 e 70 % em,
respectivamente, éguas prenhas e éguas–problema.
– As causas de MEP são:
1)
fatores endócrinos, como baixas concentrações de progesterona pela sua baixa produção pelo
corpo lúteo e baixas concentrações de estrógeno produzido pelo embrião;
2) Ambientes
ovidutal e uterino impróprios, como salpingite e endometrites, ou presença de cistos uterinos
e fibrose das glândulas uterinas, levando á degeneração do embrião eqüino.
3) Idade
materna avançada, devido ao embrião destas éguas ter menor número de células
totais.
4) Cio do potro, por retardo na involução do útero após o parto.
5)
Stress de manejo, de transporte, por doenças infecciosas e dor excessiva.
6) Nutrição
inadequada, relacionada principalmente a baixo consumo de proteínas e energia.
7)
Exposição a altas temperaturas, que levam a dilatação cervical e conseqüente morte
embrionária.
8) Fatores iatrogênicos, como palpação retal errada ou uso excessivo de
ultrassom e administração de substâncias abortivas inadvertidamente.
9) Fatores
embrionários, como alterações genéticas.
– O diagnóstico de MEP é realizado através de
exame de ultrassonografia uterina, onde é constatada a ausência ou morte do embrião após um
primeiro exame de prenhez. Outras alterações ultrassonográficas são presença de líquido no
útero e sinais inflamatórios característicos. A presença do embrião com dimensões abaixo da
média e com forma alterada poderão ser sinais de futura morte embrionária.
– Como
prevenção e manejo, as éguas deverão ser examinadas semanalmente após a detecção da prenhez e
até 40 dias, para avaliar possíveis alterações uterinas e embrionárias e serem evitadas as
causas de MEP citadas acima.
– Como tratamento é indicado a suplementação com
progesterona exógena até o 150° dia de gestação na tentativa de manter não só a concentração
corpórea ideal, mas também para manter a tensão normal do útero, evitando relaxamento
cervical. O uso de anti–inflamatórios também tem sido indicado para bloquear substâncias que
levam á queda da progesterona e conseqüente morte
embrionária.
ABORTO
– O aborto é a perda da gestação após a
formação completa do feto. Geralmente se considera a morte e expulsão do feto após os 40 dias
de gestação. No entanto poderá ocorrer apenas a morte do feto e este ser retido no útero por
vários dias até sua mumificação e expulsão já decomposto.
– A taxa de aborto está em
torno de 8 a 15 % após os 50 dias de gestação.
– As causas são divididas em
infecciosas e não infecciosas.
1) Infecciosas:
– Herpesvirose
é a doença infecciosa mais comumente diagnosticada. A contaminação se dá através do ar pelo
vírus EHV–1, causando não só aborto mas também rinopneumonite e alterações neurológicas.
Geralmente a forma abortiva ocorre após o 7° mês de gestação e é responsável por cerca de 15
% de todos os abortos. No entanto existem relatos de isolamento do vírus em abortos com 90
dias de gestação. Quando ocorre surto em uma propriedade, a taxa de aborto poderá ser de até
70 % de todo o plantel de éguas prenhas. A prevenção se faz através da vacinação e isolamento
dos animais infectados.
– Arterite viral eqüina é uma doença que causa aborto em cerca
de 50 % das éguas infectadas. O vírus é transmitido pelo ar ou pela relação sexual, onde o
garanhão poderá não ter sintomas. A prevenção se faz através da vacinação dos garanhões e
isolamento das éguas afetadas. A vacina não é recomendada em éguas prenhas.
–
Placentite é a infecção da placenta via cérvix por bactérias e fungos. Os sinais são
característicos, onde a égua terá produção precoce de leite e poderá ou não apresentar
secreções purulentas pela vagina. O tratamento consta do uso de antibióticos,
anti–inflamatórios, melhoradores da circulação e progesterona. As taxas de sucesso dependem
da rapidez do diagnóstico, agente causador e dimensões da área afetada. Geralmente os potros
a termo são menores e propensos a infecções. A prevenção poderá ser efetuada através de
vulvoplastias para evitar a contaminação vaginal e higiene quando da manipulação
ginecológica. No entanto, algumas placentites tem origem via hematógena, ou são resultado de
um surto viral, onde as bactérias da flora natural vaginal realizam a contaminação
secundária. A intoxicação por toxinas de fungos presentes na aveia de baixa qualidade também
é um fator causador de aborto.
– Leptospirose ocasionalmente poderá causar aborto. Os
abortos ocorrem a partir do 6° mês de gestação. As éguas poderão apresentar sinais de
infecção e icterícia, assim como os fetos abortados. O diagnóstico é baseado em testes
sorológicos. As éguas infectadas poderão ser tratadas com antibióticos e anti–inflamatórios e
serem isoladas das restantes. A vacinação não é específica, mas poderá amenizar os surtos de
aborto pela Leptospira.
2) Não infecciosas
– Gêmeos. É uma
gestação bastante comum de ocorrer dentro do PSI devido a cerca de 30% das éguas terem
ovulações duplas. No entanto, com o uso do ultrassom, o diagnóstico precoce tem evitado a
evolução desta prenhez. Se levada adiante, ocorrerá o aborto a partir do 7° mês de gestação,
e os sintomas serão os mesmos de um parto normal, mas fora do tempo. Esta prenhez é
indesejada pois os fetos são sub–desenvolvidos, ou um deles com 70% do tamanho ideal e o
outro com 30% devido á placentação e alojamento dentro do útero. Neste último caso, o feto
maior poderá nascer fraco e o menor sempre morto. Mesmo assim, os cios de ovulações duplas
deverão ser usados. O tratamento implica no esmagamento de uma das vesículas embrionárias. O
autor tem experiência de melhores resultados com o esmagamento entre o 13 e 15° dia pós
ovulação. Quanto mais tempo passar, menores serão as chances de sucesso. No caso das
vesículas se encontrarem justapostas, examinar a cada 5 dias a égua e se não houver regressão
de uma delas até os 30 dias, é indicado o aborto por via química, através da aplicação de
prostaglandina, ou até mesmo pelo próprio esmagamento manual.
– Anormalidades
placentárias, como falha na formação de vilosidades para circulação sanguínea, são
conseqüência de alterações uterinas como fibrose de glândulas e atrofia de endométrio. Também
a formação de cordão umbilical com tamanhos exacerbados poderá causar aborto, já que muito
curto poderá levar ao rompimento durante a gestação e muito longo poderá sofrer torção e
impossibilitar oxigenação. Em ambos os casos ocorrerá morte fetal.
Concluindo, éguas
com histórico de aborto deverão ser cuidadosamente examinadas para avaliação de sanidade
reprodutiva e quando encontrados problemas, estes devem ser prontamente corrigidos.
Conformação vulvar anormal e endometrite predispõem a uma infecção placento–fetal durante a
gestação. A presença de fibrose uterina em exames de biópsia indicam alto risco de
aborto. A vacinação contra agentes infecciosos deverá ser rigorosa dentro de um plantel. A
utilização de progesterona é uma boa alternativa para manutenção da prenhez em éguas
susceptíveis de aborto, pois evita perdas embrionárias e fetais em éguas com disfunção
glandular.
No próximo artigo serão descritas as condições ideais pré–parto, para que
nossos potros nasçam de maneira apropriada e longe de riscos que possam interferir na sua boa
criação.
Dr Francisco Lança: francisco@byvet.com.br
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