Colunista:
Veterinária a galope, por Dr. Francisco
Lança 04/09/2008 - 13h39min
Devido ao constante progresso da criação do PSI no Brasil e no exterior e ao
alto nível competitivo e comercial imposto, tornou–se necessário o desenvolvimento
profissional na mesma proporção, apto a suprir tecnicamente as necessidades dos criadores e
proprietários, a fim de serem atingidas as metas e resultados desejados.
Para isso
ocorrer existem várias etapas do ciclo do cavalo atleta a serem acompanhadas pelos
profissionais, sendo a inicial, a reprodução.
Este item engloba não só a taxa de
prenhes das reprodutoras como também o porcentual de produtos nascidos. O resultado final da
temporada de monta acontece sempre no ano seguinte, com o nascimento do potro. Esta sim é a
real taxa de aproveitamento reprodutivo. No entanto, vários fatores influenciam este índice e
o sucesso depende da perícia com que são manejados.
Iniciaremos esta coluna abordando
o tema GARANHÃO e dando sequência á reprodução eqüina nas
próximas.
GARANHÃO
Para se facilitar o manejo durante a
estação de monta deverá se programar a utilização do garanhão quanto ao número de éguas a
serem cobertas. Para que isto ocorra terão de se realizar exames físicos e andrológicos antes
do início da temporada. Estes exames são úteis para identificar a capacidade reprodutiva do
animal. Os parâmetros para um resultado satisfatório do reprodutor durante a temporada são
1,5 saltos / égua prenha e 70% de prenhes no primeiro ciclo (primeiro cio de cada
égua). Seguem abaixo algumas sugestões de procedimentos práticos que poderão contribuir
com um resultado positivo.
A) Alimentação
1. Como
padrão, a ração de um garanhão deverá conter teores de 12 a 14% de proteína bruta, 3200 Mcal/
Kg de energia digestível, máximo de 2,0% de Cálcio e mínimo de 0,6% de
Fósforo.
2. O consumo deverá ser na quantidade de até 1,5% do peso corporal total
do cavalo, e dividido o em 3 refeições diárias com intervalos de 8 horas.
3. Os
garanhões devem estar em bom estado nutricional e com boa reserva energética. O sobrepeso
deverá ser evitado, pois o esforço na cobertura aumenta o desgaste energético e poderá
originar lesões ortopédicas.
4. Evitar mudanças na qualidade e quantidade da
ração a ser ministrada. Poderão ser utilizados neste período, precursores de ácidos graxos
poliinsaturados para aumentar em até 1,5 a concentração espermática, prática esta bastante
difundida.
5. Fornecer feno ou pastagem e água potável á
vontade.
6. Realizar pesagem semanal para evitar oscilações de peso durante a
estação, o que poderá afetar negativamente o desempenho para coberturas.
B)
Manejo
1. Manter o garanhão em ambiente limpo e
arejado.
2. Favorecer o pastoreio o máximo possível em piquetes
dimensionados.
3. Casqueamento e/ou ferrageamento regulares e por profissional
habilitado. O ideal é manter desferrado.
4. Vermifugação a intervalos de no
mínimo 2 meses e intercalando o princípio ativo e o laboratório.
5. Vacinação
contra as principais doenças (principalmente rinopneumonite) sempre antes do início da
temporada de monta, pois algumas vacinas poderão ocasionar desconforto (e até febre) e
resultar em queda da qualidade do sêmen.
6. Verificar semanalmente todo o corpo
em busca de possíveis ectoparasitas.
7. Favorecer o contato visual do garanhão
com outros animais da propriedade.
8. Manter rotina diária sem alterações
bruscas, com horários regrados.
C)
Coberturas
1. Estipular o numero de saltos diários de acordo com a
capacidade reprodutiva do cavalo.
2. Animais idosos deverão ter limitado seu
número saltos diários a no máximo 2 por dia.
3. Determinar um dia de descanso
semanal.
4. Cobrir éguas previamente rufiadas, evitando assim acidentes tanto nas
éguas como no garanhão.
5. Utilizar métodos de contenção que facilitem o manuseio
em caso de reação negativa por parte da égua ou garanhão.
6. Examinar as éguas a
serem cobertas, evitando doenças sexualmente transmissíveis, como Exantema Coital, por
exemplo, levando a um forçado repouso reprodutivo.
7. Manter o animal calmo
durante a monta, não forçando o salto nem a ejaculação.
8. Tentar padronizar a
altura da égua através de depressões no terreno ou degraus para o garanhão.
9. O
coito poderá ser facilitado através do direcionamento do pênis ou com o uso de lubrificante
vaginal.
10. Confirmar sempre a cobertura através de pulsos uretrais ou análise
microscópica do pós–ejaculado, pois alguns animais conseguem simular a
ejaculação.
11. Lavar o pênis apenas com água corrente após as coberturas, não
alterando a sua flora.
D) Exame andrológico
mensal
1. Verificam–se basicamente o volume do ejaculado, concentração
espermática (n° espermatozóides/ml), motilidade (movimentação progressiva), defeitos dos
espermatozóides e características morfológicas dos testículos.
2. As
características seminais divergem de um garanhão para outro, assim como a
fertilidade.
3. Auxilia na avaliação do sêmen e suas variações durante a estação,
levando assim a diagnósticos precoces e soluções terapêuticas imediatas.
4. Nos
haras onde o manejo reprodutivo é intenso, o exame andrológico poderá ser realizado
quinzenalmente, com o objetivo de se estabelecer uma curva baseada na concentração
espermática, propiciando assim excelente controle do sêmen e antecipando alterações bruscas
na taxa de fertilidade.
5. Exames bacteriológicos do pênis avaliam sua flora e
constatam a presença de bactérias nocivas ao aparelho reprodutor feminino.
E)
Fatores que afetam negativamente a performance reprodutiva de um
garanhão.
1. Idade avançada. Existe queda da qualidade espermática e
consequentemente da performance reprodutiva a partir dos 19 anos de
idade.
2. Libido. Animais com pouca libido são difíceis de manejar. Há a
necessidade constante de serem estimulados através de procedimentos audio–olfato–visuais ou
químicos. O excesso de libido também poderá ser prejudicial, já que poderá ocorrer fadiga
durante a estação.
3. Problemas físicos, como artrose em curvilhões, dor lombar
ou afecções crônicas em membros posteriores. A presença de dor poderá levar a ausência de
ejaculação e até mesmo da cópula.
4. Viagens. Principalmente nos animais em
sistema de “shuttling”, existe uma queda transitória e fisiológica na taxa de
fertilidade durante a temporada de monta.
5. Doenças infecciosas levam a quedas
bruscas na concentração espermática.
6. Dimensões penianas inapropriadas podem
levar a ejaculações exteriorizadas ou a traumas na parede vaginal da
égua.
7. Falta de condicionamento reprodutivo, ou seja, é necessário condicionar
o garanhão a ter o mínimo de pulsos ejaculatórios através de uma rotina reprodutiva
criteriosa.
É grande a influência do garanhão no resultado final da temporada de
monta. Um bom resultado está em torno dos 85 a 93% de prenhes aos 60 dias de gestação. É bom
relembrar que o cavalo é um animal que adora rotina. Por isso o manejo deverá ser o ideal e a
aptidão reprodutiva maximizada dentro da capacidade de cada haras.
Dr
Francisco Lança: francisco@byvet.com.br
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